Kuando-Kubango: MPLA (local) contra Governador

Kuando-Kubango: MPLA (local) contra Governador

Na foto: Governador do Kuando Kubango

 

Exclusão, tribalismo, regionalismo e falta de visão política são palavras que estão na ordem do dia no Kuando-Kubango, onde as estruturas locais do partido no poder interferiram (in)directamente na governação.

Exclusão, tribalismo, regionalismo e falta de visão política são palavras que estão na ordem do dia no Kuando-Kubango, onde as estruturas locais do partido no poder interferiram (in)directamente na governação.
 
O ambiente político entre o Executivo do Kuando-Kubango e o MPLA a nível local é - por mais incrível que pareça - de cortar à faca. Chega até a causar a impressão de que o partido no poder, in situ, está a remar contra o programa do seu próprio Governo saído das eleições legislativas realizadas em Setembro de 2008, como se fizesse, paradoxalmente, o papel reservado à Oposição.
 
Sem o apoio e a influência de que goza o veterano Francisco Tuta «Batalha de Angola», o 1.º secretário do partido no poder na província que tem a antiga cidade de Serpa Pinto como capital, o actual governador do Kuando-Kubango, Eusébio de Brito Teixeira, está, de algum tempo a esta parte, num trapézio sem rede, e, se não se precatar, corre o risco de se estatelar ao comprido.
 
A estória é longa, mas conta-se de um só fôlego. O marco do episódio que segue é o ano de 2008, altura em que foram realizadas as segundas eleições legislativas no país. Volvidos alguns meses depois da divulgação dos resultados eleitorais, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, nomeou o antigo comandante das tropas da 6.ª Região Militar e general das Forças Armadas Angolanas (FAA), para o cargo de governador do Kuando-Kubango.
 
A indicação presidencial do referido general das Forças Armadas Angolanas (FAA) não foi bem acolhida pelos membros do Comité Provincial do MPLA naquela região do nosso país pelo alegado facto de o mesmo ser «mukakuiza»; ou seja, natural de uma outra província. O mal-estar agudizou-se mais ainda quando Eusébio de Brito Teixeira havia sido proposto, enquanto governador do Kuando-Kubango, para o cargo de primeiro-secretário local do MPLA.
 
Arregimentados pelos membros Comité Provincial do MPLA, um determinado número de sobas e populares acusaram o governador Eusébio de Brito Teixeira de pre-potência e arrogância. Por outras palavras: não o queriam nem como governador, nem como primeiro-secretário do partido a nível local.
 
Dito de outro modo: querem vê-lo pelas costas pelo facto de, segundo um documento, o governador ter exonerado 570 homens e mulheres,que até então estavam devidamente enquadrados na Função Pública.
 
Os subscritores do documento acusam, entre outros factos, o governador de ter recrutados homens pertences às extintas Forças militares da UNITA para trabalharem na(s) sua(s) fazenda(s), o que, de acordo com o mesmo documento, está a deixar sem sono «as autoridades partidárias locais (…) e que está a afastar muitos militantes do MPLA (sic)».
 
Namíbia ou Zâmbia!...
 
Entretanto, fonte do Governo provincial do Kuando-Kubango contactada por este jornal defendeu a sua dama (entenda-se, Executivo), afirmando que o que está em causa é apenas e decididamente o facto de o poder político local estar a ser exercido por um «mucacuiza».
 
De tanto estar abespinhado com Eusébio de Brito Teixeira, houve um membro do Comité provincial do MPLA que terá acusado - na presença do coordenador do Grupo de Acompanhamento à província, Manuel Nunes Júnior - a direcção central do partido no poder de «tribalista».
 
O referido dirigente a nível local do partido no poder insinuou, por exemplo, que a província do Kuando-Kubango deveria pertencer à Zâmbia ou à Namíbia e que se pudesse mudar de naturalidade, mudaria.
 
Alguns membros do Comité Provincial do MPLA no KK, que não vão com a cara de Eusébio Teixeira, põem em causa, segundo fonte do Executivo local, o programa de reassentamento das populações nos municípios de Mavinga e Rivungo, onde o MPLA perdeu as eleições por larga maioria.
 
O quadro naquela região – prosseguiu a fonte – tem estado a mudar consideravelmente, mas os membros do Comité Provincial do Partido minimizam e desencorajam os esforços do Executivo local, dizendo que retirar as populações das matas é o mesmo que votar na UNITA.
 
Segundo um documento a que o SA teve acesso, os membros do Comité Provincial do MPLA orientaram, na sexta-feira da semana passada (07), o locutor do programa radiofónico «Hindukeni» a instigar as populações nativas a levantarem-se contra a governação local.
 
Emitido em língua nacional nganguela, o referido radialista terá agitado a consciência política dos rádio-ouvintes dizendo que «esses senhores não falam a nossa língua, não ouvem o que estamos a dizer».
 
