Quando os donos do poder e do país temem a verdade - Luís Araújo

Quando os donos do poder e do país temem a verdade - Luís Araújo

 

Ninguém pode ver o seu nome nem as suas acções serem borradas por “más línguas” se o que disserem não corresponder à verdade dos factos. É cada um que se suja ou não, a si mesmo, com o que diz e o que faz.
 
Quando nos sentimos ofendidos pelo que dizem de nós estamos perante um crime de calúnia e ou difamação, o que deve ser tratado em fórum judicial adequado e não por instancias políticas sem competência para fazer justiça , muito menos em causa própria. Mas como têm a consciência de que em fórum judicial – verdadeiramente independente e imparcial – perderiam essaa causa, resvalam para o recurso à provocação política de mais desgraça, arte em que são mestres com bastantes provas apresentadas e, como se já não basta-se a desgraça a que hoje remetem a grande maioria da população de Angola, em salvaguarda do seu poder e rendimentos, pretendem agora agravar a situação a que o seu regime nos submete.
 
Em Angola, de modo apressado e claro, a situação agrava-se e ao mesmo tempo os detentores do poder em vez de adoptarem soluções de conformidade com a lei e com os nossos anseios, vêm a público com ameaças e o lançamento de confusão como fez recentemente o BP do MPLA chefiado por JES que não teve a dignidade de fazer as acusações vagas que o seu BP fez na sua qualidade de Chefe de Estado, já que é nessa qualidade que tem sido contestado e mesmo acusado de modo concreto por activistas cívicos e por lideres partidários.
 
Já não é a primeira vez que assim procede, o acto similar anterior foi o seu discurso na abertura do ultimo congresso do MPLA, em Dezembro do ano passado, 2009, quando acusou associações de desempenharem papeis próprios dos partidos políticos.
 
A história do MPLA está cheia de pronunciamentos similares que antecederam sangrias, tristemente célebres, com que historicamente foi sendo preservada a chefia do MPLA e do Estado.
 
Parece que não basta aos dirigentes do MPLA o enorme fardo de casos sujos de sangue, macabros, que trazem nas costas desde a época em que estavam no Congo quando foi assassinado Matias Migueis, a que (ex.) depois da independência juntaram o 27 de Maio e outros crimes ligados com a guerra civil entre o MPLA a FNLA e a UNITA. Notem que quem, aqui, diz isso foi das FAPLA e na ocasião do fim do colonialismo de entre os três movimentos escolheu o MPLA. Também, depois, foi preso pela DISA na Cadeia de S. Paulo, em Luanda. Portanto viu, viveu as coisas e ou ouviu-as também de outros que as viveram enquanto dirigentes e militantes do MPLA, alguns foram figuras das mais destacadas da luta de libertação nacional, já falecidos e que por respeito não cito agora aqui.
 
Também, mais recentemente, testemunhei violações dos direitos humanos e nos terreno desses cometimentos fui espancado, detido e depois levado a Tribunal de Polícia. Mais recentemente ainda fui vitima duma tentativa de assassinato, falhado porque revelado a tempo e denunciado à Policia Nacional que, apesar de estar na posse de dados que consideramos bastantes, até agora, não resolveu o caso, quando, no entanto, tem sido eficiente na identificação e detenção de outros criminosos como (ex.) é o caso dos assaltos recentes a bancos. Isso já nem espanto me causa.
 
Questões pertinentes que coloco a quem hoje de modo vago acusa outros (indivíduos e organizações) de serem contratados por estrangeiros sem os descrever nem aos ditos e actos de que os acusa:
 
Hoje quem é o aliado do tal de imperialismo que sob a liderança do BP o MPLA combateu no passado? Quem tem empresas e sociedades no Ocidente? Eventualmente responderão dizendo que o mundo mudou e eles também. É verdade, concordo, mas no que é que o mundo e eles mudaram? Não há mais cidadãs, cidadãos e países oprimidos nem explorados? O MPLA fez uma mudança do combate ao velho e carcomido imperialismo, afinal vigoroso, para se acolher nas fileiras da dita globalização numa época do mundo em que a elegância política é sinónimo de democracia e ou duma, bastante, “democracia”? Quem tem parcerias com aqueles que o MPLA sempre chamou de imperialistas e que agora são globalicionistas? Bastam estas questões por agora. Responda-nos Sr PR JES. Respondam-nos também os senhores mestres da Comunidade Internacional que sustentam o seu poder.
 
