Inocente sofre junto a violadores

Inocente sofre junto a violadores
Na foto: Bakar Balde com a esposa e o filho
 
Ser recebido no Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL) com o ‘selo’ de violador foi o pior que aconteceu a Bacar Balde, julgado à revelia pelo Tribunal de Vila Nova de Gaia e condenado a três anos e meio de prisão por violação de uma jovem deficiente e menor de idade.
 
Foi libertado na terça-feira por ordem do mesmo tribunal, depois de os exames de ADN dizerem que estava inocente.
 
"Não podia fazer nada. Só tinha direito a estar no pátio durante meia hora", conta Balde, guineense de 28 anos. No EPL foi colocado na ala dos violadores – onde está, entre outros, Henrique Sotero, conhecido como o ‘violador de Telheiras’. Durante as duas semanas em que esteve detido, Balde não sofreu represálias físicas, mas ouviu palavras hostis dos outros reclusos. "Provavelmente, porque estive lá pouco tempo. Mas foi um choque".
 
Antes de ser detido, no início deste mês, Balde foi várias vezes abordado por inspectores da Judiciária, que lhe perguntaram se tinha violado uma jovem em Vila Nova de Gaia. "Sempre disse que não tinha violado ninguém e que nunca estive em Vila Nova de Gaia." Na mesma altura Balde estava a ser julgado à revelia, sem saber. Ainda assim, a PJ nunca deteve Balde, nem este foi constituído arguido.
 
Bacar Balde está determinado e vai processar o Estado. 
 
"Estive preso por um crime que não cometi. 
 
Que se faça justiça!"
 
 
 
O Bacar Balde vai processar o Estado português. Porquê?
 
 
 
Porque fui condenado à revelia por um crime de violação cometido por outra pessoa em Novembro de 2008. Um crime que aconteceu numa cidade onde nunca estive, Vila Nova de Gaia. E por causa disso ainda passei um mês na prisão, até ter sido libertado na última terça-feira, graças aos resultados dos testes de ADN. Só que esse teste devia ter sido feito antes de eu ter ido parar à prisão. Estive preso por um crime que não cometi e por isso espero que se faça justiça!
 
Como é que foi implicado nesse processo?
 
 
Tudo começou quando eu perdi o meu bilhete de identidade em Espanha, há três anos. Quando voltei a Portugal, participei do extravio do documento às autoridades. Parecia estar tudo normal. Até ao dia 16 de Outubro deste ano, quando a PSP me deteve em Lisboa e me mostrou um mandado de detenção para eu ir cumprir pena por um crime de violação de uma menor deficiente. Quem cometeu o crime deixou no local o meu bilhete de identidade.
 
Foi julgado à revelia pelo Tribunal de Vila Nova de Gaia. O tribunal nunca o conseguiu localizar?
 
Nunca conseguiu. Sei agora que entraram em contacto com uma empresa de construção de Vila Nova de Gaia. Mas nunca na minha vida estive em Gaia. De Portugal só conheço Lisboa e arredores. Essa violação foi feita por alguém que tinha o meu bilhete de identidade. Como é que o meu BI perdido em Espanha veio parar a Portugal não sei, mas foi isto que aconteceu.

Quando a PSP o deteve foi conduzido a que cadeia?
 
Recolhi ao Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL) e meteram-me na ala dos violadores. Perto de mim estava aquele que é conhecido por "violador de Telheiras". Estava numa cela individual e só tinha uma hora de recreio por dia, no pátio. Foi assim durante um mês até à última terça-feira. Mas não fui maltratado na prisão. Só que estar preso por algo que não se fez é horrível.
 
A sua mulher Sónia acreditou logo na sua inocência?
 
Sim, eu já estou junto com a Sónia há três anos. Ela sabia que eu não era culpado de nada e que nunca estive em Gaia.
 
O seu advogado referiu ao DN que vai avançar com acção contra o Estado português. Já pensou num valor de indemnização que ache compensador?
 
 
Não, não pensei no dinheiro ainda. Só sei que se houvesse pena de morte em Portugal podia ter sido condenado à morte por um crime que não fiz. O que quero é que seja feita justiça e se limpe o meu nome.
 
 
Fonte: DN/Correio da manha
 
 

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