Outtara e Gbagbo: quem é quem

Outtara e Gbagbo: quem é quem

 

Alassane Outtara

 

Alassane Dramane Ouattara nasceu na an­tiga África Ocidental Francesa a 1 de Janeiro de 1942. Economista, concluiu a licenciatura e doutoramento da Universidade de Drexel, Es­tados Unidos da América. 

 

Trabalhou no Fundo Monetário Internacio­nal em Washington de 1968 a 1973, tendo-se transferido depois para o Banco Central da CEDEAO de 1973 a 1984, onde ocupou vários postos até chegar a Governador. 
 
Foi primeiro-ministro da Costa do Marfim de Novembro de 1990 até Dezembro de 1993 a convite do então Presidente Félix Houphou­êt-Boigny. Foi a ele que coube exercer interi­namente a Presidência da Costa do Marfim durante a prolongada doença de Houphouêt- Boigny e foi ele também que anunciou a morte deste à Nação, dizendo: «A Nação marfinense tornou-se órfã». Nessa condição de Primeiro- Ministro foi um grande aliado de Jonas Sa­vimbi e da UNITA, à qual concedeu apoio di­plomático, político e mesmo militar. A Costa de Marfim era então uma das principais placas giratórias da UNITA, onde mantinha inúme­ros bolseiros e os familiares mais próximos de Jonas Savimbi. Depois de perder a disputa pela sucessão de Houphouêt-Boigny para o então Presidente da Assembleia Nacional, Henri Ko­nan Bedié, regressou ao FMI onde ocupou o posto de Director Adjunto até 1999. 
 
Regressou nessa ano depois do golpe mili­tar que derrubou Konan Bedié, mas não pôde participar nas eleições presidenciais de 2000, por ter sido aprovada então uma lei que proi­bia de concorrer à Presidência da República quem não tivesse os dois progenitores marfi­nenses. Nessa altura, Ouattara era acusado de ser filho de pais burkinabes. Ouattara negou as acusações, chegando a apresentar uma cer­tidão de nascimento que foi anulada por um tribunal marfinense. Laurent Gbabo ganhou as eleições, mas como resultado dessa exclu­são eclodiu a guerra civil que se prolongou até 2007, altura em que as partes chegaram a acordo, permitindo a Ouattara participar nas eleições supervisionadas pelas Nações Unidas, as quais, após sucessivos adiamentos, foram realizadas em Novembro de 2010. 
 
Foi durante o consulado de Laurent Gba­gbo (2000 a 2010) que o governo de Angola conseguiu finalmente desmantelar o fortíssi­mo lobby que a UNITA possuía na Costa do Marfim. Graças a essa aliança entre Gbagbo e Dos Santos, não só o então movimento rebel­de deixou de ser acoitado nesse país, como as imensas quantidades de armas – fala-se mes­mo em aviões – que Jonas Savimbi tinha aí em trânsito para Angola foram congeladas. De placa giratória das movimentações logísticas, diplomáticas e políticas da UNITA, a Costa do Marfim passou a palco das operações mais espectaculares da secreta angolana, visando os líderes do Galo Negro e os familiares pró­ximos de Jonas Savimbi incluindo no vizinho Togo.
 
Terá sido com a prestimosa mão amiga do «mano Gbagbo» que os próprios filhos do líder guerrilheiro foram raptados e apresenta­dos em Luanda, constituindo um dos golpes mais duros que Savimbi sofreu. Essa reviravol­ta da Costa do Marfim sob Gbagbo terá sido crucial na asfixia que finalmente acabou por vergar a UNITA em Fevereiro de 2002. 
 
Feitas as eleições em 2010, e após vários adiamentos, a Comissão Eleitoral procla­mou Ouattara vencedor, sem esperar que os resultados fossem validados pela Comissão Constitucional, como mandam as leis do país. Este, presidido por um próximo de Gbagbo, invalidou os resultados eleitorais nos distritos onde Ouattara foi vencedor e atribuiu a vitó­ria àquele. Gbagbo não perdeu tempo e pres­tou juramento logo em seguida.
 
