Alguém Conhece Um Edifício Construído nos Anos 80 Pelo Ministério da Construção e Habitação?

Alguém Conhece Um Edifício Construído nos Anos 80 Pelo Ministério da Construção e Habitação?

 

O pessoal da minha geração vive, absolutamente, maravilhado com a nova faceta de Angola. Edifícios belos e moderníssimos. Estradas asfaltadas. Passeios novos. Ruas limpas e iluminadas. Jardins fantásticos com fontes luminosas.
 
Para essa geração que cresceu nas privações da guerra e do socialismo, essa nova e deslumbrante faceta de Angola é a prova categórica do enorme esforço do «Governo» e da grande capacidade dos nossos governantes.
 
Isto fez-me lembrar a primeira vez que saí de Angola para Portugal. Era a última semana do mês de Outubro de 1991. Tínhamos acabado de sair do penoso socialismo e estávamos sob os inebriantes efeitos do processo de paz e reconciliação saído dos acordos de Bicesse. Naquela altura, Portugal era um mundo novo para mim. Rendi-me, rapidamente, às fantásticas paisagens urbanas e às inúmeras ofertas do consumismo capitalista. Todos os bens de consumo que, nos duros anos do socialismo, achávamos inalcançáveis estavam ali expostos em grandes quantidades.
 
Queria partilhar as maravilhas que passei a ver todos os dias e impressionar o pessoal que ficou em Angola. Por isso, comprei uma máquina fotográfica Kodak e comecei a fotografar montras das lojas, hipermercados, ruas, jardins, edifícios, etc. Reuni um bom número de álbuns e entreguei-os a um portador que regressava a Angola.
 
Absolutamente convencido dos estragos que aquelas fotos iriam causar, esperei pela resposta dos meus familiares e amigos. Passado algum tempo, comecei a receber as tão esperadas cartas. Os meus irmãos, primos e amigos ficaram, naturalmente, maravilhados. Mas a minha mãe e os meus tios não!
 
Para minha grande surpresa, eles não acharam nenhuma novidade nos temas das fotografias que receberam. Antes pelo contrário: as suas cartas transmitiam uma dolorosa nostalgia da Angola do tempo deles. Minha mãe: «Filho, as montras que fotografaste fizeram-me lembrar as lojas de Nova Lisboa. Fizeram-me reviver os bons tempos em que andávamos de loja em loja a fazer compras». Minha tia: «Zezinho, a mana mostrou-me as fotos que mandaste.
 
As fotos das ruas iluminadas e enfeitadas para o Natal fizeram-me lembrar as ruas do Huambo do nosso tempo. Eu adorava admirar aquele maravilhoso colorido nocturno. Ai que saudades!». Meu tio que já era um importante quadro da administração pública: «Zezinho, já vi as fotos que mandaste. Gostei, sobretudo, das fotos do Hipermercado de Braga. Fez-me lembrar o Pão de açúcar de Luanda. Aquilo era fantástico». Outro meu tio: «Zé, eu vi as fotos que mandaste para a mana. Fiquei com uma das fotos do magnífico jardim com a fonte luminosa. É para matar as saudades do tempo da nossa mocidade quando íamos com as namoradas aos jardins e tirávamos fotografias nas fontes luminosas do Huambo e do Lubango».
 
Fiquei chocado! Afinal, tudo o que, em 1991/92, eu estava a admirar em Portugal já havia em Angola?! Nos princípios dos anos 70 Luanda já tinha um grande hipermercado?! O Huambo já tinha lojas iguais as que admirei em Lisboa, Porto e Braga?! As cidades de Angola já eram limpas e organizadas, já tinham magníficos jardins e belas fontes luminosas e já eram tão bem iluminadas como as cidades de Portugal?!
 
Custou-me acreditar. Por mais que tentasse, não conseguia imaginar uma Angola como a que a minha mãe e os meus tios descreveram! Porque cresci a ver lojas com montras vazias e gradeadas. Acostumei-me a viver em cidades sujas, desorganizadas e constantemente sem luz. Habituei-me a conviver com ruas esburacadas, prédios degradados, jardins maltratados e fontes destruídas e a sem água.
 
