Angola-EUA: o «casamento» não é, afinal, tão forte assim - Sousa Jamba

Angola-EUA: o «casamento»  não é, afinal, tão forte assim - Sousa Jamba
Trinta e sete países terão tido as suas contas bancárias congeladas em Washington. Assim aconteceu porque muitos bancos chegaram à conclusão de que o custo para se garantir que os fundos das embaixadas não acabem em projectos ilegais é altíssimo. 
 
O que me surpreende é que Angola tinha que ser o primeiro país cuja embaixada teria a sua conta congelada – e tal iniciativa rode­ada com bastante publicidade. É difícil crer que, enquanto que os diplomatas angolanos tentam lidar com esta crise, os nigerianos durmam pacificamente em Washington. Será que há, por aí, muita coisa que ainda não soubemos? 
 
Suspeito que parte da agitação à volta do congelamento das contas da embaixada an­golana resultou do facto de que a festa de 11 Novembro em Washington não foi realiza­da. Muitos angolanos, cá nos Estados Uni­dos, que, claro, não tinham sido convidados ao grande evento, ficaram com um senti­mento melhor expressado por uma palavra de origem alemã: «schadenfreude» - ou o prazer que se sente quando se olha para os problemas dos outros. É que essas festas, pelo menos aqui nos Estados Unidos, onde os angolanos comuns labutam dia e noite para sobreviver, têm sido vistas como um desperdício de fundos. Mesmo a grande festa em Huston, que, como todos passamos a saber, foi patrocinada pelo magnata Santos Bikuku, resultou em muitas críticas. 
 
Voltemos, porém, ao caso do congela­mento das contas. Não há dúvida que houve uma grande falha da parte dos nossos di­plomatas. A arte da gestão de crises consis­te, também, em poder evitar crises. A pos­sibilidade de que certos bancos poderiam congelar as contas de Angola não surgiu na semana passada. Alguém deveria ter feito planos de contingência. Será que os nossos diplomatas tinham caído numa certa com­placência, porque o relacionamento entre os Estados Unidos e Angola é especial? Há até um artista angolano de música rap que can­ta que o amor que sente pela namorada dele é tão intenso como o relacionamento entre Angola e os Estados Unidos. 
 
Não há mesmo dúvida que a consagra­ção das relações entre Angola e os Estados Unidos é um dos grandes romances polí­ticos do nosso tempo. Os Estados Unidos, que no passado estavam tão próximos da FNLA e eventualmente da UNITA, passa­ram a abraçar-se apaixonadamente com o MPLA. O petróleo não era o único agente catalítico deste romance: figuras da direita do partido republicano tinham mesmo che­gado à conclusão que havia, no MPLA e não na UNITA, verdadeiros capitalistas que não acreditavam no Marxismo. 
 
Em 1993, a então administração Bush re­conheceu o governo angolano. A partir de então, os líderes em Luanda e Washington nunca paravam de realçar a importância do relacionamento entre os Estados Unidos e Angola. 
 
O governo de Angola, liderado pelo MPLA, tinha um fortíssimo «lobby» em Washington. Varias entidades que previa­mente trabalharam para o governo america­no na África Austral, como o antigo Secre­tario para os Assuntos Africanos, Herman Cohen, e o embaixador dos Estados Unidos na Zâmbia, Paul Hare, passaram, efectiva­mente, a serem empregados do governo de Angola em Washington. Houve, também, outras figuras, como Robert Cabelli, que facturaram milhões para defenderem os in­teresses de Angola em Washington. 
 
A prática dos lobbies, deve se dizer, não começou com o MPLA. Nos anos 80, o grande obstáculo para a UNITA nos Es­tados Unidos era a «Emenda Clarke», que proibia o apoio americano a qualquer grupo que opusesse ao governo do MPLA. Com a chegada ao poder de Ronald Reagan em 1980, a UNITA conquistou certas amizades em circuitos da direita americana. Porém, a navegação pelos vários domínios do poder americano teve que ser feita por «lobbistas» – alguns deles, eventualmente, passaram depois a trabalhar para o MPLA. No sena­do americano, houve figuras, como Howard Wolpe, que deram dores de cabeça sérias à UNITA. Depois houve, também, um outro senador que não podia mesmo com o «Galo Negro». Joe Biden foi uma figura de peso nos esforços de prevenir que qualquer ajuda americana fosse parar às mãos dos «mani­nhos». Em termos teóricos, o MPLA nunca teve tantos amigos seus no poder em Wa­shington como neste momento. A realidade, porém, é mais complicada. 
 
