'Só os que lutaram pela Independencia merecem ser condecorados' - Entrevista com Dino Matross

'Só os que lutaram pela Independencia merecem ser condecorados' - Entrevista com Dino Matross

 

Como é que caracteriza os 54 anos da fundação MPLA?

 
É o resultado do trabalho profundo que foi sendo feito pelos militantes desde que um número pequeno de camaradas idealizaram o que seria Angola e constituíram este partido. Era na altura um movimento integrado por poucas  pessoas mas hoje já somos mais de quatro milhões de militantes. É uma trajectória suada, feita com sacrifício suor e muita persistência porque a luta não foi fácil. Hoje muita gente pensa que foi fácil mas não. Os inimigos da independência, internos e externos, eram muitos mas felizmente sobrevivemos e hoje o MPLA está aqui, de pé.
 
Depois da incursão pela ideologia marxista-leninista, entre 1977 e 1990, hoje pode-se dizer que o MPLA voltou às aspirações que nortearam a sua fundação? 
 
Até ao primeiro congresso em l977, o MPLA foi sempre um movimento integrado por operários, camponeses e intelectuais revolucionários na altura. Tinha como ideologia o patriotismo, o nacionalismo; todos para a luta sem distinção de raças, de tribos nem de religião. Depois do primeiro congresso optamos por uma ideologia marxista-leninista. Houve um movimento de rectificação que fez com que muitos militantes deixassem de o ser por causa daquela ideologia. Temos que reconhecer que aquilo prejudicou muito o nosso partido durante algum tempo. Mas hoje não temos vergonha de termos assumido aquela ideologia. Como resultado de uma profunda renovação interna chegamos à conclusão de que devíamos regressar às origens. E é isto que está a acontecer. Hoje o MPLA assume- se como um partido de massas e de quadros.
 
O MPLA está a preparar-se para resgatar o seu Programa Maior, elaborado em 1964. Em que condições se irá efectivar tal resgate, uma vez que alguns seus postulados já não são adaptáveis à realidade actual do partido e do próprio
país?
 
Quando falamos em resgate do Programa Maior do MPLA significa desenvolver o país porque não foi possível antes por causa da guerra pós-independência. O país não conseguiu atingir outros patamares por causa de guerra, em particular depois de 1992, que atingiu um nível de destruição nunca visto antes. Hoje temos que reconstruir tudo. O resgate do Programa Maior é possível no sentido de dar ao cidadão aquilo que merece. Chegou o momento de dar emprego, proporcionar condições de saúde e construir escolas. É um programa á longo prazo. 
 
Que lugar reserva hoje o MPLA aos seus fundadores?
 
Os fundadores hoje praticamente já não existem à excepção do camarada Lúcio Lara. Os que estiveram na base da fundação do MPLA já são falecidos. Mas preservamos o ideário por eles defendido. 
 
A ideia é que figuras como Mário Pinto de Andrade e Viriato da Cruz são pouco lembrados em momentos como este que marca 54 anos da fundação do movimento que eles criaram. Porquê é que nunca receberam qualquer  reconhecimento?
 
Nós já tivemos várias condecorações. Tivemos dos que participaram na clandestinidade, dos guerrilheiros e várias outras. Desta vez a condecoração cingiu-se àqueles que antes da independência do nosso país deram tudo para que esta aspiração dos angolanos não fosse destruída. É para aqueles que estiveram nos combates no Kinfangondo, no Ebo, no Moxico e em Cabinda que foram decisivos para a proclamação da Independência. Tem havido muita confusão sobre este assunto. Eu próprio não estive em nenhum destes combates e não fui condecorado. 

Só foi para os combatentes do MPLA, certo?
 
Como é que vamos lembrar aqueles que estavam a lutar contra nós? Estes que trouxeram os mercenários, que queriam colocar no poder pessoas que não tinham nada a ver com as aspirações do povo angolano, eram contra a  independência. Estes elementos, muitos deles ligados à PIDE devem ser condecorados? Estaríamos a cometer um suicídio. Temos que condecorar aqueles que permitiram a proclamação da Independência.
 
A data da fundação do MPLA foi motivo de alguma polémica por algum tempo; alguns dirigentes diziam ter sido no início dos anos 60. Já existe consenso sobre o assunto? 
 
