Moçambique e a revolta dos pobres

Moçambique e a revolta dos pobres

 A onda de protestos e vandalismo que por dois dias abalou a capital de Moçambique, Maputo, criou muita apreensão, não só em Moçambique, mas no mundo em geral mormente junto da comunidade moçambicana na diáspora. O que mais transpareceu foi a falta de diálogo e o extremar de posições entre o governo e uma franja social de desfavorecidos económicos da população na periferia da capital, resultante da subida de preços de principais bens de consumo. 

 
 
Por Inácio Natividade 
 
Viveram-se momentos e comportamentos alternativos ao modo ideal com um resultado final confrangedor:14 mortes, 433 feridos e prejuizos de monta a rondar os milhoes de euros. Uma fagulha com danos colaterais e materiais de ficar na memória dos vivos, com a policia da Republica de Mocambique a ter de usar gás lacrimogénio, balas de borracha e balas reais para impor a lei e a ordem. 
 
O custo de vida subiu, mas a era da incerteza não é um exclusivo moçambicano ou africano, e quanto a greves globalmente anda tudo desencantado, devido a carestia de vida: Africa do Sul, Egipto, Portugal, Grecia e Turquia, Costa do Marfim, Burquina Fasso etc. É uma onda global que tende a crescer e abalar o mundo. A globalizacão vem expalhando instabilidade e miséria em muitos paises. 
 
Entretanto o mais saliente em Maputo talvez seja o facto de Moçambique, uma democracia estável, ter vivido durante dois dias a uma inusitada demonstração de vandalismo e a evidente cenas de "desacato à autoridade". 
 
A caracteristica dos acontecimentos do dia 1 e 2 de Setembro foram mais ou menos idênticas às de dois anos atrás, aquando da subida do custo dos transportes, com a diferença que houve uma degradação de nivel de vida com um agravamento de 20 por cento o custo de vida. 
 
Numa situação de pobreza as vezes absoluta, um aumento de custo de vida sem um diálogo profundo sobre o assunto, pode gerar um mar de revolta e descontentamento. Tudo aumentou. Combustível, legumes, frutas, materiais de construção. Para o dia 1 de Setembro, estava reservado o aumento da água e da electricidade. No dia 6 de Setembro, seria o preço do pão. 
 
O Governo dizia que não tinha escolha, que o mundo estava em crise e os preços tinham de subir. O povo, que deveria pagar, não queria, e, a bem dizer, nem tem como. Há quem viva com 20, 50 cêntimos por dia. Qualquer aumento significa fome, e não um simples sacrifício. 
 
O anúncio de subida de precos a 1 de Setembro, foi o rastilho que despoletou a onda de manifestações desautorizadadas que levaram aos desacatos e desafio à autoridade. Se a carestia de vida exigia dos sindicatos e representantes do consumidor, rápida resposta na procura do diálogo com o governo e tal não sucedeu, o movimento grevista formado por nacionais do escalão social e económico baixo e (moulwenes), deixou claro no horizonte que no seu ideal extravassava o conceito politico partidario na busca de novos alentos para sobreviver com dignidade. 
 
Deixaram de acreditar nos partidos, e organizações de trabalhadores que consideram estar politicamente alienados. 
 
A maioria dos cidadãos de Maputo, cidade em que nasci e cresci, e passei parte da minha juventude, costumam ser pacificos como a generalidade dos moçambicanos. 
 
O que terá levado a uma franja expressiva da população pobre incluindo (moluwenes) a ter capacidade de mobilização via (sms) ir ao extremo, de desafiar a ordem pública e quase por em causa o direito de estado? Por outro lado Maputo é um dos bastiões da Frelimo. 
 
O motivo expresso parece um antitodo circunstancial de natureza desideologizada que refuta a passividade, e responde a agruras cimentadas por um quotidiano sempre gravoso exigindo respostas. 
 
