Políticos reagem às declarações de Dino Matrosse

Políticos reagem às declarações de Dino Matrosse

O NJ procurou ouvir várias vertentes da vida política nacional, com destaque para os dois partidos visados, a UNITA e a FNLA, em reacção a entrevista concedida por Dino Matrosse sobre as condecorações relativas ao 11 de Novembro.

 
Alcides Sakala (porta – voz da UNITA) - Foi infeliz nas suas palavras. Proferiu um discurso antireconciliação nacional, com fortes laivos de belicismo, de quem é incapaz de entender as mudanças na história. Se todos insistirmos no discurso do passado, que conduziu os povos de Angola à guerra civil, no contexto da guerra-fria, ficaremos de costas viradas durante as próximas gerações. Não é esse o melhor caminho para a reconciliação nacional. O resgate dos valores tem de assentar na mudança de mentalidade e na adopção de um discurso de tolerância e de convergência nacional capaz de dar corpo a cultura da paz. Todos sabem, porque é história, que foram três os movimentos de libertação que lutaram em Angola contra o colonialismo português com apoios de diversos países, hoje amigos de Angola. A UNITA recebeu apoio multiforme da República Popular da China, o MPLA da República de Cuba e da ex-União Soviética e a FNLA do Ocidente.  
 
A história é ainda a melhor fonte de conhecimento para quem quiser ler os sinais dos tempos e aprender com a experiência de outros povos, particularmente africanos. Por isso, dirigentes que assumem essas posições, têm dificuldades de contribuir significativamente para uma reconciliação nacional real, bloqueados que se encontram na lógica da exclusão politica e social. Haja coragem para aceitarmos um discurso reconciliador, como fizeram os sul-africanos com a Comissão da Verdade.
 
 
Justino Pinto de Andrade (presidente do Bloco Democrático) - O  Secretário-geral do MPLA, Dino Matrosse, respondeu de forma clara a esta questão, começando por recordar que, na Angola Independente, já houve vários momentos de condecoração. Disse, por exemplo, que foram condecoradas pessoas que participaram na luta clandestina, também na guerrilha, e em outras circunstâncias. Não entendi o que ele queria dizer com as “várias outras”. Essa expressão funciona como um saco fundo, onde cabe tudo... Podem até caber pessoas que foram indiferentes à luta do povo angolano, na altura em que o resultado era incerto. Podem mesmo caber pessoas que, nessa altura, estavam a lutar do outro lado da barricada, com a convicção de que estavam a bater-se contra terroristas. Podem mesmo caber informadores da PIDE, ou outro tipo de traidores à nossa causa. 
 
Ele diz, ainda, que, desta vez, as condecorações foram para aqueles que, antes da Independência, deram tudo para que esta aspiração não fosse destruída. E disse mais: “É para aqueles que estiveram nos combates no Kifangondo, no Ebo, no Moxico e em Cabinda, que foram decisivos para a proclamação da Independência”. E deu como exemplo, o seu, ele que não esteve em nenhum desses combates. Por isso, não foi condecorado. Esse é simplesmente um subterfúgio, um expediente que encontrou para contornar a história. Parece-me que, Dino Matrosse, tem uma relação inamistosa com a história, não a valorizando devidamente. Esqueceu-se ele que, para que muitos dos ora medalhados tivessem despertado para a causa da Pátria, outros houve que não esperaram o “25 de Abril” para se colocarem do lado da Independência. Estiveram desse lado desde o início, gizaram o Movimento de Libertação Nacional, não precisaram que houvesse um golpe de Estado em Portugal (que, inexoravelmente, abriria as portas à Independência), para se colocarem de um dos lados do confronto entre irmãos. 
 
Esses não abraçaram a causa da Libertação Nacional, incorporaram, sim, o combate fratricida que nos conduziu à desgraça que se seguiu, com a proclamação unilateral da independência por cada uma das partes. Foram os heróis de circunstância...Muitos deles até aproveitaram a ocasião, e a confusão, para lavarem o seu passado...
 
