Os 35 anos da nossa Independencia - Por Victor Barros

Os 35 anos da nossa Independencia - Por Victor Barros

O país de todos nós é independente já a 35 anos. Mas o que é que isto quer dizer na realidade? Será que, com referência a reportagens ouvidas, significa que devemos ter livros e escolas e hospitas e tudo mais? Será que significa ter uma bandeira, um hino, um bilhete de identidade? As respostas para esta questão são extremamente subjectivas. De qualquer forma, antes de apresentar o meu parecer sobre este assunto, apresento um rescaldo do meu entendimento no que refere ao processo de descolonização do nosso país.

 
Começo o meu relato com o início da luta armada levada a cabo pelos movimentos de libertação em Angola. A primeira acção do género ocurreu na baixa de Caxange a 4 de Janeiro de 1961. Após este início, muitas outras manifestações do género foram desencadeadas, com notabilidade para o popular 4 de Fevereiro (associado ao MPLA) e o menos famoso 15 de Março (associado à UPA/FNLA).
 
Os ideais liberais inspirados por tais acções, assim como pela conjuntura internacional na época, eram combatidos pelos poderes coloniais. Numa tentativa de estabeler a sua presença em Angola, Portugal investe na região e um crescimento estonteante acontece no periodo entre 1960 e 1973. Após anos de luta contra o regime colonial e com o golpe de estado que derrubou o regime facista de Salazar em Portugal, a independência do país torna-se cada vez mais evidente e materialisa-se em Janeiro de 1975 com os acordos de Alvor, que continha dentre outras cláusulas, um entendimento entre a partilha de poderes pelos movimentos de libertação e o reconhecimento da soberania do país por parte dos então colonos tãologo quanto fosse declarada a independência, evento agendado para 11 de Novembro de 1975. A partir desta altura a história de Angola começa a caminhar em trilhos escolhidos por nós mesmos, ou para ser mais justo, por uma meia dúzia de pessoas que afirmavam representar o povo angolano.
 
Pouco depois da assinatura dos acordos de Alvor, os três movimentos de libertação, nomeadamente FNLA, UNITA e MPLA, começam a guerra civil de Angola, logo após a guerra para a independência do país, atropelando dessa forma os acordos concernentes à partilha de poderes por esses mesmos movimentos. No meio desse tumulto, o MPLA consegue manter-se na capital até o 11 de Novembro, data na qual, como acordado em Alvor, a independência de Angola foi proclamada. Agostinho Neto, na qualidade de presidente do partido na data faz as honras ao povo angolano. O partido no poder, ao mesmo tempo em que disputava o controle do país com as forças da oposição, também lidava com tensões internas que foram “resolvidas” com uma matança infundada e generalizada no dia 27 do mês de Maio do ano de 1977.
 
No entanto, a guerra civil continua até 1991, altura em que as primeiras eleições do país são efectuadas como resultado dos acordos de Bicesse. Após a derrota, Jonas Savimbi clama fraude no processo eleitoral e as armas são ergidas novamente. Nesta altura, o FNLA já havia esmurecido no contexto da luta armada pelo domínio do país. As armas calam-se uma vez mais em 1994, por ocasião do protocolo de Lusaka, no qual o GURN foi estabelecido. Infelizmente e como na ocasião anterior, as armas erguem-se novamente, mas desta apenas após quatro anos e calam-se mais uma vez e definitivamente (pelo menos até agora) em 2002, com a morte de Jonas Savimbi em combate.
 
Em 2008 presenciamos as segundas eleições legislativas no país, em que o partido no poder ganhou com aproximadamente 80% dos votos. Desde então, diversos acontecimentos têm se desenrolado no país, tanto no contexto internacional como no contexto nacional, com destaques à cooperação com a China, a extinção e criação de várias formações políticas e a aprovação de uma nova legislação que dentre inúmeros pontos, aboliu a realização de eleições presidenciais, retirando desta forma o direito dos cidadãos angolanos votarem directamente no seu presidente.
 
Como deve parecer óbvio, o relato acima é um resumo dos acontecimentos. Esse resumo é baseado em conhecimentos que para além de serem restritos, correspondem ao ponto de vista do “vencedor”. Não obstante estes factos, tentei ser o mais correcto e imparcial o quanto pude.
 
Uma vez concluido o rescaldo histórico do país, dou o meu parecer quanto a nossa independência:
 
É bem verdade que já não existem contratados, passes e até mesmo assimilados. Como já fiz referência no ínicio do artigo, temos o nosso próprio hino, a nossa bandeira, as nossas escolas e tudo mais. Mas a pergunta inicial deste artigo permanece na minha mente: será que é isso ser independente?
 
Olho para nós mesmos e me pergunto quantos de nós falam línguas nacionais? E como são tratadas essas línguas e as pessoas que as falam (principalmente em Luanda)? O nosso hino fala de marchas e combates mesmo no contexto da paz, lutaremos pela paz mas a paz já foi alcançada (pelo menos espero eu…). A bandeira do país é facilmente confundível com a bandeira da formação partidária no poder.
 
Os nossos filhos são educados nas escolas portuguesas, francesas, internacionais e não sei o que mais. A matéria que aprendem tem muito pouco haver com a realidade nacional e a que tem alguma relação nós é dada de forma parcial. A informação é ocultada e as pessoas ainda vivem no medo de afrontar as autoridades, aceitando o “status quo” pois qualquer outra atitude arrecadaria resultados trágicos.
 
O poder popular para qual os nossos pais e avós lutaram é nada mais que uma utopia actualmente. Discriminações com báses rácicas, sociais, económicas e políticas proliferam-se na nossa sociedade. Temos uma economia frágil que ilude os menos atentos com indicadores enganosos. E se o petróleo e os diamantes acabam? Este ano, celebramos 35 anos de independência, e após 8 anos de paz eu me pergunto mais uma vez, será que somos realmente independentes?
 
De qualquer forma e como já é hábito, o 11 de Novembro continua a ser uma data de inaugurações e de manifestações populistas em que as máquinas políticas no país aproveitam para soltarem a sua proganda; ao menos as máquinas com maior sagassidade. A população que mal tem um tecto esquece-se de tudo por conta das embriagueses que acontecem nas maratonas promovidas pelo governo durante fins-de-semana absurdamente prolongados.
 
A oposição faz o que faz de melhor: reclama das práticas do partido no poder, reclamam de exclusão das festividades (de que estarão eles a espera???) e pedem reflexão… As prioridades a longo prazo esbatem-se no fundo de caus imediato e as pessoas retomam a realidade de suas vidas na ressaca, a espera do próximo 11 de Novembro, aguardando (im)pacientemente por mais um aniversário da nossa independência.
 
 
Fonte: Havemos de voltar
 
 

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