Memória e capacidade de indignação selectiva, assim como perfídia e falta de vergonha, são os males de que sofrem os dirigentes do MPLA.
 
O povo todo já sabe das coisas. Ninguém mais vai em conversas. O povo está a ficar cada vez mais crispado pela pobreza, repressão e exclusão a que se encontra remetido, ao mesmo tempo que testemunha a vida faustosa de alguns poucos no poder e ou dalguma forma articulados aos donos do poder em Angola, que enriqueceram da noite para o dia sem até agora nos terem explicado como foi que fabricaram essas fortunas faraónicas.
 
Por isso tudo, a cada dia que passa, torna-se mais óbvio que no futuro nos estão reservadas horas amargas, pois, como a maioria dos analistas, não tenho duvidas que é para uma resistência por direitos a que o poder está a conduzir o povo com a sua submissão a uma situação de ruína endémica. Qualquer acção, mesmo pacifica, com que o povo ouse afrontar a forma como o país vem sendo governado, será objecto de medidas draconianas. Deviam meditar sobre o provérbio africano que nos ensina que: “a ruína duma nação começa nas casas do povo”.
 
Ainda não estamos face a um Estado em que, de facto, impere a garantia e a defesa dos direitos que a Constituição acolhe nem da republica que instituída quando se dá o caso desses valores serem violados por quem detenha o poder. Caso contrário os titulares de cargos de comando das instancias de defesa do Estado, com essa competência, já teriam tomado as medidas legais e legitimas que a ordem do Estado de direito impõe e a que se devem subordinar.
 
Sem qualquer inibição afirmo aqui que a percepção que tenho é de que os que têm essa competência, neste momento, sem hesitações, ao invés de assumirem a imposição da ordem do Estado de direito a quem quer que seja que a subverta, a partir de fora ou de dentro do Palácio do Presidente da República,  certamente que defenderão os donos de sempre do poder que se vêm comportando como “donos do país”, que são aqueles que os nomearam para o exercício desses cargos de comando das instituições de defesa da Republica de Angola. Esta é a percepção que quase todas e todos os angolanos temos, a começar pelos próprios que hoje têm essa competência, assumam ou não que essa é a percepção objectiva.
 
O ocidente também já não espanta nem ilude ninguém. Hoje tantos da Comunidade Internacional, a começar pelas principais potencias do Mundo, não agem e na maioria dos casos fecham os olhos e comem junto com os “donos de Angola”. Guiam-se por interesses económicos como estamos cansados de denunciar. Esqueceram-se rapidamente dos valores que usavam para contestar os mesmissimos donos do poder desde sempre em Angola. A sujeira toda algum dia vai certamente ter que ser assumida por quem deve, mesmo que entretanto, com a sustentação do silencio cumplice da CI, mandem para os calabouços e ou mesmo calem definitivamente muitos de nós que ousamos o verbo e o gesto pacificos de denuncia. Essa cumplicidade terá efeitos temporários, não será eterna, algum dia vai ser-lhes cobrada, além de pelo povo angolano, pelos seus próprios povos e pelas instancias judiciais competentes. Não é só o Presidente do Sudão e quejandos que são autores de crimes contra a humanidade. Há muitos que têm responsabilidades directas e indirectas em crimes contra a humanidade por alguma forma de cumplicidade com ditaduras mesmo que se digam “democráticas”.
 
Têm que aprender definitivamente que Angola antes de ser um eldorado para exploração de recursos e mercado para os seus negocios é uma terra de seres humanos como as suas. Como ensinar-lhes isso de forma a que o aprendam duma vez por todas? Alguém nos pode sugerir algum método eficaz?
 
Angola um dia será um lugar bom para todas e todos vivermos, disso não tenho nenhuma duvida. Ninguém, nenhuma força, por mais poder que tenha conseguirá eternizar a situação que nos vem sendo imposta. Como o Mahatma Ghandi nos disse: todas as tiranias terminaram um dia. Faço votos para que em Angola se registem mudanças, de modo pacifico, com urgência.
 