Afirmaram-se, depois, como os mais patriotas, como os mais comunistas. Não nos esqueçamos que o confronto em que eles se inseriram tinha uma marca profundamente ideológica. Não era Angola que estava em causa - era, apenas, uma certa forma de ver Angola... Era tudo muito subjectivo. 
 
Marcolino Moco (Académico) - Estas últimas condecorações e sua justificação pelo Secretário Geral do MPLA, só atestam que continuamos a consolidar uma República “atípica”, pervertidos que têm sido, sucessivamente, os princípios que enformavam o regime instituído pela antiga Lei Constitucional de 1992. Desde que este carácter “atípico”, duma constituição real (que nem sequer se baseia nos princípios basilares da própria constituição formal), indiciasse valores que pudessem potenciar as garantias de uma sociedade de estabilidade sustentada porque justa, não haveria motivos de preocupação. O problema é que, estamos a seguir um modelo semelhante àqueles que nos habituamos a acompanhar, especialmente aqui, no Continente africano, em que, na prática, não há limites de decisão sobre matérias substantivas para quem, através de alguma forma (legítima ou não) assume o poder. É o que faz com que muitos não queiram nunca “largar o poder”. 
 
Porque no poder podemos fazer tudo e podemos estabelecer critérios de todo o tipo para as nossas decisões, não importa se justas e contribuintes para uma estabilidade perene ou não. Para se ilustrar isso, temos o caso fresco da Côte D’Ivoire. O raciocínio é:
 
“Porque deixar o poder que já tenho na mão, se quem tem o poder pode tudo e quem o não tem nada pode?!”
 
Este é um problema, a montante, que como africanos, temos de equacionar, se queremos viver num continente sem conflitos desestruturantes. A condecoração de grandes combatentes pela integridade territorial de Angola, após a Revolução de Abril em Portugal, faria todo o sentido, pois, se tratou de pessoas que deram essa contribuição fundamental, nessa altura longínqua. Nem sequer deveríamos falar de exclusão de elementos da FNLA e da UNITA, no quadro do critério estabelecido, no que pareço estar de acordo com o raciocínio do General Dino Matross. O problema é a oportunidade. No meu entender, o Estado angolano, hoje, deveria continuar a promover uma política de reconciliação nacional, partindo do princípio de que todas as guerras, que tiveram lugar entre angolanos de vários matizes, aconteceram no ambito da Guerra Fria a nível mundial, que nos ultrapassava; para além de várias outras contingências históricas que devemos afastar, definitivamente, dos caminhos do futuro. 
 
"Foi um discurso de exclusão e contra a reconciliação nacional"
 
 
Ngola Kabangu (FNLA) Fiquei bastante amargurado quando li a entrevista do meu amigo e compatriota Dino Matrosse. Ele foi muito infeliz. O 11 de Novembro está no lugar da luta e da Independência. Eu desafio-o num debate para  provar quem são aqueles que lutaram contra a independência. Talvez ele os conheça melhor. Ele devia ter a sabedoria de sugerir ao MPLA um outro nome para aquela medalha e não a medalha 11 de Novembro. Isto é um insulto ao povo angolano. Eu particularmente sinto-me insultado, como patriota e como antigo combatente.
 
O senhor Dino Matrosse deve pedir desculpas públicas ao povo angolano. Estas declarações não podem sair da boca do secretário geral de um partido que sustenta o governo. Eu conheço bem o MPLA e a sua classe dirigente e nem todos comungam das declarações de Dino Matrosse. A direcção política do MPLA é integrada por patriotas que não ele. Ele devia pensar duas vezes antes de chamar aquela medalha 11 de Novembro. Foi um discurso de exclusão e contra a reconciliação nacional. 
 
 
Fonte: NJ
 

 

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'Só os que lutaram pela Independencia merecem ser condecorados' - Entrevista com Dino Matross

 

 

Comentario

Politico De Meia Tijela

Ex FAPLA | 29-12-2010

O Dino Matross é o que podemos considerar um politico de "Tijela Vazia".