Os membros da Comissão do Bureau Político do Comité Central do MPLA, que no passado dia 27 de Dezembro de 2010 se deslocaram ao Cuito-Cuanavale e ao Cuchi, por pouco não foi «brindada» com uma manifestação de protesto, o que só foi evitado graças ao facto de as autoridades policiais locais terem sido alertadas a tempo e horas.
 
Sobre o tribalismo
 
Segundo um texto retirado da Internet e que o SA, com a devida vénia, cita aqui a propósito deste fenómeno dos «mukakuizas» que estamos a tratar, o maior «bicho-papão» desta terra é o racismo, que assume várias formas, consoante o alvo.
 
«Umas vezes é racismo e outras tribalismo. Na verdade, é apenas mais um aspecto da desconfiança que os angolanos sentem, não só dos estrangeiros, mas também deles próprios», sublinha o autor, um tal de Afon-so Loureiro, um estrangeiro provavelmente português, com «alma de engenheiro» que vai debitando algumas coisas sobre o que viu ou vê entre nós.
 
«Ao mínimo sinal de injustiça contra alguém, mesmo que imaginada, a única motivação possível só pode ser o racismo ou tribalismo. Em caso de preterimento para um emprego, por exemplo, a justificação será o racismo, caso o outro candidato tenha a pele mais clara, ou o tribalismo, caso a etnia do escolhido seja diferente da sua, não importando em nada que as qualificações de um e de outro indiquem claramente o mais adequado», sublinha o homem.
 
Ele diz que, há alguns meses, uma notícia num jornal privado (provavelmente o nosso SA) indicou que mais de metade dos altos cargos governativos são ocupados por angolanos da etnia Kimbundu, o que poderia indicar um tribalismo latente no próprio Estado.
 
Mas, segundo o próprio, não vejamos conspirações sombrias logo à partida e pensemos um pouco na História do MPLA.«Durante as fases mais difíceis de afirmação, o MPLA esteve restringido a Luanda e às margens do Kwanza, zona predominantemente Kimbundu, pelo que será natural que os quadros superiores dessa época fossem dessa etnia», defende Afonso Loureiro, que acrescenta: «A situação modificar-se-ia se houvesse uma renovação rápida destes quadros, com a entrada de gente nova de outras partes do país, mas as figuras que hoje encabeçam o MPLA são as mesmas quase desde a tomada de posse de José Eduardo dos Santos como Presidente. Os mesmos nomes alternam entre governadores de província, ministros, deputados, embaixadores e governadores de província novamente, ao longo de décadas».
 
Para ele, a existência de muitos Kimbundu no seio do Governo não é sinal de tribalismo: é um reflexo da História e também do apego ao cargo, talvez.
 
«Será talvez por não se admitir que haja tribalismo que grande parte da guarda presidencial seja constituída, ao que se diz, por soldados da etnia Ovambo, do sul de Angola, conhecidos por não gramarem (…) os angolanos nascidos a norte do Kwanza, exactamente aqueles que rodeiam o Presidente. Não é tribalismo, é a ironia do destino», remata Afonso Loureiro.
 
 
Fonte: SA
 

 

 

Comentario

tribalismo e racismo

anónimo | 13-07-2011

Atenção meus senhores.
o facto de existirem muitos quimbundos ou umbundos não implica que sejam eles só a mandar, ainda que seja na casa alheia. O termo mukuakuiza é um termo usado nas Lundas onde a língua predominante é Tchokwé e não Ngangela. Se Angola é para os angolanos, então também merecemos respeito e queremos a nossa parte.

Âs Consequências do Tribalismo Vrsus/Fraccionismo

Zeferino António Casanga | 24-01-2011

Parece uma situação simples.
Atenção.
A revolta do leste, no seio do MPLA, começou nestas paragens (Moxico,Kuando Kubango e na ex-Lunda, actuais Norte e Sul)
O 1º Secretario é do Moxico.
Combateu nessas regiões.
Esteve muito proximo dos fraccionistas, para não dizer que foi um deles, mas saltou quando viu que as coisas estavam a ficar mal.
Não são todos mas, existem no seio da comissão executiva CIONCO mafiosos que tentam usar o nome do NOSSO GLORISO MPLA, para tirar dividendos pessoais.
Atenção Camarada Presidente. Não deixe passar muito tempo.
A Situação pode sse tornar EXPLOSIVA.
Viva o MPLA.

Tribalismo e racismo

lita | 18-01-2011

Tenho de concordar com esta última parte deste artigo, onde o seu autor justifica a existência de muitos indivíduos de origem kimbundu no governo, por factos históricos. É verdade sim senhor atendedo factos históricos, que estão documentados em livros.

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