Ouattara fez o mesmo. As Nações Unidas, a CEDEAO, a União Europeia e a União Africana reconhe­ceram em Dezembro Ouattara como presi­dente e as tropas das Nações Unidas passaram a protegê-lo no seu próprio quartel-general. A CEDEAO chegou mesmo a ameaçar remover Gbagbo pela força das armas, caso não renun­cie voluntariamente. Gbagbo exige, por sua vez, a retirada das tropas das Nações Unidas. Estas reagem enviando mais dois mil homens. Está instalada a confusão. 
 
Laurent Gbagbo
 
Laurent Koudou Gbagbo nasceu em 31 de Maio de 1945, numa aldeia chamada Mama, perto de Gagnoa, na Costa do Marfim. Profes­sor de História, licenciou-se e doutorou-se na Universidade de Paris (Diderot) em 1979. 
 
Entrou para a política muito cedo. Foi pre­so de 1971 a 1973 por oposição ao regime de Félix Houphouêt-Boigny. Em 1982, já como Director do Instituto de História e Arqueolo­gia Africana da Universidade de Abidjan, par­ticipou nas greves dos professores enquanto membro da União dos Professores Universitá­rios e Secundários. Por essa altura, formou o seu partido político, a Frente Popular Marfi­nense (FPI, sigla em francês) e no mesmo ano partiu para o exílio em França. Regressou à Costa do Marfim em Setembro de 1988. 
 
Na sequência da instauração do multi-par­tidarismo em 1990, Gbagbo foi o único can­didato a disputar a Presidência da República com Félix Houphouêt-Boigny, tendo perdido para este. Entrou para a Assembleia Nacional como chefe da bancada parlamentar do seu partido e em 1992 foi condenado a dois anos de prisão por incitamento à violência, mas foi libertado meses depois. Ele e o seu partido boicotaram as eleições de 1995, e em 1999 foi nomeado candidato presidencial para o pleito de 2000. Estas eleições, que tiveram lugar depois de um golpe de estado liderado por Robert Guéi, que tam­bém se tornou candidato presidencial. Realizadas as eleições, Guéi declarou-se vencedor, mas foi derrubado por uma revolta popular em favor de Gbagbo, que também se proclamava vencedor com 59.4%. Guéi foi forçado a fugir e Gbagbo foi entronizado como Pre­sidente da República em Outubro de 2000. 
 
Com a sua entrada como PR, e em oposição às políticas de Félix Houphouêt-Boigny que vinha combatendo, a Costa do Marfim mu­dou radicalmente a sua política em relação à guerra civil que então atingia Angola. De apoiante incondicional da UNITA, passou a re­conhecer o governo saído das eleições de 1992. Congelou a trans­ferência de armas que Savimbi tinha comprado aos países do leste europeu e que estavam ali em trânsito para Angola. Permitiu que os «operacionais» da secreta angolana utilizassem o seu território para aliciamento e mesmo raptos de dirigentes, simpatizantes e fa­miliares próximos de Savimbi. Enfim, desmantelou completamente aquilo que se constituiu no mandato de Houphouêt-Boigny como a retaguarda mais segura da UNITA.
 
Em Setembro de 2002, rebentou uma guerra civil na Costa do Marfim entre o Sul cristão que apoiava Gbagbo e o Centro e Norte de predominância muçulmana. Gbagbo reagiu desnacionalizando as populações do Norte, declarando-as não marfinenses, no que passou a chamar-se «Ivoirité». É nessa altura que correm rumo­res, mesmo em Abidjan, a capital, de que tropas angolanas estavam combatendo ao lado de Gbagbo e constituindo a sua guarda presi­dencial. Após meses de combates sem vantagem clara para qual­quer dos lados, chegaram a um acordo de paz. Criaram um GURN e tropas francesas foram chamadas para patrulhar uma linha de separação entre o Norte e o Sul. Mas, em Novembro de 2004, e após os rebeldes recusarem-se a desarmar, Gbagbo ordenou raids aére­os contra as suas bases, tendo um atingido posições francesas, de que resultou a morte de nove soldados. Apesar de Gbagbo afirmar que se tratara de um engano, os franceses não foram na conversa e destruíram todos os aviões de combate marfinenses. Em resposta, a população manifestou-se violentamente contra a presença francesa na Costa do Marfim. 
 
