Trinta e cinco anos pelo cano abaixo - Justino Pinto de Andrade

Trinta e cinco anos pelo cano abaixo - Justino Pinto de Andrade
 
1. Os últimos anos do co­lonialismo foram de um cresci­mento muito dinâmico da eco­nomia, que conheceu taxas de crescimento assinaláveis como, por exemplo, nas indústrias – quer a extractiva, quer a transfor­madora. A agricultura aumentou o seu grau de diversificação e era uma fonte de exportações. O sec­tor dos serviços estava em franca expansão. 
 
2. Mas…, éramos um povo colonizado. E todo esse cres­cimento revertia, sobretudo, a favor da potência colonial e dos seus representantes. Os angola­nos poucos benefícios retiraram desse crescimento da economia. Por isso – e por outras razões também – a Independência Na­cional tornou-se um imperativo. 
 
3. A Independência Nacio­nal foi o fruto do esforço conju­gado de vários actores e de su­cessivas gerações de angolanos, desde os tempos mais remotos da ocupação colonial. Tornou-se um facto a 11 de Novembro de 1975, o dia que passou a simboli­zar a vitória da gesta de todo um povo. 
 
4. Infelizmente, a bandeira da nova República ascendeu sob o troar dos canhões, uma ascensão a que se sucedeu um longo per­curso de lutas intestinas, alimen­tadas por intervenções estran­geiras de muitas proveniências. O nosso país transformou-se, então, num laboratório político, militar e social para múltiplas experiências. Usaram-se novos tipos de armamentos até se ex­perimentaram as mais sinistras engenharias sociais. Servimos, pois, de cobaias sociais e fomos engolidos na voragem da Guerra- Fria. 
 
5. Tornamo-nos no palco privilegiado para o confronto en­tre duas ideologias antagónicas e do interesse egoísta das princi­pais potências mundiais. Outros actores menos relevantes ao nível internacional também jogaram o seu papel, mas serviram, porém, de peões menores neste xadrez local. 
 
6. Vivemos os primeiros 16 anos como país independente sob um sistema de Partido Úni­co que se propôs construir um Estado de Progresso e de Justiça Social. Mas, goraram-se as ex­pectativas criadas. Na realidade, a Primeira República sequestrou constitucionalmente as nossas liberdades individuais e colecti­vas. 
 
7. Ao negar aos outros o direito de participação, o sistema de Partido Único também ajudou a alimentar a fogueira da Guerra Civil que sobreveio à declaração unilateral da Independência. No dia 11 de Novembro, cada uma das partes em conflito decidiu proclamar a sua independência, em nome do mesmo povo. 
 
8. Ao comemorarmos os 25 anos da nossa Independência estávamos ainda mergulhados numa Guerra Civil devastadora, se bem que vivendo, recentemen­te, num sistema político multi­partidário. 
 
9. Agora, ao comemorar­mos os 35 anos da queda do re­gime colonial, estamos de novo tomados por grande angústia. Desenha-se, e com contornos bem nítidos, o espectro do re­gresso ao regime político auto­ritário da Primeira República, mesmo que vestindo uma roupa­gem democrática. 
 
10. O regime autoritário que agora se exercita é, também ele, a negação dos direitos que a Primeira República tomou a ini­ciativa de sequestrar. Só que a Primeira República sequestrou os nossos direitos em nome de um projecto político com algu­ma base ideológica, mesmo que muito questionável… 
 
11. O actual sequestro dos nossos direitos não tem qualquer suporte ideológico. Ele responde apenas a um desejo íntimo e in­controlável de um maior mando pessoal. Ele representa a expres­são mais acabada da vontade de domínio absoluto sobre todas as alavancas do poder. Quer-se, as­sim, retirar mais facilmente do caminho tudo quanto seja empe­cilho, tudo quanto constitua um obstáculo aos desígnios egoístas de um núcleo muito reduzido de angolanos que se julgam fadados para mandar até ao limite, até quando estiverem em condições de transmitir o poder aos seus descendentes. 
 
