Os 35 anos de independencia: a visão de Luisete Araújo

Os 35 anos de independencia: a visão de Luisete Araújo

 

Caros presentes, estimados concidadãos. Apraz-me dizer que é realmente com imenso gosto e particular reconhecimento que me predispus a tecer algumas considerações em torno dos 35 anos de independência do nosso país.

 

Não escondo em afirmar que é extremamente difícil falar sobre a história de Angola sem pender o prato da balança para um dos lados, já que, os documentos escritos de imagens ou mesmo orais, são muito poucos e os que existem, não são tão fiáveis para dar o crédito necessário, porquanto cada protagonista tem uma versão que difere consideravelmente da do outro.

 

Contudo, antes de falarmos do presente, como consequência do passado que foi atribulado pelas suas peripécias originadas por traições de acordos, jogos de interesses, desconfianças, vou procurar resumir algumas datas que me parecem essenciais para termos uma mínima ideia daquilo que foi e a partir daqui cada um continuar pesquisa e documentar-se melhor que puder, já que finalmente, só podemos falar de Angola com propriedade se conhecermos o mínimo do que ela foi.

 

Para mim, Angola enveredou por este caminho, somente porque, aqueles que estiveram à frente das organizações e grupos que assumiram a responsabilidade de reivindicar sua independência e os passos seguintes, colocaram a frente, estereótipos de complexos culturais mesquinhos e fizeram valer a luta pela supremacia regional, tribal, étnica, em detrimento da unicidade da nação Angolana na sua diversidade. Foi por aí e continua a ser por aqui que aqueles que só querem Angola pela sua riqueza vão se aproveitando. Angola hoje é caracterizada pela política de exclusão, discriminação, corrupção, estrangeirismo e menosprezo dos angolanos que deviam constituir a força motriz da Reconstrução.

 

É esta barreira que antes de mergulhar na essência dos 35 anos de independência, gostaria de recordar aos jovens sobretudo que tomassem em conta, estudassem os porquês, por formas a não cometermos mais os erros do passado. Pois, ainda hoje continuamos a verificar que a Reconstrução de Angola está a ser alinhavada, sem ter estes elementos em conta o que pode vir a perigar num futuro breve.

 

Digo porque, a insatisfação que reina no seio da grande maioria que não se sente representada na estrutura do Estado e de Governo, nem se sente considerada no projecto social, económico e até mesmo político é cada vez maior e sua frustração, teme-se que venha a ser letal. Contudo é tempo de tomar isto em consideração de não descorarmos suas repercussões, para acautelarmos um futuro que se antevê muito imprevisível. Os senhores que têm a missão de pensar Angola e construir o seu futuro, a partir do presente, parece não se interessarem nada por isso.

 

Continuam a ignorar o choro dos pobres, a não fazer caso do grito dos sinistrados das demolições, menosprezam as lamúrias e reacções da juventude que se sente abandonada e frustrada, das mulheres que cada dia que passa tombam no desespero de verem um futuro melhor para seus filhos, quando nem sequer o governo lhes deixa manifestar contra a violência que faz o pão de cada dia neste país onde os próprios dirigentes são inculpados. O caso de 8 de Novembro em que senhoras da Plataforma Mulheres em Acção foram brutalizadas pela polícia e atiradas para as prisões, é simplesmente inacreditável em Angola onde propalamos aos quatro ventos que somos o país mais democrático do continente. Foi de facto vergonhoso, mesmo se queiram dizer excesso de zelo por parte dos polícias que evitaram a marcha pois o Chefe Máximo iria sair para Kazenga.

 

Os angolanos antes de tudo exigem respeito, estabilidade antes de tudo emocional e liberdade para eles próprios encontrarem soluções para seus problemas, já que o próprio estado se vê impotente. Mas, nem esta paz de espírito concedem ao angolano que é obrigado a ir participar nos festejos da independência, com que coração, com que alegria, se somos negados, somos rejeitados, perseguidos.

 

35 anos que rogamos pelos mesmos problemas, os mais primários como os que identificam a luta contra a miséria. Os angolanos suplicam pelo mínimo, educação adequada para que os nossos filhos deixem de ser os desprezados do tempo colonial como foram os nossos pais; exigem água para a decência social mesmo sendo pobres; exigem energia eléctrica até pelo menos para poderem conservar seus alimentos e evitar doenças que provocam mortes por falta de recursos na cobertura médica e medicamentosa; exigem estradas para poderem se movimentar nem que seja para visitar o parente doente ou para se distrair e partilharem as amarguras desta vida que tira o sossego de todos nós.

 

Nesses 35 anos, só temos a pedir uma coisa aos nossos dirigentes, que devolvam a dignidade para os angolanos, que nos deixem em paz, que nos permitam chorar, que nos permitam ter o orgulho de pertencer a família angolana e nos dêem o prazer de viver e um motivo para cada um suspirar e bradar: "Apesar de tudo, sou feliz". Isto ainda não aconteceu e com esta ambição toda que não tem freio, com esta mentira, programas de requalificação urbana enganosos que só têm como objectivo adiar a ira dos cidadãos, não temos mais nada a dizer, senão estamos decepcionados e forçados a questionarmos se de facto valeu mesmo a pena esta independência.

 

Não significa isso arrependimento, é mais uma manifestação de desagrado. Podemos muito mais, devemos muito mais, merecemos o triplo do que este governo nos dá e por cima com escárnio, obrigando-nos a agradecer toda a vida como se fosse uma esmola.

