Presidencialismo absoluto- Vicente Pinto de Andrade

Presidencialismo absoluto- Vicente Pinto de Andrade

 

1. A notícia segundo a qual o Presidente da Assembleia Nacional, Eng.º Paulo Kas­soma, decidiu a suspensão temporária de qualquer acção de controlo e fiscalização do Parlamento angolano sobre as actividades do Executivo foi ig­norada pela maioria esmagado­ra da nossa comunicação social. As grandes excepções terão sido o semanário «A Capital» e a Rá­dio Ecclesia, emissora católica de Angola. E mesmo assim, «A Capital» e a Rádio Ecclesia não lhe deram honras de primeira página. Isaías Samakuva, presi­dente da UNITA, durante a sua última conferência de imprensa, teve o mérito de não ter deixado passar em branco uma tão má notícia para a vida democrática no nosso País. Os comentários do deputado do MPLA, João Pinto, vieram, não só confirmar a no­tícia, mas também aumentar as minhas preocupações sobre o fu­turo da originalidade do «sistema parlamentar-presidencial ango­lano», quando afirmou que a le­gitimidade do poder legislativo é idêntica à legitimidade do poder executivo. 
 
2. Estou com Robert Dahl (De­mocracia, 1999) quando afirma que a tarefa de elaboração de uma nova constituição, ou de revisão de uma já existente, não deveria ser realizada de ânimo leve e “é tão difícil e complexa como dese­nhar uma nave espacial tripulada para investigar o espaço cósmi­co.” A tarefa de desenhar uma nave espacial não deve ser entre­gue a amadores, assim como “a concepção de uma constituição exige os melhores talentos de um país.” A grande diferença é que as inovações constitucionais im­portantes são para durar, e, por maioria de razão, exigem tam­bém a aceitação e o consentimen­to dos governados. Aparente­mente, tivemos a possibilidade de escolher, entre três alternativas constitucionais, aquela que deve­ria ter sido mais adequada para o futuro do nosso País. A prática começa a mostrar-nos que a solu­ção constitucional escolhida pela maioria dos nossos deputados é a que oferece mais riscos para a es­tabilidade política do nosso País. 
 
3. Reconheço que não foi tarefa fácil para os nossos deputados. A intervenção do Eng.º José Eduar­do do Santos marcou o rumo da discussão. Agora, a decisão do Eng.º Paulo Kassoma representa, sem dúvida, uma entorse na rela­ção entre o Parlamento e o Poder Executivo. Estamos perante o facto de que a nossa Lei Funda­mental é uma verdadeira obra de engenharia constitucional. Es­tamos a derrapar para o “presi­dencialismo absoluto”. A história política angolana aconselhava a escolha de um sistema de gover­no que garantisse, claramente, a separação de poderes. 
 
4. Há várias combinações possíveis de sistemas eleitorais e sistemas de governo. As demo­cracias mais antigas privilegiam a combinação de um sistema par­lamentar em que os membros são eleitos através de um qualquer sistema de representação propor­cional. Nas democracias de lín­gua inglesa, exceptuando os Esta­dos Unidos da América, a opção foi por um governo parlamentar com eleições através do sistema «First-Past-the-Post: o primeiro na linha de chegada» (FPTP). A opção americana traduz-se na combinação de um governo pre­sidencial com eleições FPTP e foi seguida por pouco mais de meia dúzia de países. A chamada op­ção latino-americana resulta da combinação de um governo pre­sidencial com eleições legislativas através de um sistema de repre­sentação proporcional. Os países da América Latina têm mostrado forte preferência pelo sistema de governo presidencial, embora as­sociado a um sistema eleitoral de representação proporcional. Em Angola, a escolha da maioria dos deputados foi, no fundo, a opção latino-americana, embora ajusta­da “aos sabores e gostos locais”. 
 
5. Nada justifica a suspensão da acção de controlo e de fisca­lização do Parlamento sobre as actividades do Executivo. Não colhe o argumento de que está em curso a elaboração de um instrumento legal que estabele­cerá um quadro normativo para o exercício da acção fiscalizadora da Assembleia Nacional. A op­ção por uma forma de Governo de concentração de poderes ou por uma forma com divisão de poderes é determinada pela na­tureza do regime político. E mes­mo naqueles países de sistemas com divisão de poderes, o fun­cionamento real da articulação dos diversos órgãos de soberania tem dependido muito mais da natureza do regime do que das prescrições constitucionais. Isto é, a relação existente entre os ci­dadãos e os respectivos órgãos do poder político é a grelha de análise apropriada para nos aper­cebemos do rumo de uma demo­cracia nascente. Corremos o risco de regressão democrática, se não estivermos atentos aos reais e po­tenciais malefícios do velho “pre­sidencialismo absoluto”. No pas­sado recente, os três movimentos independentistas, MPLA, FNLA e UNITA, viveram essa experiên­cia, que gerou ondas de violência. Hoje, temos que aprender com os erros do passado. 
 