12. Consuma-se, a cada dia, o novo sequestro utilizando as subtilezas ou mesmo as nor­mas explícitas da Constituição da República e as Leis Ordinárias que se lhe ajustam. Não se vis­lumbram, pois, momentos fáceis para os angolanos. 
 
13. Os 35 anos de indepen­dência provocaram, sem dúvi­das, uma profunda transforma­ção nos mais diversos domínios das nossas vidas. 
 
14. Nem tudo foi mau. Coi­sas positivas também se fizeram, como é lógico. Mas aquilo que mais chama hoje a atenção é o modo como os detentores do po­der político se enriqueceram em tão pouco tempo. Eles e os seus próximos, na maior parte das vezes em conluio com parceiros estrangeiros, muito dos quais de duvidosa configuração ética e moral. 
 
15. Ao tornarmo-nos inde­pendentes da potência colonial, tomámos nas nossas mãos a res­ponsabilidade pela condução dos nossos próprios destinos. Mas, faltou-nos a arte para usar essa responsabilidade para criar bem-estar para o povo. Usámo-la mal, e assim aprofundámos a divisão. Estamos a dissipar no luxo, no supérfluo, ou em projectos mal concebidos a riqueza que a natu­reza nos legou. 
 
16. Somos, sim, mais um Es­tado no concerto das Nações, onde temos voz e vez. Participamos também nas organizações inter­nacionais. Mas é desolador vermos como figuramos sistematicamente nos piores lugares nos rankings internacionais. Eles apontam-nos com maleitas várias, como um país de corrupção quase endémi­ca, onde se usa gratuitamente a violência contra os pobres. 
 
17. Neste país de 35 anos, ainda se atropelam os mais ele­mentares direitos humanos. Torpedeia-se o direito à manifes­tação, à greve, à reunião. Impera a cultura do enriquecimento sem justa causa e feito à custa do erá­rio público e do tráfico de influ­ências. Aprofunda-se a persegui­ção aos membros dos partidos políticos da oposição. Eliminam-se fisicamente os incómodos. 
 
18. Penso que usámos mui­to mal os 35 anos de idade. Podí­amos ser um Estado mais adulto e mais próspero. Perdemos 35 anos preciosos das nossas curtas vidas. Não há como os recuperar. Foram pelo cano abaixo… 
 
 
Fonte: SA  
 

 

Comentario

Diaspora

Monokaka de luanda | 21-11-2010

meu Sr Dentro valia pena afundar que desaparecer O Mpla é um partido sem futuro Eles levaram uma politica injusta e tribalismo causou muito sangue aos Angolanos e deu Avantagem aos estrangeiros que nada tem aver em território Angolana se um dia chegar a queda deste partido do Mpla vai a ver muita vingasa e muito sangue espalhado entre os dono da terra e os imigrantes politicos do Mpla," reflecte no que eu dise?

Cano abaixo e os ratos

Qualquer | 21-11-2010

Caso sómente o MPLA for nosso de quem será os outros partidos

trinta e cinco anos pelo o cano abaixo

cassulo | 19-11-2010

dr. deixe-me dizer-lhe uma coisa, tenho muito apreços por voce e tds aqueles que comuncam os mesmo ideais que o sr. só tem um se nao o sr. esta do lado erado da barricada. vem lutar connosco deste lada que a sua luta vencerá aí onde esta nunca vencerá, pode ficar a saber. vem fazer a luta dentro do MPLA que o seu verdadeiro partido e nao em partidos emprestado, o emprestado nunca é nosso e assim se manterá. o MPLA é seu e é nosso.

Re:trinta e cinco anos pelo o cano abaixo

De dentro. | 19-11-2010

O MPLA está afundar-se e quando sair do poder ficará pior que a FNLA aguarde e verás.

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