O que JES seguramente não dirá (disse) - Justino Pinto de Andrade

O que JES seguramente não dirá (disse) - Justino Pinto de Andrade
Nota Prévia: o artigo em questão foi publicado dois dias antes do discurso do Presidente sobre o estado da nação. O objectivo é verificarmos até que ponto Justino Pinto de Andrade, analista politico, acertou(ou errou) nas suas previsões.
 
 
1. Não é fácil prever o que Edu­ardo dos Santos dirá no Parlamen­to, quando, no dia 15 deste mês, falar sobre o estado da Nação, pois é a primeira vez que o fará. Não havendo experiência acumulada, claro que é difícil uma previsão. De qualquer forma, não imagino, por exemplo, que Eduardo dos Santos vá reconhecer erros come­tidos na condução dos destinos da Nação que ele dirige há mais de 30 anos, ininterruptamente, e de for­ma cada vez mais personalizada.
 
2. Pelo que observei ao longo dos mais de 30 anos do seu con­sulado, recordo, por exemplo, como Dos Santos garantiu seguir fielmente “o pensamento do Ca­marada Presidente Agostinho Neto”, num exercício por si pró­prio designado “difícil, mas ne­cessário”. José Eduardo dos Santos substituiu Agostinho Neto, não por vontade do povo expressa por voto livre, mas, sim, por determi­nação da estrutura directiva do MPLA. Foi, pois, uma sucessão imposta pelo regime de Partido Único, criando as condições para que hoje se mantenha inabalável. 
 
3. Durante mais de 10 anos, o discurso oficial e a prática gover­nativa de Eduardo dos Santos fo­ram de perfeita adesão ao modelo de Estado e de Sociedade que, no devido tempo, foi lançado para o lixo da história. Caiu o Muro de Berlim. Faliu o Modelo Soviético. Órfão de tal paternidade política, Eduardo dos Santos optou por fazer alguns ajustes, começando por remendar uma economia que se achava em estado de coma… Pensou, seguramente que, dando aspirinas ao doente, este se re­comporia, arribaria, passando a vender saúde… Estava enganado: o mal era ainda maior, e não se re­sumia à economia. O mal de An­gola era o sistema político. 
 
4. Timidamente, JES aceitou que os cidadãos angolanos pu­dessem desenvolver legalmente determinadas actividades priva­das na economia. Na realidade, criou as condições para alguns angolanos (os fiéis) tomassem de assalto aquilo que era propriedade pública. Utilizou o expediente do redimensionamento empresarial para transferir para os antigos gestores públicos alguma da pro­priedade estatal. Foi este o início da implantação de um capitalismo selvagem, de que dificilmente nos libertaremos. 
 
5. Muito olimpicamente, JES passou a assumir que se tinha an­tecipado às transformações que sucederam ao fiasco do modelo soviético, estribando-se no facto de ter consentido o SEF (Progra­ma de Saneamento Económico e Financeiro), um expediente ela­borado para reanimar a economia moribunda edificada ao longo de mais de uma década. 
 
6. Resistia, porém, JES na for­taleza do sistema político mono­lítico. Procurou ainda arquitectar soluções políticas originais, como a da criação de um sistema políti­co democrático com um só parti­do – em que daria a possibilidade de algumas correntes políticas se associarem ao MPLA. Tal solução nem foi posta em prática, por cau­sa da aceleração da história. 
 
7. A desfavorável conjuntura in­ternacional, o agudizar da guerra com a UNITA, e a emergência de correntes democráticas no seio da nossa sociedade, forçaram-no a alterar a posição do ponteiro da bússola e a aceitar, com visível contra-gosto, um sistema político de vários partidos. Todavia, tudo fez para salvaguardar a posição hegemónica do MPLA. 
 
8. As eleições que se seguiram foram amplamente contestadas, ao ponto de terem reacendido a guerra – pondo em causa a sobre­vivência do nosso Estado. A Paz foi alcançada sobre os escombros de um país destruído e exangue. 
 