6. A manutenção da “estabili­dade” democrática não é o único critério relevante para se obter uma boa constituição. A justi­ça na representação, a transpa­rência, a compreensibilidade, a sensibilidade e o governo eficaz, entre outros, também são impor­tantes. Contudo, do ponto de vis­ta democrático, não existe uma constituição perfeita. Todas as disposições constitucionais têm algumas desvantagens. Por isso é que o projecto constitucional ou a revisão exigem juízos acer­ca das soluções de compromisso aceitáveis entre os objectivos e os riscos e as incertezas da mu­dança. Ao longo da minha vida, acompanhei, e tenho acompa­nhado, o falhanço da “democra­cia presidencial”, nas repúblicas da América Central e do Sul. Acompanhei, e continuo a acom­panhar, o estrondoso falhanço do “presidencialismo absoluto” em África. Acompanhei a ascensão e a queda da maior parte dos regi­mes autoritários e totalitários na Europa. Essas são as razões que me levaram a partilhar a reco­mendação de Robert Dahl (De­mocracia, 1999), quando aconse­lha que “não seria uma má ideia se um país democrático reunisse, mais ou menos de vinte em vinte anos, um grupo de constitucio­nalistas, líderes políticos e cida­dãos informados para avaliar a sua constituição à luz não só da sua experiência, mas também do conjunto de conhecimentos em rápida expansão obtido a partir das experiências dos outros paí­ses democráticos.” 
 
7. A democracia é um conjunto de regras e de processos. Englo­ba, nomeadamente, o princípio da separação e equilíbrio de po­deres: poder executivo, legislativo e judicial; a dessacralização dos detentores desses poderes; a afir­mação e garantia dos direitos dos cidadãos; e a protecção da vida privada de cada indivíduo. A de­mocracia exige, evidentemente, a busca do consenso da maioria em relação ao respeito das insti­tuições e das regras democráti­cas. Para que a democracia possa instalar-se e consolidar-se, é ne­cessário que o maior número de cidadãos acredite nela, e por ela seja capaz de lutar e sacrificar-se, caso seja necessário. Sem um consenso mínimo relativamente a determinados princípios, va­lores, normas e atitudes, não é possível construir-se uma vida condigna. 
 
Fonte: SA
 

Comentario

Voçês relacharam muito muângolés

sunga muxima | 25-09-2010

Foi uma uma autêntica engenharia constitucional de fomos alvos, podera o povo é analfabeto, faminto e burro. Um país onde não se lê, onde o ensino superior é muito bem arquictetado, onde as grandes e maiores instituíções do país, paira a corrupção activa, onde no parlamento reside um bando de marionetes, existe poucas hipoteses de salvação!...O Mpla usa e abusa de Angola e dos Angolanos, eles têm um objectivo que é perpectuarem no poder! a mentalidade dos dirigentes Africanos é muito sub-terranêa, porque pra eles o poder é uma espeçie de herança, foram os nossos antepassados que deixaram este legado, e o novo dirigente Africano ainda não se libertou desta escravidão macabra e criminosa, para que o mundo olhe a nossa Africa com os outros olhos. É triste como os Angolanos vivem, e como são governados! porque o Mpla não sai do poder nem que perca as eleições, eles nunca viveram e conviveram com a verdade, e a democrácia que no dicçionário do Éme significa: insulto ou derrota! por isso, não vamos largar o poder, ainda que tenha que haver novamente sangue! a nosssa revolução há de continuar. VIVA OU MUERTE! VENCEREMOS.

começa e

Minu | 21-09-2010

Tudo temomeça fim....

Votemos...

WangaWabu | 21-09-2010

Justino pinto de Andrade para presidente, esse é o caminho para uma verdadeira democracia em Angola.

Analista de esquerda

São Capitão | 20-09-2010

Sera que o jornal de Angola tambem terá o descaramento de dizer que Justino e vincente procuram criar factos politicos e um debate tal como fizeram com Samakuva/Unita?

algures em luanda

gato | 20-09-2010

o povo angolano é mesmo muita burro!

como é que cerca de 18.000.000 de habitantes num país vai permitir, em pleno seculo 21, ter um presidente como jose eduardo dos santos?

com personalidades como o vincente/justino pinto de andrade, isaias samakuva, ate mesmo o dikota celso malavoloneke(porque nao)? entre outros....porque nao escolhermos um destes e lhes colocarmos no poder para servirem cada pelo menos 2 mandatos de cada 5 anos? é assim que o país avança. a luisete araujo tem mais e melhores ideias que JES...vamos dar uma chance a outros nos governarem tambem, deixemos lá de ser burros ó angolanos.

ignoránte dos Mplanos

Armando | 20-09-2010

eles sabe bem tudo isso mais como eles näo tem outra maneira de fuzir os crimes cometidos é por isso fazem loucuras e entimidacöes contra os seus Adversarios politicos porque se eles perder O poder väo perder tudo O que roubaram todo tempo da comunistas tambem O povo Angolanos já näo quer mais esses Gatunos é melhor dexar O lugar para que os que säo capage de dirigir continuar os progressos para A judar o povo que vivem na pobreza os sofridor Angolanos.

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