Um dos aspectos que muito admiro nos Estados Unidos é a divisão dos poderes. O divórcio com a UNITA não significa que o novo casamento entre o establishment americano e o governo do MPLA seja ple­namente feliz. É que há um sector, altamen­te influente nos Estados Unidos, que é o mundo académico, que só trata com Angola considerando a boa governação. As críticas americanas ao governo angolano, nas vés­peras das eleições legislativas de 2008, não vieram da direita, mas sim de sectores que tradicionalmente se identificam com a es­querda, como o Carter Center. O que muito mexe com os intelectuais americanos que olham para Angola é a grande disparidade entre os ricos e os pobres. Hoje há sectores americanos que estão mais interessados em ouvir um Rafael Marques, como activista contra a corrupção, do que um emissário governamental. 
 
Como já disse, existe uma separação mui­to marcada de poderes nos Estados Unidos. Em certos casos, as instituições podem até não compartilhar a mesma visão sobre o mesmo assunto. Suspeito que este deva ser o caso de Angola. O Departamento do Estado, liderado por Hillary Clinton, gostaria de ter uma cooperação bastante profunda com Lu­anda. No entanto, a Casa Branca, pelo me­nos no que vejo, não morre de amores por Luanda. Sigo atentamente tudo o que o pre­sidente Barack Obama diz sobre o continen­te africano. Já o ouvi a falar detalhadamente sobre o Botswana e como a crise internacio­nal afectou a sua indústria diamantífera. Já o ouvi também a falar sobre o Ghana e sobre o Uganda; ate já lhe ouvi a falar sobre a Somá­lia, Djibouti e mesmo o Zimbabué, dando si­nais de que sabia mesmo os pormenores do arranjo entre o governo de Robert Mugabe e Morgan Tsvangirai. Nunca, porém, já o ouvi Obama a falar sobre Angola. 
 
Quando, há alguns meses atrás, Barack Obama convidou vários jovens africanos para debaterem o futuro de África, o pre­sidente Americano, falando já como antigo professor de Direito, foi-se debruçando so­bre todo o continente mas não citou o nome de Angola uma única vez. Senti até que, no radar de Obama, Angola não existe. Pelo menos, não da mesma forma como o país existiu para a Condeleeza Rice, a antiga Se­cretária de Estado, que, como uma conse­lheira da Chevron, a petrolífera americana com profundíssimas raízes em Angola, teve um barco com o nome dela. 
 
É verdade que, como as autoridades ame­ricanas vão dizendo, o governo americano não pode determinar sobre quem deve ser os clientes deste ou daquele banco. Isto não é completamente verdadeiro. Se os bancos americanos recusarem, por exemplo, ter contas de um país que estrategicamente vale muito para os Estados Unidos – como a Índia – o governo faria tudo, mesmo in­troduzir nova legislação, para que tal não acontecesse. A verdade é que, ao contrário do que pensamos, Angola não será assim tão importante para os Estados Unidos. 
 
Mas isto não significa que os Angolanos devam desfazer-se dos Americanos ou então apostar só na China. Os angolanos vão ter que traçar seriamente a estratégia do país para os próximos quinze anos. As autori­dades em Luanda vão ter que avaliar quais são as potencialidades do país, as suas fra­quezas, as oportunidades, etc.. Vão ter que traçar uma estratégia que poderá englobar alianças com vários países. Com isto bem traçado e a funcionar, humilhações como às que os diplomatas Angolanos estão a ser su­jeitos em Washington não teriam certamen­te lugar.
 
 
Fonte: SA
 
 

 

Comentario

ponto de vista

wilson Huoston | 07-12-2010

Temos que aprender ler os tempos,antigamente o Mábuto era filho querido dos americanos, o seu fim começou, quando iniciu o congelamento das contas do seu pais, aviões a cairem nas praças e etc, para terminar Angola tem que se rever rápidamente

bom jornalista muitcho profundo

o dread | 01-12-2010

noo tempos , do grande e classico semanario angolese(graca campos) ele ja me convecia com oa suas novidades. pensei q nunca mas ia oovr dicas veridicas como extax forca meu.,grande jornalista. quanto a isto no coment.

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