Na minha perspectiva deu para entender que o sentimento que hoje grassa nos bairros populares de Maputo é o de desenrrascanso , e uma incerteza global quanto ao futuro e própria subsistência , face ao poder politico. 
 
Numa população de 4 milhões de pessoas contando os suburbios, existe muito desemprego e desempregados.Mora a sensação de que as suas dificuldades se tornaram irrelevantes para os poderosos, e de que não existem canais por onde as suas necessidades e protestos possam ser canalizadas de forma eficaz. 
 
Governar não é facil, principalmente numa conjuntura global de crise económica e financeira, e em que metade do orçamento de estado depende de doadores estrangeiros. 
 
Armando Guebuza tem de reagir face à explosão social verificada em Maputo, Beira. Para se lutar contra a pobreza e subdesenvolvimento é necessário criarem-se postos de trabalho e haver dinheiro para crédito a quem queira iniciar um pojecto económico de negócios. 
 
Em Moçambique ainda não existe uma indústria digna dessse nome, consequentemente tudo vem importado da Africa do Sul, a agricultura que poderia ser a solução económica sustentada, não é suficientemente aproveitada, e Cahora Bassa, ainda está ainda longe das suas reais capacidades para se tornar uma mais valia financeira e económica. 
 
Não é contudo criticando ou apontando o dedo à elite politica económica para encontrar a causa próxima ou remota da crise. A transição do socialismo integral para um sistema liberal radical, tipo (quem tem unhas toca a guitarra) fez das suas;a luz desta transição existe uma hierarquia social estabelecida, o que não constitui um crime mas uma realidade. 
 
Todas as sociedades são o espelho da sua história, contudo tratando-se de Africa é fácil apontar dedos à classe dirigente, a descrepancia económica existente na hierárquia social e politica; muitas vezes esquece-se que os governos especialmente (paises pobres) orbitam dentro de uma ordem económica mundial injusta, muitas vezes ajustando-se à politicas macro económicas, às exigencias do Banco Mundial e FMI. 
 
Não existem saidas airosas em circunstancias desfavoraveis, numa economia que ainda não corresponde à grandeza e riqueza do pais, com uma sociedade em permanente procura de produtos, num orçamento do estado a viver ainda dependente de doadores estrangeiros; as decisões dos governantes muitas vezes poderão injustamente ter tidas como antipatrióticas, quando não o são. 
 
Num momento de crise económica global Moçambique como outros paises pobres importa tudo, especialmente produtos acabados e com o metical desvalorizado para faciliar as exportacões de material primas, e o governo não teve outra saida. 
 
Os paises ricos foram os causadores da crise económica e financeira mundial,tendo achado sempre que deveriam pagar a maior fatia mas tal não acontece porque não querem, e até se sentem prejudicados. Quanto aos paises pobres quando chegasse a vez, sabia que iriam pagar uma factura enorme, apenas não esperava que fosse tão depressa. 
 
De acordo com os cálculos das Nações Unidas, 46,8 por cento da população moçambicana enfrenta condições de vida que não atingem o mínimo considerado necessário para fugir à pobreza extrema. Este número, definido pela ONU como o Índice de Pobreza Humana, coloca Moçambique no 127.º lugar em 135 países analisados. Atrás apenas estão países como o Afeganistão, Serra Leoa ou Guiné. 
 
A contribuir para este lugar estão resultados muito negativos em indicadores como a possibilidade de usar água potável, um privilégio que apenas 42 por cento dos moçambicanos têm. 
 
É verdade que a economia moçambicana tem conseguido registar nos últimos anos ritmos de crescimento elevados, muitas vezes acima de cinco por cento, beneficiando especialmente da chegada de investimento estrangeiro. No entanto, sem petróleo, crescimentos ainda mais fortes que ajudariam a reduzir o enorme diferencial de riqueza existente não têm sido conseguidos. 
 
O PIB per capita de Moçambique ainda é de 1083 dólares (em paridade dos poderes de compra), um valor que é quase três vezes menos que a média do continente africano e quatro vezes menos que o registado pelos vizinhos da África do Sul. 
 