 
EXIGE DIGNIDADE
 
 
Fonte: Angola resistente
 

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Comentario

O Exemplo seguido pelo nosso "iluminado" presidente José Eduardo dos Santos

principe | 09-09-2010


Maquiavel e o pensamento político.

Maquiavel (1469-1527) é um dos mais originais pensadores do renascimento, uma figura brilhante mas também algo trágica. Durante os séculos XVI e XVII, o seu nome será sinónimo de crueldade, e em Inglaterra o seu nome tornou ainda mais popular o diminutivo Nick para nomear o diabo, não havendo pensador mais odiado nem mais incompreendido do que Maquiavel. A fonte deste engano é o seu mais influente e lido tratado sobre o governo, O Príncipe, um pequeno livro que tentou criar um método de conquista e manutenção do poder político.
A vida de Maquiavel cobriu o período de maior esplendor cultural de Florença, assim como o do seu rápido declínio. Este período, marcado pela instabilidade política, pela guerra, pelo intriga, e pelo desenvolvimento cultural dos pequenos estados italianos, assim como dos Estados da Igreja, caracterizou-se pela integração das rivalidades italianas no conflito mais vasto entre a França e a Espanha pela hegemonia europeia, que preencherá a última parte do século XV e a primeira metade do século XVI. De facto, a vida de Maquiavel começou no princípio deste processo - em 1469, quando Fernando e Isabel, os reis católicos, ao casarem unificaram as coroas de Aragão e Castela, dando origem à monarquia Espanhola.
Maquiavel era filho de um influente advogado florentino, e durante a sua vida viu florescer a cultura e o poder político de Florença, sob a direcção política de Lourenço de Médicis, o Magnífico. Veria também o crepúsculo do poder da cidade quando o filho de Lourenço e seu sucessor, Piero de Médicis, foi expulso pelo monge dominicano Savonarola, que criou uma verdadeira República Florentina. Quando Savonarola, um fanático defensor da reforma da Igreja, foi também ele expulso do poder e queimado, uma segunda república foi fundada por Soderini em 1498. Maquiavel foi secretário desta nova república, com uma posição importante e distinta. A república, entretanto, foi esmagada em 1512 pelos espanhóis que instalaram de novo os Médicis como governantes de Florença.
Maquiavel parece não ter tido uma posição política clara. Quando os Médicis retomaram o governo, continuou a trabalhar incansavelmente para cair nas boas graças da família. O que prova que, ou era extraordinariamente ambicioso, ou acreditava de facto no serviço do estado, não lhe importando o grupo ou o partido político que detinha as rédeas do governo. Os Médicis, de qualquer maneira, nunca confiaram inteiramente nele, já que tinha sido um funcionário importante da república. Feito prisioneiro, torturaram-no em 1513 acabando por ser banido para a sua propriedade em San Casciano, mas esta actuação dos Médicis não o impediu de tentar novamente ganhar as boas graças da família. Foi durante o seu exílio em San Casciano, quando tentava desesperadamente regressar à vida pública, que escreveu as suas principais obras: Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, O Príncipe, A História de Florença, e duas peças. Muitas destas obras, como O Príncipe, foram escritas com a finalidade expressa de conseguir uma nomeação para o governo dos Médicis.
A extraordinária novidade, tanto dos Discursos como do Príncipe, foi a separação da política da ética. A tradição ocidental, exactamente como a tradição chinesa, ligava tanto a ciência como a actividade política à ética. Aristóteles tinha resumido esta posição quando definiu a política como uma mera extensão da ética. A tradição ocidental, via a política em termos claros, de certo e errado, justo e injusto, correcto e incorrecto, e assim por diante. Por isso, os termos morais usados para avaliar as acções humanas eram os termos empregues para avaliar as acções políticas.