Parti, então, em busca desta Angola maravilhosa que os nossos mais velhos conheceram. Devorei os livros com imagens da Angola dos meus kotas. E a internet dizimou todas as minhas dúvidas: As cidades e vilas de Angola eram modernas e magníficas.
 
O pessoal da minha geração pode conhecer Angola do tempo dos nossos pais e tios clicando neste link:
 
 
Este regresso a Angola dos nossos kotas deixou-me indignado. É que passamos toda a nossa infância e adolescência a ouvir falar do mega projecto de Reconstrução Nacional. Os dirigentes socialistas diziam estar a reconstruir uma Angola que os colonialistas não souberam erguer. Tínhamos o Ministério da Construção e Habitação. Sempre tivemos Ministros, Vice-Ministros, Delegados Provinciais e vários funcionários que todos os dias iam trabalhar para os seus gabinetes e postos de serviço. Importamos imensa maquinaria pesada ligada ao sector da construção e engenharia civis. Enfim, o Estado gastou imenso dinheiro a sustentar o dito projecto de Reconstrução Nacional.
 
Mas, afinal, fomos sempre mantidos no obscurantismo e a tão falada Reconstrução Nacional não passou de um vistoso aparato da propaganda ao serviço de um grupo de incompetentes astutamente mascarados de socialistas. Porque eu não me lembro de ver um único edifício erguido pelo Ministério da Construção e Habitação. Não me lembro de ver qualquer obra concebida e projectada pelos técnicos do Ministério. Pode ser que esteja a ser injusto. Mas nas cidades onde vivi (Huambo e Lubango) não me lembro de ter visto uma obra nova. No Lubango, em finais dos anos 80, vi os soviéticos a acabarem de construir um desses prédios que os colonos deixaram. Vi os Jugoslavos a asfaltarem algumas ruas da cidade. Só isso e nada mais!
 
Os dirigentes socialistas não acrescentaram em nada ao património urbanístico e cultural da cidade do Lubango que nunca esteve em Guerra. Não edificaram casas, não fizeram nem conservaram as ruas e sempre ignoraram a importância urbana de um simples jardim ou de uma rua bem iluminada.
 
Vejamos, por exemplo, o estado deplorável desta rua do Lubango (antiga cidade de Sá da bandeira) fotografada por Nelson Viegas no dia 18 de Fevereiro de... 2007.
 
Antes da independência esta rua chama-se Capelo Ivens. Depois passou a chamar-se Deolinda Rodrigues. Esta rua está uma vergonha! Lubango foi uma cidade que nunca esteve na rota dos grandes palcos da maldita guerra. O que andaram a fazer os Comissários e Governadores Provinciais nos últimos 30 anos?
 
Esta fotografia é o fiel retrato do vergonhoso estado da bela Angola que herdamos dos «colonialistas portugueses» e que não soubemos conservar e melhorar. E a nova Angola que está a maravilhar o pessoal da minha geração não é nossa. É uma Angola projectada e construída pelos estrangeiros e que, de certeza, não conseguiremos conservar….
 
 
Por: José Maria Huambo
Fonte: Angola Interrogada

 

Comentario

A verdade Incomoda

Fabio | 23-09-2010

Parabéns José Maria pelo artigo sincero que escreveste. Muitos gostariam de escrever texto com conteúdo semelhante mas não tem coragem. Temem serem confundidos e criticados. Dizer que o período colonial era ruim é considerado politicamente correto e rende aplausos.

Como diz o ditado popular, o pior cego é o que não quer ver.

Dizer que o que escreveste não ocorreu é viver em um mundo de fantasia. Fantasia esta criada pelo atual regime.


Em nenhum momento José Maria defende a volta do colonialismo. Aonde esta escrito isso no texto?

