Samakuva: "Dos 80 inscritos para a Reunião do Comité Politico só seis é que se pronunciaram a favor do congresso"

Samakuva: "Dos 80 inscritos para a Reunião do Comité Politico só seis é que se pronunciaram a favor do congresso"
Entrevista de Ana Margoso
 
 

Há quanto tempo não é convidado pelo Presidente da República (PR) para falarem sobre o país?
 
Já não me recordo. Penso que estive com o PR na passagem de ano, senão estou em erro, estive na cerimónia de cumprimentos de fim de ano.
 
Certamente não deu tempo para conversarem sobre algumas questões pendentes dos acordos que foram assinando ao longo dos anos, saídos de Lusaka a Luena.
 
Em relação a este assunto eu tive várias conversas com o Presidente da República no decorrer destes anos todos, onde levantámos as questões pendentes dos acordos. Mas, paralelamente aos encontros com o senhor PR, onde abordámos esta questão, nós tínhamos uma delegação que fazia parte daquilo que chamávamos de mecanismo bilateral.
 
Este grupo de trabalho era composto por membros da UNITA e do Governo e destinava-se à implementação das tarefas pendentes dos acordos. Após as eleições de 2008, esse grupo foi unilateralmente extinto, dado por encerrado, e desde então nós procuramos ainda fazer os contactos com o executivo, através de vários canais, inclusive, através de correspondência.
 
A última correspondência feita neste sentido foi dirigida ao Governo Central, no caso ao PR, e a resposta que obtivemos, foi verbal e não por escrito, onde o emissário dizia que sim, o Sr. Presidente está informado sobre, mas de momento não há disponibilidade para resolver as situações. Então, estes assuntos continuam  pendentes, alguns deles, como deve imaginar, a causar problemas sérios.
 
Como está a questão dos ex-militares das FALA?
 
Refiro-me exactamente a este ponto. Não sei se o executivo tem a dimensão dos problemas que esta situação pode causar e não sei se o executivo tem a ideia do esforço que fizemos para conter os ex-militares a tomarem decisões que eles dizem querer tomar, que não são boas. Portanto, parece-nos que o nosso dever é evitar que haja problemas que possam perturbar a tranquilidade, mas não sabemos até quando podemos conter estas intenções.
 
Espero que os pronunciamentos do PR, que mais uma vez voltou a falar no sentido de velar pela vida dos antigos combatentes, ex-militares, não fique só em palavras. Gostaríamos de ver que estas palavras se traduzem em actos concretos, porque há aqueles que nunca foram desmobilizados e que não conseguem provar sequer que foram militares. Há outros que, tendo documentos de desmobilização, andam à espera que lhes paguem as suas pensões.
 
Por ironia, até são aqueles que mais necessitam, e são a maioria. Quando o Sr. PR vem com esta questão a público, quer nos dizer que tem consciência do que se passa. Agora, ele é chefe do executivo e fala, mas as coisas não acontecem. Nós vamos esperar acontecer, depois tiramos as nossas conclusões. 
 
Estamos a falar de disponibilidade financeira…
 
Sim. O PR tem um grupo de oficiais que trata desta questão, a carta foi endereçada através deste grupo, e a resposta não veio por escrito. A resposta veio através destes oficiais generais, um deles até é o senhor ministro do Estado, o general Kopelipa, que então dizia que o PR está ao corrente, mas que de momento não havia disponibilidade para resolver esta situação. Ao mesmo tempo, diz-se que a economia está boa, mas na prática nós estamos a ver o contrário. São as pensões que não são pagas, é o salário dos trabalhadores que atrasa, são os compromissos do executivo que não são cumpridos, enfim. 
 
O Congresso da UNITA sempre sai em 2011?
 
Tivemos uma reunião da Comissão Política (CP) recentemente, e como dizem os nossos estatutos, o presidente convoca o Congresso ouvida a CP. No calendário político do nosso partido, notei que a reunião da CP, que realizámos há quase dois meses, será a última antes do fim deste mandato, então havia a necessidade de ouvir a CP. Depois dos debates realizados à volta deste assunto, a CP concluiu que o Congresso devia ser
realizado tão cedo assim que estivessem reunidas as condições. Nós estamos a trabalhar no sentido de reunir estas condições para que o Congresso seja realizado brevemente. 
 
O presidente Samakuva vai concorrer à sua própria sucessão?
 
Eu já não falo mais disso. Porque quando eu digo que não concorro, recebo mensagens de todo o lado a solicitarem audiências para criticarem aquilo que eu digo. Quando digo que vou concorrer, se assim for o desejo da maioria, então há uma minoria ruidosa também que fala, que diz… Então é melhor não falar, vamos esperar para ver o que vai acontecer. 
 