O MPLA não vai mudar o dia 10 de Dezembro. Que alguém nos prove que não foi nesta data. Que apresentem uma outra data que o justifique. Porquê é que não se levantou este problema quando estavam em vida Mário Pinto de Andrade e Viriato da Cruz? Que perguntem os mortos. O manifestou foi feito por eles. O importante não é a data mas a existência do MPLA. 
 
Diz-se que em Angola para se ter alguma projecção económica e social tem de se filiar (necessariamente) a um partido político e de preferência o MPLA, quer comentar? 
 
Estas são vozes dos detractores do MPLA. Temos muitos quadros na área económica que não são do MPLA. No Ministério das Finanças e no BNA há elementos da FNLA, da UNITA e de outros partidos políticos que estão a trabalhar como quadros. Eu não sei por que é que se levantam estes problemas. 
 
Mas estão devidamente integrados do ponto de vista de qualificação profissional?
 
Nem todos podemos ser chefes. Só pode haver um governador do BNA e um ministro nos Transportes. Nós também para sermos chefes hoje fomos soldados. 
 
Contrariamente ao que se assiste noutros partidos, os membros do MPLA dificilmente abandonam as suas fileiras. Qual é o segredo? 
 
O segredo é que o MPLA tem uma política clara. Nós não lutamos contra o branco mas contra o regime colonial. Os que lutaram contra os brancos e contra os assimilados são estes partidos que hoje estão com dificuldades por causa da sua má política.
 
Mas existem garantias de que os “desertores” de outros partidos, que aderem ao MPLA, fazem-no de coração e não por um ou outro interesse?
 
Tudo isso pode acontecer. Cabe ao MPLA estar atento, sobre quem vem para o MPLA e cumpre o seu programa. Como durante a luta de libertação, a PIDE também infiltrou elementos seus no seio do movimento. O inimigo também procura implantar no nosso seio elementos de espia.
 
O congresso extraordinário dos anos 90 foi caracterizado pela reunião da grande família. O que é que nos reserva o próximo?
 
Isto aconteceu uma só vez e acabou. Na altura o Chipenda era um dirigente do MPLA desavindo. Deixou o partido juntando-se a FNLA depois criou também a sua frente de combate. Mas mais tarde voltou de novo para o MPLA. Fizemos aquele encontro da grande família com aqueles que, por várias razões tinham deixado de ser do MPLA. Mas isso acabou e não vai haver mais. O próximo congresso vai apenas tratar dos nossos problemas do dia a dia. Há muita especulação sobre isso mas nós não vamos cair nela. 

Mas há figuras importantes que se afastaram, de novo, do partido nos últimos anos e criaram também tendências, de alguma forma. O que será feito deles? 
 
Somos um partido que ouve e deixa as pessoas falarem como querem,  não vamos tramá-los. Mas aquilo que escrevem não tem nada a ver com o nosso pensamento político. As tendências no seio do MPLA já não existem. Acabamos com elas depois do último congresso. Há diferença de opiniões porque nem todos têm o mesmo pensamento. Mas isso não quer dizer que seja uma divergência que vai colidir com o partido. Temos a nossa democracia interna e ela vai se fortalecendo cada vez mais. Há pessoas que querem andar mais depressa do que o próprio pé que têm. Querem dar lições de democracia quando eles próprios não são democratas.
 
Corrupção, será levado à reflexão dos participantes ao congresso?
 
A corrupção é um fenómeno que existe em todas as sociedades e um partido como o nosso não pode deixar de o combater. As pessoas pensam que só porque o fulano é dirigente é corrupto e quando pedimos provas dessa acusação nunca as apresentam. Toda a gente, incluindo a oposição só fala no geral e nunca apresenta provas. Não vamos condenar pessoas injustamente. 
 
O MPLA tem alguma estratégia para ajudar a nova equipa indicada para governar Luanda? 
 
Todos nós temos que ajudar o actual governador. Governar Luanda não é tarefa fácil e uma pessoa só não pode fazer tudo. É preciso que todos nós ajudemos os governantes e o MPLA está aqui para dar o seu apoio. Mas não basta só o MPLA porque existem outros partidos políticos e várias organizações da sociedade civil. Podemos criticar desde que estas críticas sejam justas e que venham ajudar a melhorar. 
 
Na eventualidade de um dia se concluir ser a única figura a escolher para dirigir o MPLA, o senhor aceitaria o desafio? 
 