Como era de esperar os reflexos da crise económica mundial está agora a afectar os paises pobres que são essencialmente importadores de produtos e que devem se pagos a credito com juros altissimos. Houve uma subida do preço de combustiveis, o que agrava a situação de paises dependentes do mesmo como caso de Moçambique, isto agravado com a desvalorização, do metical.
 
O desemprego constitui um problema sério no seio dos moçambicanos e em Maputo o indice conhece proporções alarmantes, além de haver desempregados de longa duracão, que aderiram ao crime organizado e ao banditismo. Todos os dias milhões de cidadãos sofrem a desilusão de não conseguir um emprego desejado. 
 
O Estado Moçambicano têm alguma dose de interferência na economia do País, o que pode estar por detrás dos elevados índices de desemprego. A maior ou menor participação do Estado na economia do país é determinante para o deficit público, burocracia, centralização ou descentralização da administração pública ou da economia, corrupção, políticas econômicas por vezes desajustadas e desemprego. 
 
À luz do combate à pobreza e subdesenvolvimento, a situação criada em Maputo e que por dois dias provocaram o caos e paralisaram a cidade,constitui um óbice a necessária harmonia e estabelecimento de consensos entre as variadas vertentes da sociedade moçambicana. 
 
O diálogo é indespensável. Ser pobre não é dignificante mas não é vergonha; tem de viver-se com dignidade. Como moçambicano e patriota gostava de testemunhar nos próximos anos a passagem de uma boa percentagem de nacionais da classe pobre à classe média, mas para isso não basta sonhar; é necessário planificação económica, empreendimentos, trabalho e determinação, e que o ritmo de investimento estrangeiro cresça ainda mais. 
 
E para terminar os métodos utlilizados pelos grevistas não foram razoáveis nem legalmente aceites, e por outro lado criaram prejuizos desnecessários, além de pesar e dor. O governo que rege os interesses do estado através da policia reagiu como deveria para impor a lei e a ordem. 
 
Alguém politicamente interessado poderia estar ligado a esta amostra degradante de vandalismo, que afectou por dois dias o aparelho produtivo da cidade,mas quem?Alguém teria de dar a cara, mas parece que por enquanto ninguém da oposição politica quer ficar na fotografia com cara de bandido e inimigo da democracia. 
 
Infelizmente Moçambique ainda não tem petroleo e mesmo que tivesse petróleo em África não garante que a população venha a viver melhor, pelo contrário. Veja-se o caso da Nigéria e do Quénia. 
 
Faltam estruturas, força de vontade do governo, bons índices de alfabetização, empreendimento africano em solo africano,menos corrupção, planeamento familiar, cultura. Mas esta situação que permite o hemisfério Norte continuar a prosperar e o hemisfério Sul pobre e à mercê de interesses estratégicos que permite o norte estar sempre à frente é do interesse das grandes potencias. 
 
Como moçambiçano e patriota, continuo a acreditar na intenção do governo em proporcionar melhor qualidade de vida aos moçambicanos, e o meu voto é de confiança e um apelo aos mais desfavorecidos ao mesmo espirito, embora saiba ser dificil conciliar emocõe positivas quando se coabita com a pobreza. 
 
 
*Noticias Lusofonas

 

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Maputo: Governo Reconsidera Aumentos de Bens Essenciais

Comentario

manifestação desautorizada

Carlos Vicente | 13-09-2010

Nunca esta manifestações são autorizadas, por isso quando se levantaram contra o colonialismo os colonizadores autorizarão? Pois somente os governs ouvem as clamações d opovo desta unica forma.

Belo texto mas...

Carlos Machamba | 09-09-2010

ve-se claramente que este senhor é da Frelimo ou simpatizante. meu amigo, tu dizes que a policia reagiu como devia? disparando balas de verdade sobre a populacao é reagir como devia?bater em mulheres, prender sem mais nem menos é reagir como devia?

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