As revelações de George W. Bush

As revelações de George W. Bush

 Ausente da política americana e internacional durante os últimos dois anos, George W. Bush volta hoje à actualidade mediática com o lançamento das suas memórias: 'Decision Points' - Momentos Decisivos, numa tradução livre para português. O regresso do presidente cuja imagem ficou associada às guerras do Afeganistão e do Iraque acontece numa altura em que os republicanos recuperaram forças nas eleições intercalares, conquistando a maioria na Câmara dos Representantes. Apesar de a editora Crown ter tentado manter o segredo à volta do conteúdo do livro, vários jornais e blogues norte-americanos já divulgaram pormenores. As revelações vão desde a sua decisão em deixar de beber álcool à sua relação com o Papa João Paulo II, passando pela resposta ao furacão 'Katrina', a invasão do Iraque, os ataques terroristas de 11 de Setembro e a consequente guerra que foi desencadeada contra a Al-Qaeda. O ex-presidente dos EUA deu também entrevistas aos programas 'NBC Today' e Oprah Winfrey. 

 

Apoio à prática da simulação de afogamento
 
Quando lhe perguntaram se autorizava o uso de técnicas de interrogatório mais agressivas, como a simulação do afogamento, contra Khaled Sheikh Mohammed, o então chefe do Estado americano respondeu: "Sem dúvida!" Mohammed, preso no Paquistão, em 2003, é acusado de ser o arquitecto do 11 de Setembro e também o responsável pelo rapto e assassínio do jornalista Daniel Pearl.
 
Actualmente encontra-se detido na prisão da base militar americana em Guantánamo. Esta confissão pode, no futuro, virar-se contra Bush, dizem alguns activistas da defesa dos direitos humanos. Mesmo assim ele mantém: "Tomaria a mesma decisão outra vez para salvar vidas." Foi durante os mandatos de Bush que vieram a público os escândalos de maus-tratos a prisioneiros iraquianos na cadeia de Abu Ghraib e o caso dos voos e das prisões secretas da CIA. Vários suspeitos de terrorismo e de ligação à Al-Qaeda foram presos e levados para centros de detenção, onde foram torturados.
 
A decisão de deixar o álcool
 
Na primeira parte das suas memórias, o ex-presidente republicano fala sobre o vício do álcool, que conseguiu abandonar em 1986. "Era uma pergunta simples: és capaz de te lembrar da última vez em que bebeste?", lê-se no primeiro capítulo do livro, intitulado precisamente 'Quitting' (Deixar). "Tornou-se um amor que começou a competir com o amor da minha mulher e das minhas filhas", disse, na entrevista à NBC, considerando, porém, que nunca foi fisicamente viciado.
 
Na mesma conversa com Matt Lauer na NBC afirmou estar arrependido de não ter tornado público que, em 1976, fora multado por conduzir sob efeito do álcool. 
 
A imprensa descobriu e, em 2000, usou isto contra ele durante a campanha. Nesse ano, Bush foi candidato à Casa Branca contra o democrata Al-Gore, que tinha sido vice-presidente de Bill Clinton. Bush acabou por ser declarado vencedor após uma controversa batalha judicial sobre a recontagem dos votos no estado da Florida. 
 
Incomodado por não haver armas no Iraque
 
George W. Bush admite nas suas memórias que deveria ter reagido com maior rapidez ao furacão Katrina em 2005. 1836 pessoas morreram. A cidade de Nova Orleães ficou praticamente devastada, pois os diques que sustinham a força das águas do mar rebentaram, provocando inundações fatais para os seus habitantes. Ainda hoje, muitos dos residentes que ficaram desalojados na altura sentem receio de lá voltar.
 
O ex-presidente dos EUA disse ter ficado completamente arrasado com uma declaração que foi feita na altura pelo conhecido rapper Kenye West: "George W. Bush não quer saber dos pretos." Bush disse, na entrevista à NBC, que foi um erro não ter feito uma paragem no estado do Luisiana, um dos mais afectados, deixando-se fotografar a bordo do avião presidencial Air Force One com um ar um tanto alienado em relação ao que se passava. "Enquanto líder do Governo federal, eu deveria ter reconhecido as falhas mais cedo e feito uma intervenção mais rápida." 
 
