O exemplo e a obra de Agostinho Neto

O exemplo e a obra de Agostinho Neto

 

No último meio século, o Povo Angolano teve vitórias retumbantes em todas as frentes, que conduziram à Independência Nacional e ao resgate da liberdade e da dignidade. Para a obtenção de tantos êxitos, foi essencial uma liderança forte e um líder capaz de forjar na luta, a unidade nacional. Quando nos anos 50 as pequenas organizações nacionalistas se uniram num amplo movimento popular, apenas ficou a faltar alguém que fosse capaz de conduzir os combates rumo à vitória. 

 
Alguns anos depois, Agostinho Neto revelou ser o líder capaz de conduzir a luta e construir a unidade. Oriundo do mundo rural, cedo começou a trabalhar nos campos de algodão de Icolo e Bengo. E ao lado dos camponeses foi vítimas das injustiças e das humilhações do colonialismo. Decidiu rejeitar a submissão e ao fazê-lo, começou a desenhar o “caminho das estrelas”para o seu povo, que mais tarde revelou ao mundo através da sua poesia universalista. Estudou, trabalhou, venceu todas as barreiras, derrotou todos os adversários. Quando foi estudar Medicina para Portugal, estava a caminho de se tornar naquele por quem se espera. 
 
A sua dimensão universal impôs-se ao nacionalismo estreito e às barreiras raciais e sociais. Já médico, foi preso e deportado, mas nunca virou a cara à luta e nunca renegou a revolução. Encontrou na poesia uma arma indestrutível quando lhe foi negada a liberdade e a cidadania. Os seus companheiros elegeram-no Presidente, mesmo aprisionado e à mercê do inimigo. Primeiro pela sua honra e pelo seu exemplo. Depois pela sua coragem, abnegação, inteligência e uma rara premonição que lhe permitia estar sempre à frente do seu tempo e a ver os factos políticos muito antes de acontecerem.
 
Quando conseguiu escapar à vigilância permanente dos carcereiros, foi imediatamente ter com os seus, sacrificando a carreira de médico brilhante e a família. Desde então, nunca mais parou. Nunca mais pôde sequer pensar em parar. O adolescente que colheu o “caroço” do algodão nos latifúndios de Catete, cumpria os desígnios do seu destino de revolucionário. Optou por uma vida sem tréguas. 
 
Só amamos aquilo que conhecemos bem e Agostinho Neto conhecia o seu Povo Angolano desde as vísceras à sua incomensurável dimensão poética. Conhecia como ninguém os acontecimentos históricos que aos poucos foram definindo o nacionalismo angolano e a ideia do socialismo como bandeira sagrada da liberdade.
 
Uma das razões do sucesso de Agostinho Neto na liderança da revolução angolana é que ele cedo compreendeu que o governo português era um mero intermediário das grandes multinacionais que exploravam as riquezas de Angola. A outra causa que o levou a tantas vitórias, foi a sua confiança nos angolanos e nos seus companheiros. Mesmo quando a sua liderança foi posta em causa por oportunistas sem pátria, Neto acreditou sempre que era possível levar de vencida o colonialismo e proclamar a Independência Nacional. E quando alguns se sentaram no muro à espera de sinais claros do lado que deviam escolher para descer, Agostinho Neto nem sequer aceitou um “Plano B”. Nunca colocou a hipótese de adiar a data da proclamação da Independência Nacional. E esteve sempre no seu posto, com a sua família.
 
 Foi este exemplo heróico, em 1975, que levou os angolanos e sobretudo os luandenses a permanecerem firmes no seu posto, para o que desse e viesse. Ninguém pensou em seguir outro exemplo que não fosse o do seu líder.
 
Agostinho Neto esteve pouco tempo no poder. Nem sequer cumpriu um mandato de cinco anos na Presidência da República. As pessoas que lhe eram próximas sabiam que ele ansiava regressar à escrita da poesia, à medicina e dedicar mais tempo à família. Neto sabia que entre o amplo movimento popular que liderou, tinha companheiros capazes de prosseguirem a sua obra. Três décadas depois da sua morte, já ninguém tem dúvidas de que o líder foi capaz de estimular o aparecimento de uma elite dirigente à altura da grandeza de Angola.
 
Mas no coração do povo fica uma certeza amarga: Agostinho Neto partiu demasiado cedo. E é por isso que todos os angolanos devem fazer um esforço suplementar para estarem à altura do seu exemplo e da sua obra.
 
 
*Jornal de Angola
 

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