Julian Assange: "Recebo ameaças de morte a toda a hora"

 

O depoimento do australiano arranca com uma descrição: num dos dias que passou preso no Reino Unido, à hora de almoço, perdeu um dente devido a um objecto metálico que tinha sido misturado no prato de arroz com feijão que ingeria. Quando chegou à sua cela, continua, guardou o dente num papel branco e voltou a sair durante uma hora. Porém, quando regressou o dente tinha desaparecido. ""Em breve estará à venda no eBay", brincou o australiano, que concendeu a entrevista na cozinha da mansão do jornalista e seu amigo Vaughan Smith, onde se encontra em liberdade condicional.

 

Questionado pelo El Pais sobre por que prestou uma breve declaração no dia em que foi libertado, Assange explica que a polícia estava preocupada que fosse assassinado. "Recebo ameaças de morte a todo a hora. O meu advogado e os meus filhos recebem-nas", disse, acrescentando que "as ameaças parecem vir de membros das Forças Armadas dos Estados Unidos".

 

Na entrevista, o fundador da Wikileaks revela que foi "transferido três vezes" de cela. "Primeiro estive numa cela provisória. Ao contrário de outros prisioneiros, a minha cela esteve sempre fechada durante este período. Em seguida, fui transferido para ala Onslaw, que tem 350 presos e são os que representam um perigo físico para os outros prisioneiros ou guardas: pessoas que supostamente foram condenadas por crimes sexuais, assassinatos de crianças". Por último, refere, "fui transferido para uma unidade de isolamento, para onde são enviados os prisioneiros indisciplinados".

 

Sublinhando que as condições eram "cada vez mais duras", Assange conta que havia pedófilos enlouquecidos que gritavam toda a noite sobre os seus crimes.

 

Para ter direito a fazer chamadas telefónica era necessário iniciar procedimentos que duravam uma "eternidade", revelou ao jornal espanhol, salientando que só conseguiu efectuar quatro chamadas sem ser para os seus advogados durante os nove dias que este preso.

 

Sobre as acusações de crimes sexuais que recaem sobre si, Assange diz que são "falsas", vincando que "nunca teve uma relação sexual com alguém sem consentimento".

 

Garantindo estar "determinado", o fundador da Wikileaks adiantou que tem recebido apoio "à escala global", inclusivamente de pessoas próximas do poder como o Presidente do Brasil, Lula da Silva. "É um caso especial porque já se retirou e isso permite que seja mais directo. Já não tem que prestar lealdade aos Estados Unidos", confidenciou.

 

Depois de ter revelado milhares de telegramas da diplomacia norte-americana, Assange disse recentemente que irá libertar documentos reveladores de "práticas pouco éticas" de alguns bancos norte-americanos. Especula-se que entre as instituições financeiras mencionadas na correspondência diplomática esteja o Bank of America, que ontem anunciou que vai cancelar os pagamentos à WikiLeaks, seguindo o exemplo da MasterCard, da Paypal e da Visa Europa.

 

O fundador do Wikileak saiu da prisão de Wandsworth em liberdade condicional, na passada quinta-feira. O australiano de 39 anos estava detido desde 7 de Dezembro, depois de se ter entregue voluntariamente à polícia britânica, na sequência de um mandado de captura internacional, emitido pela Suécia, para que fosse extraditado para Estocolmo e responder a acusações de crimes sexuais.

 

Assange, que teve de pagar 236 mil euros de caução para sair da prisão, aguarda agora que o tribunal decida sobre a sua extradição para a Suécia.