Porquê? O partido tem tantos quadros. Eu sou aquilo que o partido quer. Sou fiel ao meu partido e ao camarada Presidente e cumpro aquilo que me disser para fazer. Eu não tenho inspirações nenhumas e não gostaria que alguém me metesse isso na cabeça. 
 
Sobre a crise na Costa do Marfim, qual é a sua opinião?
 
Não posso falar em nome do MPLA mas penso que o povo da Costa do Marfim decidiu elegendo alguém para dirigir então vamos respeitar este alguém.
 
 
Fonte: Novo Jornal
 
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Comentario

Dino matross Maria vai Com as Outras

Ex-FAPLA | 15-12-2010

Foste muito infeliz Sr. Dino Matross.
És então um pau mandado. cumpre o que o teu presidente diz, estaja certo ou errado seja democratico, constitucional, patriotico ou até educativamente cristão. Maria vai com as outras

INSULTOS

Je Jé | 14-12-2010

De todo o artigo aproveitei duas palávras, Lúcio Lara.
Dos comentários, nenhuma.
Todos lutaram pela independência de Angola, mesmo os Salazaristas, os bufos e os omissos. Todos são igualmente responsáveis pelo descalabro que assola o país. Os filiados desde sempre, os comerciantes, os sem dinheiro, e, quem nunca se filiou mas expressava a sua idéia a um amigo, num café, num balcão, bêbado ou sóbrio. Ou alguém contribuiu com algum parecer milagroso? Nem idéia inovadora nem iniciativa alguma, original, isenta, genuína que tivesse feito Angola "ditar novos mundos ao mundo".
Contiua-se a menosprezar contributos mínimos de cultura negra. Para alcançar a independência, qualquer povo tem que ter uma cultura própria. De norte a sul, a diversidade cultural obriga-nos a ir muito mais longe do que se vai com a diversidade em pretp&branco, se é que alguém já se sente à capaz de lidar com esta última. Continuo a achar que ninguém ainda está apto a vivências naturalmente naturais com naturalidade natural naturalmente em habitats de negros onde haja brancos ou de brancos onde haja negros.
Onde andam os sobas?
Que dizem os Secúlos?
Será que morreram todos os meus amigos do tempo em que jogava com bola de bexiga, de pano ou de cauxu um futebol de branco contra preto? Na escola primária, grátis, eram tantos!!!!! No colégio, pago, era só um em duzentos, MAS NA ESCOLA grátis DA NHAREIA ERAM MAIS DE CINQUENTA negros e cerca de cinco brancos. Na escola da missão católica da Nhareia nem brancos havia.
Lamento que nenhum jogador da vida desse país nem quaisquer comentaristas da rede por esse wwworld a fora saiba inventar uma finta à moda do Garrincha.
Salva-se o Lúcio Lara.
Salvé Lúcio Lara.
Resilienceheheheheheheheheheh

E ainda se dizem patriotas.

Ninguem | 13-12-2010

Que pena de Angola! E' com esses politicos que o o pais tem sido governado. Gente sem escrupulos. Por isso elaboraram e votaram nesta constituicao descriminatoria. Releam a resposta da penultima questao! Ele mostrou que nao estao ao servico do MPLA muito menos do pais. Esta ao servico do presidente dele. A pergunta foi clara. "Na eventualidade de um dia se concluir ser a única figura a escolher para dirigir o MPLA, o senhor aceitaria o desafio?" E' claro que o jornalista quiz dizer se o MPLA (seus membros), os unicos legitimos, escolherem-no para substituir o PR. E ele diz, nem me metam isso na cabeca. A pergunta foi fruto da resposta a uma das anteriores perguntas em que ele mesmo disse que os fundadores ja todos se foram para alme do Lucio Lara. Entao, ele e' um dos poucos cotas que ficaram....

Perca de tempo tentar livrar este Macaco dos Piolhos

Diskette | 13-12-2010

Tipo discurso dum apparatchick que teima orfandade se um dia o inevitavel acontecer
E com este tipo de individuos que Angola nem sequer deveria contar.
Imaginem so um Carasco destes a discursar desta forma em 1961 para mobilizar os sobreviventes da Baixa de Caxange...

Ate se da o luxo de gozar com os mortos,
Parece que anda convencido de ele e imortal como o morto-imortal deles que ja jaz em parte(as outras ficaram na RURSS) no mausoleu

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