Abel Chivukuvuku continua a dar mostras de querer assumir o destino da UNITA… 
 
Qualquer cidadão membro da UNITA em direito de estar na corrida. Aqueles que estiverem na corrida fazem-no por direito próprio. 
 
E como vão as vossas relações?
 
Não tenho problemas com ninguém.  O meu pai dizia que não se pode viver sem ter problemas com ninguém. Não é bom só ter amigos, é preciso ter também alguns inimigos. Eu, parece, que não tenho ainda inimigos. Agora, se me perguntar como estamos em termos das  nossas posições em relação a determinados aspectos, da vida do partido e do país, aí, naturalmente, vamos ter ideias diferentes com uma ou outra pessoa. Mas em termos pessoais, eu não tenho problemas, nem com o Abel, nem com qualquer outra pessoa. 
 
Nem com Paulo Lukamba Gato?
 
Como já disse, eu não tenho problemas com ninguém. São amigos, são mais novos do que eu, conhecemonos há muito tempo, temos andado juntos, trabalhamos juntos, não temos qualquer problema pessoal. Também as diferenças de ideias que possamos ter aqui e acolá, eu considero- as normais, salutares até. As pessoas, às vezes, especulam sobre as nossas relações, mas posso dizer que nós podemos ter ideias diferentes
sobre questões do partido e da vida nacional, mas considero isto normal.
 
A UNITA tem-se queixado de problemas  financeiros para realizar o Congresso em 2011 e aguentar eleições legislativas no ano seguinte. Como se encontra actualmente o partido em termos financeiros?
 
Isso não é segredo para ninguém. Se os membros da UNITA se organizam  para constituir uma firma, fazer alguma actividade lucrativa, são logo bloqueados. Se a UNITA tentar mobilizar-se para trabalhar é bloqueada. No entanto, a vida é uma luta e nós estamos a trabalhar seriamente para que possamos contornar estes obstáculos. 
 
A imprensa tem comentado muito nos últimos dias que alguns militantes da UNITA estão a ser hostilizados pelo facto de serem a favor do congresso. Fala-se no caso do secretário provincial da UNITA, no Kwanza Norte?
 
Alguma imprensa da nossa praça fala tanto que o PR já lhes chamou pasquins. Eu admiro e pergunto porque é que somos assim. Às vezes, penso que herdámos um bocado dos colonizadores. Agora já há escola de jornalismo aqui e eu espero que haja, de facto, um grande avanço neste aspecto.
 
Eu fiz seis meses de jornalismo, no meu curso de ciências sociais, e uma das coisas que aprendi é que não se pode publicar nada, sem se consultar a outra parte, acusada ou lesionada. Aqui não, as pessoas falam de boatos, escrevem sobre boatos… Há bom jornalistas nesta praça, não haja dúvidas, mas este é o estado dos nossos media. Estamos todos em crescimento e vimos os esforços que estão a ser feitos para crescermos também neste campo. 

Trata-se, portanto, de boato?
 
Sobre o que se especula, eu vi há  duas semanas um artigo que dizia que o nosso secretário no Kwanza Norte estaria a ser hostilizado porque defendeu a realização do congresso. Não foi o único, estarão todos a ser hostilizados ou só se escolheu o meu amigo Francisco Ebo, lá porque defendeu o Congresso?
 
A UNITA desde há uns anos procura melhorar aquilo que, desde o seu início, procurou fazer: implementar a verdadeira democracia nas fileiras do partido. E, quando nós vamos à CP, nos tempos da mata era Comité Central, ao Bureau Político ou ao Congresso, as pessoas falam mesmo. Falam e dizem aquilo que sentem e nunca houve problemas. Agora, curiosamente, nas matas as pessoas podiam temer o chicote. Aqui já  não há chicote, não há nada. Mas há aqueles que, quando chegam ao fórum onde devem falar, não falam e vêm cá fora depois falar sobre aquilo que não conseguiram falar nas reuniões. 
 
Foi esse que aconteceu com o secretário-provincial no Kwanza- Norte?
 
O caso do meu caro Ebo, ele exprimiu aquilo que não foi só o seu desejo, dizia ele, mas aquilo que foi a expressão dos membros do Comité Provincial do Kwanza- Norte. Nós queríamos ouvir, nesta reunião da CP, o que os militantes pensam, e devo dizer-lhe que dos 80 inscritos para este tema só seis é que se pronunciaram a favor do Congresso. Um retirou a sua inscrição, ficaram sete, e nove disseram que para eles tanto fazia. Portanto, se houvesse Congresso estava bem, mas se não houvesse também, estaria tudo muito bem.
 
Simplesmente achavam que se houvesse Congresso não se devia tocar na liderança. Portanto, porque perseguiríamos um número tão reduzido, para quê? O Congresso é algo estatutário, e as questões colocadas são algo compreensíveis. Porquê perseguir alguém por ter exprimido o seu desejo? Isto não se passa com a UNITA. Não é verdade.
 