9. JES acolheu os vencidos, fa­zendo a figura de magnânimo. Contudo, montou uma máquina apertada, trituradora, que a todo o custo impossibilitou o exercí­cio pleno das liberdades demo­cráticas. E os resultados ficaram visíveis no “score” eleitoral que alcançou em 2008 – onde se con­frontaram forças políticas extre­mamente desequilibradas. Utili­zou até à exaustão a máquina do Estado … 
 
10. Usou como quis e lhe ape­teceu os meios de comunicação pública. Os grupos económicos tiveram ainda mais fácil acesso aos bens e ao dinheiro públicos. A corrupção e o tráfico de influência tomaram conta do país, com ele próprio tem deixado subentender. 
 
11. Eduardo dos Santos governa um país com recursos naturais, o que lhe permite constituir à sua volta “vassalos”, nacionais e es­trangeiros, que se curvam perante o brilho do dinheiro na espreita de um oportunidade para enriquece­rem num ápice. 
 
12. Tudo isso, JES não dirá na intervenção que fará perante o Parlamento. Falará, sim, na cons­trução de estradas e de pontes, nos ganhos desportivos das nossas equipas, na aprovação de novas leis, na criação de um novo gover­no, também nas promessas eleito­rais (de impossível cumprimento). 
 
13. Não dirá que nunca ergueu a sua voz contra as demolições anárquicas, contra o impedimen­to das manifestações públicas por parte dos governos provinciais, violando o que está legislado. Não ouvirei JES dizer que o séquito en­riqueceu sem justa causa, nem que a avidez do lucro tem estimulado a eliminação do nosso património imobiliário histórico. 
 
14. Não o ouvirei também di­zer que o nosso país persiste em apresentar indicadores sociais dos mais desastrosos do mundo, figu­rando ao lado, ou mesmo por de­trás de países sem recursos. 
 
15. Não reconhecerá que, neste país, estamos em vias de ficar com uma comunicação social de uma só voz, porque os grupos econó­micos ligados ao poder (e enrique­cidos pelo poder) se assenhoraram praticamente de toda a comunica­ção social privada, para silencia­rem a vozes alternativas e enco­brirem as ligações dos interesses privados dos gestores públicos com as instituições que dirigem. 
 
16. Não o ouvirei dizer que é suspeito que jovens recém-chega­dos do exterior já possam estar a exibir um património só acumu­lável durante dezenas e dezenas de anos – ou por herança de pais en­dinheirados. E será que ele expli­cará a forma e o modo como tais pais se tornaram endinheirados? 
 
17. Não creio ainda que Eduar­do dos Santos explique o porquê de um conjunto restrito de em­presas estrangeiras ter acesso aos contratos mais chorudos, e sem concurso. Ou vai agora explicar-nos porque não são sancionadas as empresas que fazem obras que não correspondem às expectativas e aos valores desembolsados? 
 
18. Suspeito também que JES não irá explicar a engenharia fi­nanceira que faz com que um fun­cionário público possa construir um palacete a custa de proventos lícitos. 
 
19. Tudo isso são apenas curio­sidades. 
 
 
Fonte: SA

 

 

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Comentario

Discurso Zedu

Kambuku | 09-01-2011

Já êh tempo de nos livrarmos deste homem e Justino êh a solução de Angola. Professor Universitário, lutou contra o colonialismo e contra o comunismo. Muitos angolanos vão votar neste intelectual, sem reservas.

Nem Pensar

Maxinde | 19-10-2010

Feito o discurso as espectativas estao confirmadas pinto um quadro como era de esperar Lindo o pais esta no rumo certo que vontade dame para dar umas gargalhadas o comadante e chefe so provo perante a naçao e publico que lhe apoia que ele esta muito distante do pais real, coitadinho daqueles que esperavam por uma estrategia para erradicaçao da pobreza duma maneira geral concluo se esse e rumo certo assim continuara nao sei se ha algum Angolano de sangue frio que engoliu muita merda dita pelo Comadante e Chefe, difinitivamente vou ter que concardar que o chefe perdeu o senso e o pais e os seus probulemas ja ultropassam o camarada Presidente poriso mando um recado para cupula dos camaradas ou seja ao MPLA para abrir o olho sob pena de um dias todos irem para mesma cova.

xxxx

Benedite Cassoma | 17-10-2010

JES é mesmo muito previsivel. Subscrevo a opiniao deste grande analista. Bem haja.

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