 

Muito dinheiro é desviado, apenas vemos exibidos na TV, coitados meliantes que roubam viaturas como consequência desta má governação, aqueles que roubam milhões nunca dão a cara, nunca ouvimos sua prisão, os dossiês são sempre arquivados.

 

É tudo isso que pedimos ao Presidente da República que por exemplo neste dia de reflexão venha a público esclarecer porque nós como povo soberano e único soberano, merecemos explicação.

 

Mas como disse, vamos em conjunto passar em revista algumas datas, para nos inteirarmos de algumas etapas cruciais da história de Angola traída; esta Angola de Nginga Mbandi, Mutuyakevela, Ekuikui, Mandume e outros que seria bom tenham resistido estoicamente em vão.]

 

1960 – três movimentos de libertação UPA/FNLA; MPLA; UNITA, contra o colonialismo e sobretudo contra uma ditadura portuguesa.

 

1968 – início da exploração de petróleo em Cabinda a economia e o crescimento de Angola começou a subir de forma considerável, pois beneficiava das potencialidades da agricultura que também começou a ser exportadora.

 

25 de Abril 1974 derrube da ditadura fascista – inicio das negociações com os três movimentos de libertação.

 

Janeiro de 1975 – Acordos de Alvor/ Algarve – Portugal, estabeleceu os princípios da partilha do poder – foi de facto um documento que logo a partida os assinantes a começar pelos anfitriões sabiam que não iria dar certo (Almeida Santos – Ministro português da Coordenaçao Interterritorial).

 

(Logo depois inicia a guerra civil na luta pelo control das vilas e sobretudo de Luanda).

 

11 de Novembro 1975 – Independencia de Angola proclamada unilateralmente pelo MPLA, quer dizer, sem a presença de outros movimentos, nem de autoridades portuguesas.

 

Cada movimento era apoiado por uma potência estrangeira MPLA – CUBA e URSS desde Outubro de 1975:

 

FNLA – Pelo ZAIRE, e depois África do Sul através dos EUA (Agosto de 1975)

 

UNITA - na altura não tinha apoios consideráveis, só mais tarde é que os sul-africanos resolveram também apoiar a UNITA.

 

27 de Maio 1977 – A dita intentona (fraccionista) encabeçada por Nito Alves cujos contornos ainda estão por se esclarecer.

 

A guerra jamais parou e alastrou-se em toda a dimensão do território, espalhando mortos, deslocados, refugiados.

 

10 de Setembro de 1979 - Agostinho Neto Morre em Moscovo.

 

Eduardo dos Santos na Altura Ministro do Plano é colocado em substituição.

 

1981 Agosto – Sul africanos lançam uma vasta ofensiva contra a SWAPO que tinha as suas bases aqui em Angola no cunene.

 

A guerra se intensificou, a UNITA ocupa uma zona muito vasta ao longo de toda a Fronteira sul de Angola e instala a sua capital na Jamba.

 

1986 – Savimbi é recebido na Casa Branca pelo Presidente Ronald Reagan, facto que veio a dar um grande impulso e poderio militar a UNITA, para além de um reconhecimento internacional muito forte. Estavamos então em pleno período da Guerra Fria e a UNITA foi inserida na estratégia da luta contra o Comunismo a nível do mundo.

 

1987 – Sul africanos assumem praticamente o apoio a UNITA, na célebre ofensiva pelos cubanos e FAPLA de Kuito-Kuanavale/ Mavinga que visava o desmantelamento total da UNITA.

1988 Dezembro – Em Nova Iorque, assina-se uns acordos que estabelecem a retirada das tropas Sul africanas e a consequente independencia da Namibia e a retirada dos cubanos.

1989- O Bloco URSS desmorona-se.

 

1989 – Junho - UNITA/ MPLA em Gbadolite (Zaire).

 

1990 – Abril – Savimbi reconhece dos Santos como Chefe de Estado angolano.

 

11 de Maio de 1991 – Governo de Angola publicou uma lei que autoriza a criação de outros partidos, portanto, sai-se do monopartidarismo para o multipartidarismo.

 

31 de Maio de 1991 – com a mediação de Portugal, Rússia, EUA e ONU assina-se os acordos de Bicesse em Estoril – Portugal.

 

Setembro de 1992 - Então as 1ªs eleições livres em Angola mas que não foram conclusivas por reclamações de fraudes pela UNITA.

 

1993 – O Conselho de Segurança decretou o embargo, proibição de transacções ou importação de material de guerra tanto para o governo, como para UNITA.

 

1994 – Novembro assinou-se os Acordos de Lusaka/ Zambia.

 

O Ocidente virou totalmente as costas a UNITA e passou apoiar quase que incondicionalmente o Governo/MPLA.

 

Foi realmente um golpe duro para UNITA que tinha um exército de mais de 300 mil homens, para além de uma população inestimável que se distendia pelas vastas áreas que a UNITA controlava na totalidade.

 

1998 – A guerra recrudesceu com muito mais violência que veio durar até 2002, marcada com a morte do líder Doutor Savimbi.

 

No final da palestra a candidata do povo as eleições Presidenciais de 2012, pediu aos participantes alguns minutos e orou por Angola.

 

Luisete Macedo Araújo

Secretária para os Assuntos Políticos e Eleitorais dos POC´S

 

 

Fonte: Despertar

 

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