Maquiavel foi o primeiro a discutir a política e os fenómenos sociais nos seus próprios termos sem recurso à ética ou à jurisprudência. De facto pode-se considerar Maquiavel como o primeiro pensador ocidental de relevo a aplicar o método científico de Aristóteles e de Averróis à política. Fê-lo observando os fenómenos políticos, e lendo tudo o que se tinha escrito sobre o assunto, e descrevendo os sistemas políticos nos seus próprios termos. Para Maquiavel, a política era uma única coisa: conquistar e manter o poder ou a autoridade. Tudo o resto - a religião, a moral, etc. -- que era associado à política nada tinha a ver com este aspecto fundamental - tirando os casos em que a moral e a religião ajudassem à conquista e à manutenção do poder. A única coisa que verdadeiramente interessa para a conquista e a manutenção do poder manter é ser calculista; o político bem sucedido sabe o que fazer ou o que dizer em cada situação.
Com base neste princípio, Maquiavel descreveu no Príncipe única e simplesmente os meios pelos quais alguns indivíduos tentaram conquistar o poder e mantê-lo. A maioria dos exemplos que deu são falhanços. De facto, o livro está cheio de momentos intensos, já que a qualquer momento, se um governante não calculou bem uma determinada acção, o poder e a autoridade que cultivou tão assiduamente fogem-lhe de um momento para o outro. O mundo social e político do Príncipe é completamente imprevisível, sendo que só a mente mais calculista pode superar esta volatilidade.
Maquiavel, tanto no Príncipe como nos Discursos, só tece elogios aos vencedores. Por esta razão, mostra admiração por figuras como os Papa Alexandre VI e Júlio II devido ao seu extraordinário sucesso militar e político, sendo eles odiados universalmente em toda a Europa como papas ímpios. A sua recusa em permitir que princípios éticos interferissem na sua teoria política marcou-o durante todo o Renascimento, e posteriormente, como um tipo de anti-Cristo, como mostram as muitas obras com títulos que incluíam o nome anti-Maquiavel. Em capítulos como «De que modo os príncipes devem cumprir a sua palavra» (cap. XVIII) Maquiavel afirma que todo o julgamento moral deve ser secundário na conquista, consolidação e manutenção do poder. A resposta à pergunta formulada mais acima, por exemplo, é que:
«Todos concordam que é muito louvável um príncipe respeitar a sua palavra e viver com integridade, sem astúcias nem embustes. Contudo, a experiência do nosso tempo mostra-nos que se tornaram grandes príncipes que não ligaram muita importância à fé dada e que souberam cativar, pela manha, o espírito dos homens e, no fim, ultrapassar aqueles que se basearam na lealdade».
Pode ajudar na compreensão de Maquiavel imaginar que não está a falar sobre o estado em termos éticos mas sim em termos cirúrgicos. É que Maquiavel acreditava que a situação italiana era desesperada e que o estado Florentino estava em perigo. Em vez de responder ao problema de um ponto de vista ético, Maquiavel preocupou-se genuinamente em curar o estado para o tornar mais forte. Por exemplo, ao falar sobre os povos revoltados, Maquiavel não apresenta um argumento ético, mas cirúrgico: «os povos revoltados devem ser amp**ados antes que infectem o estado inteiro.»
O único valor claro na obra de Maquiavel é a virtú (virtus em Latim), que é relacionado normalmente com «virtude». Mas de facto, Maquiavel utiliza-a mais no sentido latino de «viril», já que os indivíduos com virtú são definidos fundamentalmente pela sua capacidade de impor a sua vontade em situações difíceis. Fazem isto numa combinação de carácter, força, e cálculo. Numa das passagens mais famosas do Príncipe, Maquiavel descreve qual é a maneira mais apropriada para responder a volatilidade do mundo, ou à Fortuna, comparando-a a uma mulher: «la fortuna é donna». Maquiavel refere-se à tradição do amor cortesão, onde a mulher que constitui o objecto do desejo é abordada, cortejada e implorada. O príncipe ideal para Maquiavel não corteja nem implora a Fortuna, mas ao abordá-la agarra-a virilmente e faz dela o que quer. Esta passagem, já escandalosa na época, representa uma tradução clara da ideia renascentista do potencial humano aplicado à política. É que, de acordo com Pico della Mirandola, se um ser humano podia transformar-se no que quisesse, então devia ser possível a um indivíduo de carácter forte pôr ordem no caos da vida política.


1. O pensamento de Maquiavel visto pelo filósofo alemão Eric Voegelin
Artigo traduzido e condensado pelo Prof. Dr. Mendo Castro Henriques.
2. A Itália no século XV e XVI
Cronologia histórica da Itália na época das guerras.
3. Nicolau Maquiavel
Biografia.
4. O Príncipe
Extractos da mais célebre obra de Maquiavel.

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