O que existe são agitadores, que o fazem para criar turbulências. Nós sabemos, estamos calmos, curiosamente o Ebo até estava comigo quando saiu aquela matéria. 
 
Como vai a relação da UNITA com os outros partidos? Nunca mais ouvimos falar do Fórum de Concertação? 
 
Nós no passado falávamos com os outros partidos de uma forma formal. Tínhamos uma plataforma, que tratava de questões que dizem respeito à vida do país. Esta plataforma deixou de actuar em conjunto, estávamos sem reuniões, e posso mesmo dizer que deixou de existir, porque também tinha sido criada para um propósito pacífico, que era a Constituição. De modo que agora conversamos. Às vezes outros líderes de partidos nos pedem para conversar, outras vezes  somos nós que pedimos. Portanto, as relações são normais. 
 

Sei que este ano o presidente Isaías Samakuva esteve com Jota Filipe Malakito, na cadeia de São Paulo. Em que versou a vossa conversa e o que é que a UNITA tem feito ou poderá fazer pela sua libertação?
 
Nós encontrámo-nos com o Sr. Malakito na cadeia de São Paulo. Por espanto, ele já tinha escrito para nós várias vezes, aliás, escreveu para toda a gente. Escreveu para o PR, escreveu para os líderes partidários, para a Procuradoria, para a provedoria, enfim. Nunca tinha tido a oportunidade de estar com ele e encontrei-o, de certa forma, num estado degradante. Mais tarde, em Agosto, recebi aqui no meu gabinete  representantes do Sr.Malakito, que vinham pedir que a UNITA fizesse algumas diligências junto à Assembleia Nacional, e de outras instituições competentes para que se visse com justiça o caso do Sr. Malakito. Ora, isto passouse.Passado algum tempo depois, veio na imprensa que a UNITA estava a querer intrometer-se nos assuntos do PRS, que a UNITA queria perturbar a situação no leste de Angola. 
 
Como interpreta isso?
 
Invenções. Tive a oportunidade de abordar o presidente Kuangana, que se mostrou surpreso, pois também não sabia de nada. Portanto, deve ser alguém que se lembrou de dizer mais algumas coisas por aí.
 
Voltando ao Sr. Jota Malakito, gostaria de me referir à questão da justiça no nosso país, que devo mesmo dizer ser degradante. Conheço pessoas que são juízes, são procuradores da República, conheço as suas capacidades intelectuais, aquilo que estudaram, e não acredito que procedam como estão a proceder.
 
É de facto preocupante. Para aonde caminhamos? Subserviência? Medo ou crueldade? Porquê que mantém as pessoas nas cadeias sem julgamento, e às vezes até sem razão para estarem lá? O Sr. Malakito está a fazer o quê na cadeia? Acusado de quê? Os seus companheiros já fizeram petições para tudo quanto é lado, e ninguém responde. Nem o Sr. Procurador da República, nem a Assembleia Nacional. Eles e os outros. No meio de tudo isso, só podemos dizer aos angolanos que isto só acaba se mudarmos o regime. E, mesmo aqueles que estão  no regime, também precisam do  nosso apoio, precisam de ser libertados deste medo.
 
Estive recentemente numa conferência em Itália e um dos participantes era uma senhora que é Procuradora-geral do Botsuana. Quando abordámos questões do Estado de Direito, era impressionante a forma como aquela senhora falava do seu país. Uma procuradora-geral exprimia a sua autoridade conferida pela lei, pela Constituição do seu país. Aqui temos uma Constituição, confere-se uma autoridade aos órgãos judiciais e as pessoas não aproveitam. Estando naquele meio, como angolano, e eles sabendo do que se passa no nosso país, a gente até sente vergonha. Até olhamos para o lado a ver se há um buraco… Gostaria de fazer um apelo àqueles que servem o sistema judicial no nosso país: que haja dignidade.
 
Na sua opinião o sistema judicial em Angola está enfermo?
 
É só vermos o que aconteceu em Malange na semana passada. Pacíficos cidadãos, 15 no total, apanharam duas semanas de cadeia só porque no dia 11 de Novembro, à semelhança de outros do MPLA que envergaram camisolas do seu partido, envergaram camisolas da UNITA e por isso foram presos. Diz-se que cometeram crimes da assoada, porque teriam passado perto do local do comício com as suas  motorizadas. Mas, se de facto houve uns poucos que passaram aí uns 200 metros do local com as suas motorizadas, envergando camisolas da UNITA, esses desapareceram.
 
Mas o governador, naquele momento mandou deter todos os elementos que tinham vestidas as camisolas da UNITA, e foram recolhidos aqueles que foram encontrados com a camisola da UNITA. É essa a dignidade da nossa justiça.
 

Fonte: Novo Jornal 
 

 

 

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