As Artimanhas de Gbagbo - Sousa Jamba

As Artimanhas de Gbagbo - Sousa Jamba

O veterano jornalista Britânico, Richard Dowden, interrogou-se recentemente sobre a teimo­sia do líder Ivoriano, Laurent Gbagbo. Todo mundo, menos ele e os seus próximos, concluiu que o vencedor das ultimas eleições era o Allassane Ou­attara. A Comissão Eleitoral Indepen­dente tinha anunciado que o Ouattara ti­nha ganho a segunda ronda das eleições. De repente, o tribunal constitucional, liderado por um amigo muito próximo de Gbagbo, invalidou todos os votos de regiões aonde o Ouattara tinha ganho e declarou o Gbagbo vencedor.

 

Todo o mundo esta insistir que o Gbagbo tem que abandonar o poder. Ele insiste que ninguém, mas ninguém mesmo, poderá lhe tirar do caldeirão máximo daquele pais. O Gbagbo parece mesmo não ter consciência da comunidade internacio­nal.

 

Segundo o Dowden, não se trata aqui de um sargento iletrado com pouco conhecimento do mundo. O Gbagbo, ele notou, formou-se em historia na presti­giosa universidade de Sorbone na Franca. Há mesmo muita gente que vai fazendo a mesma pergunta: como é que um in­telectual pode ser tão teimoso.

 

Como o Robert Mugabe, o Gbagbo concluiu que, ao fim do dia, vale mais reter um certo poder (mesmo se isso resultar na ostraci­zação do mundo) do que não ter nenhum poder. É que, como o Mugabe, o que mais sempre interessou o Gbagbo foi o poder. Se tratarmos o assunto com o cer­to rigor, pode-se mesmo dizer que o Lau­rent Gbagbo esta no poder desde de 2000 com muito pouca legitimidade. O Gabg­bo provou ser perito em evitar as eleições, alegando falta de condições. Durante este tempo, ele não foi preparando o pais para a realização de eleições e fortificação das instituições governamentais; ele estava mais interessado em criar condições para a sua continuidade no poder.

 

O Gbagbo, que passou anos e anos na oposição e que ate passou pela as cadeias de Houphoet Boigny, sabe exactamente o que é não ter o poder. Ele sabe, também, o que é, afinal, ter o verdadeiro poder. Muita gente pelo o mundo fora, que esta a insistir que o Gbagbo abandone o poder, pensa que isto seria apenas uma questão de ceder as pastas ao Ouattara enquan­to as instituições que asseguram a fun­ção publica iriam ajudar o novo regime a adaptar-se na condução do sistema. Na Costa do Marfim, as coisas não são assim tão simples. O poder de Laurent Gbgagbo é um poder altamente personalizado: tudo evolve-se a volta de Laurent Gbagbo e os seus próximos.
 
 
Alguns meses atrais, estive em Abidjan para escrever sobre a nova industria pe­trolífera. O que eu não entendia era como um intelectual como o Laurent Gbagbo es­tava a presidir sobre uma capital altamen­te suja. O lago em frente do centro comer­cial de Abidjan estava cheio de erva qu não tinha sido cortada. Abidjan tinha caído no caos de Lagos: uma Monrovia (capital da Liberia) ou Accra (capital do Gana) estava melhor organizada e gerida do que Abid­jan.
 
O único local na capital que era razo­ável era Hotel Golf, que tornou-se famoso porque é lá aonde o Allasane Outtara e a sua equipe encontrasse a ser guardados por militares das Nações Unidas. Quan­do fui para o interior do pais, notei que as famosas estradas construídas pelo o Houphoet Boigny não so tinham buracos mas o espaço que dividia as vias das auto-estradas tinha se tornado em mata. Notei na altura que o Gbagbo falava muito. Ele disse uma vez que a revolução Francesa não iria ser realizada efectivamente na presença da Amnistia Internacional; este antigo activista já não de dava bem com as organizações de direitos humanos que documentavam sistematicamente as in­fracções de gente muito próxima a Gba­gbo. Na altura, estava mais do que claro que o Gbagbo e os seus próximos estavam interessados somente em reter o poder. Durante a minha estadia, tentei falar com pessoas ligadas a industria petrolífera.
 
 
A figura que oficialmente estava encar­regue do dossier do petróleo recebeu-me muito bem no seu escritório. O senhor tinha sido formado nos Estados Unidos aonde tinha deixado um filho cuja foto ele mostrava para varias pessoas dizendo que tinha, também, o seu Obama. Quando insisti em saber sobre o petróleo o senhor disse-me que ele era, apenas, uma figura para o Ingles Ver: quem sabia e tinha uma noção exacta da industria petrolífera era uma figura próxima do presidente Gbag­bo. O senhor insistiu que ele sabia mes­mo muito pouco do seu sector porque o Gbagbo controlava tudo. Há, na Costa do Marfim, degraus e degraus de poder e o Gabgo esta no epicentro do mesmo.
 
 
A Primeira Dama da Costa do Mar­fim, a Simone Gbagbo, é, também uma forca poderosa no sistema de Gbagbo. A um certo momento, dizia-se que a Pri­meira Dama estava sob influencia de um Pastor Evangélico que insistia que o seu esposo, Gbagbo, tinha sido escolhido por Deus. Como é que esses Cristão funda­mentalistas iriam aceitar que o pais fosse, de repente, liderado por um muçulmano?
 
O Gbagbo rodeou-se, também, de certos extremistas do sul do pais que consideram que todos nortenhos não são, verdadeira­mente dito, Ivorianos. É que, historica­mente, os nortenhos vinham para o sul aonde havia as plantações de cacau. Para justificar a posição baixíssima dos imi­grantes vindos do norte do pais, certos sectores tacanhos da elite Sulana da Costa do Marfim foi promovendo noções alta­mente negativas dos seus compatriotas do norte.
 
 
Há, na Costa do Marfim, a tradição, herdada de Houphoet Boigny, da concen­tração do poder numa só figura que deter­mina os circuitos de patrocínio. Muitos dos fundos da Costa do Marfim não iam para o tesouro publico: o Gbagbo divi­dia os fundos entre os seus para garantir a sua permanência do poder. Diz-se, por exemplo, que o General Phillip Mangou, chefe do exercito de Gbagbo, ganha cerca de quarenta mil euros por mês. O Gbagbo criou, também, um exercito privado que é bem pago e que tem tido treinos razoáveis. Como é que um homem iria abandonar tudo isso só assim e deixar que o Allasane Ouattara viesse a controlar tudo com tan­ta facilidade?
 
 
Fonte: www.a-patria.com
 
 

Comentario

Não foram encontrados comentários.

Novo comentário

Reflexão da semana

2011 o ano pré-eleitoral em Angola - Carlos Lopes

O ano de 2011, tem a particularidade de dar-nos uma capicua (11-11-11), ou seja, na comemoração de mais um aniversário da independência de Angola.   O cidadão Angolano residente na capital e que vive no limiar da pobreza, vai continuar a ser deslocado para a periferia, onde estão os novos guetos criados pelo Executivo, enquanto assiste ao erguer de grandes...
<< 1 | 2 | 3 | 4 | 5 >>

 

www.a-patria.com      O portal de noticias de Angola

 

 

Clique no botão Play para tocar o Ipod!

As músicas tocarão automaticamente!



 

Publicite no nosso Site!