Benguela

Gen. Marques. Benguela | 24-12-2010

Que o dino matross nao brinque com as almas dos nossos Herois. Que o mpla nao insulte os Angolanos. Que o jes lê o que esta passar na Cote Duvoir

Malanje

Drª Joana Salvador Maria. De malanje | 24-12-2010

Esse lumpeno do dino matross estudou que classe? Nao sao esses que terminaram a escola politica do catambor? Que vergonha dum dito secretario geral da merda do mpla

Comentario

Engª Celeste | 24-12-2010

Os demonios dirigidos pelo salazar jose e. dos santos no poder ha 33 anos nao tem a minima noçao das tamanhas babuseiras que sai das suas bocas. Invetam constituiçoes para nao sairem do poder. Continuam a usar o Dinheiro dps Angolanos para semearem dores, insitar guerras...insultar o Povo, corromper os Angolanos com kilos de arroz...O dino matross é um verdadeiro analfabeto politico. Considero eu

mangole

man in black | 21-12-2010

xtamos paiados porq os cotas por lutarem um bocado acham-se donos da terra

Angola em remendos

Minu | 21-12-2010

Angola esta em remendos. vejamos Caculama municipio da provincia de Malanje tem um grande hospital que nem em luanda tem igual, uma planta arquitectonica bestial, inagurado pelo governador Boaventura Cardoso em Novembro de 2006, neste mesmo hospital nao ha medicamentos nem medicos, os poucos medicos cubanos que la passam o seu tempo e enchendo os seus bolsos e dos... so trabalham de segunda feira a sexta feira das 9 horas ou quando eles quizerem chegar e sair não depois das 16 horas, alias os tais medicos vivem na cidade de malanje alegando nao ter condicoes para se la viver, sao ai mais de 70 kms. Aos fins de semanas, noites e feriados, poderas encontrar 2 ou 3 enfermeiros Angolanos com o salario de 50.000 kuanzas menos os descontos. O hospital tem 2 grupos gerador de grande potencia que nao funcionam, porque os tecnicos e as peças veem de luanda que nunca chegam e os coitados enfermeiros exercem as suas actividades com candeiros, velas e outros objectos iluminantes. Este é a nossa Angola de HOJE

Ignorem

Minu | 21-12-2010

Pessoas que deviam ser respeitados politicamente e pela idade, quando se tornam matumbos como se comportou o miudo Dino Matross, sim miudo que fala assim so tem que ser miudo e sem juizo... e como canta o sebem lhe falta um parafuso na cabeca...IGNOREM.. a maior vergonha da decada do meu pai.

So despiu a sua pele de carneiro para revelar a sua original de onca

Bangura | 21-12-2010

Agora ja se sente seguro no reino dos disfarces. Assimi como reapertaram o botao do partido unico e reascenderam as disas e sinfos, o camarada Matross, ja se pode tranquilamente dispir da incomoda pela de carneiro para finalmenmte respirar de alivio no seu mundo, o de Lobo.
Este individuo so pode ser anti-Angolanos, um apparatchik Salazarista ate aos Globulos vermelhos....

???Reconciliação ou conciliação???

H.C. | 21-12-2010

Sou angolano e sempre me questionei quando fala-se de Reconciliação Nacional!!!
Do que eu saiba, desde então, quando se lutava para a Indenpendência, os angolanos estavam divididos. Hoje, estamos em Paz graças à Deus! Os angolanos vão se reencontrando pela primeira vez. E é nesta base que eu penso que deve se tratar de CONCILIAÇÃO e não de RECONCILIAÇÃO!!!
Não se pode falar de Reconciliação, quando na verdade nunca houve antes Conciliação!!!???
É ou não é!!!???
Estou certo ou não!!!???

Agora quando ao tema, só tenho a dizer que:
ISSSOOO ÉÉÉ UMMMA VEERGONHAAA!!!

Re:???Reconciliação ou conciliação???

Transeunte | 22-12-2010

A ideia que se tem é de que os angolanos, antes da chegada do europeu, eram um conjunto de povos em coabitação relativamente pacífica. Mesmo depois da imposição do colonialismo continuaram a ser relativamente unidos. Ao que parece, muitos deles começaram a militar nas mesmas associações políticas. As influências externas é que os deixaram de costas viradas. Parece ser efectivamente reconciliação.

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