A hipótese de deixar cair Cheney
 
 
 
Na corrida para a reeleição nas presidenciais de 2004, o vice--presidente Dick Cheney ofereceu-se para sair do 'ticket' republicano, dada a sua baixa popularidade e a sua fama de figura ao estilo Darth Vader (numa referência à personagem da Guerra das Estrelas ). Bush admite que chegou a considerar a hipótese de o deixar cair, substituindo-o pelo senador Bill Frist na candidatura à vice-presidência dos EUA. No final decidiu continuar com Cheney. "Eu não o tinha escolhido para ser um activo político, mas para que ele me ajudasse a fazer o meu trabalho", confessa o 43.º presidente dos EUA, hoje com 64 anos de idade. Na entrevista à NBC, Bush conta que Cheney ficou muito chateado com ele por ter deixado que o seu chefe de gabinete, Scooter Libby, fosse condenado na justiça. Libby era acusado de revelar a identidade da agente da CIA Valery Plame. "Não acredito que vais deixar um soldado no campo de batalha", disse Cheney para Bush, na altura. 
 
A influência do Papa João Paulo II
 
Ao longo dos seus oito anos de mandato na Casa Branca, Bush teve três encontros públicos com o Papa João Paulo II, em 2001, em 2002 e em 2004.O pontífice morreu a 2 de Abril de 2005. A influência que o líder católico tinha sobre ele foi decisiva para restringir a investigação com células estaminais, confessa. "Eu sentia a responsabilidade de dar voz às minhas convicções pró-vida e orientar o país na direcção daquilo a que João Paulo II chamava a cultura da vida", conta Bush.
 
Em relação à questão do aborto terá pesado também a história da sua mãe. Barbara Bush teve um aborto espontâneo quando ele era adolescente. E a mãe mostrou-lhe o feto. "Eu nunca esperei ver os restos de um feto, que ela tentara salvar num frasco para levar para o hospital", escreve no seu livro. "Não há dúvida de que isso me afectou, uma filosofia de que devíamos respeitar a vida", acrescentou o ex-chefe do Estado americano, na entrevista ao programa NBC Today. 
 
Ordem para abater aviões comerciais no 11 de Setembro
 
Quando o voo 93 da United Airlines caiu na Pensilvânia na manhã de 11 de Setembro de 2001, já depois de dois aviões terem embatido nas Torres Gémeas e um outro no Pentágono, Bush pensou que o aparelho tinha sido abatido pela Força Aérea dos EUA. Isto porque o presidente, apanhado de surpresa pelos ataques terroristas da Al-Qaeda, tinha dado ordem para abater aviões de passageiros que levantassem suspeitas.
 
As caixas negras do voo 93 revelaram depois conversas que permitiram saber que os passageiros do avião se tinham revoltado contra os terroristas, numa tentativa de tomar o controlo do aparelho e impedir que atingisse o alvo. Este, diz-se, seria provavelmente a Casa Branca. Na queda deste avião, morreram 40 pessoas, incluindo os terroristas ligados à Al-Qaeda. Ao todo, nos atentados do 11 de Setembro, morreram 2 977 pessoas (incluindo os 19 piratas do ar). Na altura dos ataques, Bush estava de visita a uma escola na Florida. 
 
O 'Katrina' e as bocas do 'rapper' Kanye West
 
George W. Bush admite ter plena consciência de que foi uma voz dissonante em relação ao Iraque. E revela que ficou extremamente incomodado quando se percebeu que afinal não havia mesmo armas de destruição maciça naquele país do Golfo Pérsico. Apesar dessas reservas, sublinha que continua a acreditar que "o mundo está melhor sem Saddam Hussein no poder".
 
Os Estados Unidos lideraram a invasão militar do Iraque a 20 de Março de 2003. A queda do regime de Saddam foi situada a 19 de Abril desse ano, dia em que simbolicamente foi derrubada a estátua do ditador iraquiano no centro da capital do país, Bagdad. Na memória de todos ficou a imagem de alguns iraquianos a baterem com os sapatos na cabeça da estátua que, depois de arrancada, foi arrastada pelas ruas da cidade. Saddam viria a ser capturado a 14 de Dezembro de 2003, em Tikrit, a sua terra natal. Foi julgado por um tribunal iraquiano e enforcado a 30 de Dezembro de 2006.
 
 
Fonte: DN
 
 
 
 

 

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