Em 2005, terminou o mandato presidencial de Laurent Gbag­bo, mas com os rebeldes por desarmar, não havia condições para a realização de eleições, pelo que o mandato foi estendido por mais um ano, num plano orquestrado pela União Africana e endossado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. O mandato acabou prorrogado por mais um ano pelos mesmos motivos. Após vários adiamentos, por um motivo ou por outro, as eleições foram marca­das para 2010, com Gbagbo concorrendo à própria sucessão. 
 
As eleições foram realizadas em Outubro de 2010. Laurent Gbag­bo e Alassana Ouattara foram à segunda volta. Quatro dias depois, a Comissão Eleitoral Marfinense declarou o segundo vencedor, com 54.1% dos votos. O partido de Gbagbo declarou fraude, mas os observadores internacionais presentes no terreno refutaram essas reclamações. O Conselho Constitucional anulou os resultados elei­torais nos distritos onde Ouattara tinha ganho e declarou Gbagbo vencedor com 51%. O assunto de Gbagbo não poder servir como Presidente da República, por já ter mais de 10 anos no poder (dois mandatos) não foi abordado sequer. Declarado vencedor, Gbagbo prestou juramento e ordenou ao exército que encerrasse as frontei­ras. Cercou o quartel-general das tropas das Nações Unidas onde Ouattara se encontra refugiado e proibiu os órgãos de comunicação social estrangeiros de emitir a partir do país. 
 
A comunidade internacional reconheceu em massa Ouattara e aplicou sanções a Gbagbo, a começar por proibi-lo de deslocar-se para quase todos os países e congelando os seus bens no estran­geiro. A sua assinatura já não movimenta os fundos da Costa do Marfim nos bancos internacionais, a começar pelo Banco da pró­pria CEDEAO, cujo Governador compete ao Presidente da Costa do Marfim nomear. O actual Governador, o marfinense Phillipe-Henri Dakoury-Tabley, movimentou cerca de 80 mil milhões de Francos CFA (cerca de 165 milhões de dólares) com a assinatura de Gbagbo e foi obrigado a demitir-se pela cimeira dos Chefes de Estado da CEDEAO reunida esta semana, acabando substituído interinamen­te pelo seu vice, Jean-Baptiste Campaoré, até que Ouattara nomeie outro Governador. 
 
Actualmente, Gbagbo encontra-se numa situação difícil. Contes­tado pela totalidade das organizações regionais e mundiais a que a Costa do Marfim pertence, ameaçado com uma guerra movida pe­los países vizinhos da CEDEAO, confrontado com a rebelião a norte do país que o não reconhece como Chefe de Estado, sem acesso aos dinheiros do país, é literalmente um Presidente que só se mantém graças ao apoio das forças armadas. Apoio até ver: quando os sol­dados começarem a exigir os seus vencimentos é que serão elas.
 
 
Fonte: SA 
 
 
 

Comentario

O JES e seu MPLA vao continuar a sustentar o seu novo Falcone preto ate as ultimas consequencias...

Grange | 01-02-2011

A africa esta muito mal com este tipo de politicos. Ele esta na Vanguarda. mas todos os outros Despotas estao nas costas dele bancando uma de "Estacas" para o ajudar a vencer a "Tempestade"

Tudo porque eles tambem tencionam por em marcha o mesmo esquema e temem o efeito Domino se o amigao deles descarrilar...
O pequeno Impostor da RDC tambem ja pariu suas atipicas conforme o conselho do Padraste de Luanda, outro Impostor calejado e nunca eleito ja la vao 32 anos ou quase...Pretende eleicoes so com uma volta (?!)

Os Mussevenis querem quartos mandatos...Os Centroafricanos ja nem se fala
Oxala a onda Tunisina se espalhe ate Durban, se ja atravessou o mar vermelho para o Yemen

Deus nos acude....

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