Esse tipo de artigo incomoda e espero que outros corajoso façam o mesmo.


Quem não acredita que faça uma pesquisa, vejam vídeos no Youtube sobre angola antes de 1975 e verá que era Multirracial e o povo vivia em Harmonia.

Havia diferença de classes como em qualquer lugar do mundo, pois não se tratava de um paraíso na terra. Mas os pobres viviam bem e com fartura.

E vou terminar com uma polêmica: A Independência foi Imposta, a maior parte da população angolana, na época, não queria a independência. A população pouco ouvia falar em MPLA, UNITA etc.. . Esses grupos apareceram praticamente do nada se digladiando, com o apoio de outros países.

Á Sónia Varela e ao Rui C.

lourdes ximenes | 09-09-2010

Caros conterrâneos, venho esclarecê-los de que ao contrário do que dizem,os "negros", "pretos", "contratados", segundo os termos aqui usados, frequentaram as nossas (angolanas) escolas e liceus, frequentaram as Faculdades na Metrópole e outros países que quiseram, exerceram cargos públicos, foram médicos, advogados, enfermeiros, etc., e viveram nos mesmos prédios e bairros, porta a porta com os tais de "brancos"!
Mais informo, que na minha rua (Travessa Coronel Artur de Paiva- na Vila Julieta) só haviam vivendas, e entre outras, na casa mesmo ao lado da minha, vivia uma família enorme com meninos negros e mulatos com quem brinquei! Andei no Colégio de S. José Cluny, e tive colegas de TODAS "tonalidades de pele"! Também informo, para quem não me conhece, que a minha avó materna (de quem muito me ORGULHO), era uma digníssima senhora negra da região de Malange, que ia todos os dias para uma das suas lavras a pé, com o bébé mais novo ás costas, uma enxada, o farnel para todo o dia, e a minha mãe que na altura era ainda pequena, acompanhava-a também. Vestiu panos até ao fim dos seus dias já em Luanda, e quando ainda no interior, tomava um banho todos os dias quando chegava da lavra, que lhe era preparado por uma "criada"(!!! pois, também tinha!!!), e depois, perfumava-se com um pó de talco ( marca inglesa, "4711") que cheirava a violetas, e era o maior luxo que sempre teve, e vinha de Luanda a pedido do meu avô! Ah! Já agora, o meu avô esposo desta senhora, era "branco", um homem Lindo como figura, sempre de calça branca de linho, camisa branca e casaco azul ou preto. Era funcionário dos Caminhos de Ferro, e pessoa respeitável e respeitada!
Será portanto inteligente da vossa parte, sobretudo como estudantes de jornalismo, que façam pesquisa, leiam, documentem-se, falem com muitas pessoas, antes de escreverem opiniões fundamentadas em disparates que foram realidade na primeira metade do sec.XX da História de Angola!
Mais, aconselho a que aprendam a ler, analisar, e respeitar a opinião, de quem como o autor deste artigo, é um escritor e jornalista respeitado e conceituado,com quem muito têm a APRENDER!
Termino concordando com o que dizem em relação á MUDANÇA, que deve SIM, ser neste momento uma PRIORIDADE nos nossos objectivos para o FUTURO, de uma ANGOLA de TODOS e para TODOS, em PAZ, LIBERDADE e DEMOCRACIA!
Kandando!

o que foi, e o que é

lourdes ximenes | 09-09-2010

Os meus Parabéns José Maria! Mais uma vez, a sua escrita fala-nos da realidade dos sentimentos e emoções!... Esta Angola de que falaram os seus "mais velhos" foi uma realidade, e só nos pode orgulhar o facto de Angola ter sido até ao pricípio dos anos 70, um dos mais evoluídos e exemplar países de África, com A CAPITAL MAIS BONITA DO CONTINENTE! Na Angola de hoje, a maioria da população activa, jovem e adulta, cresceu nas circunstancias que descreve, e a grande maioria deles nunca daí saíram, não entendendo portanto o que viveu quando conheceu outros países. A prova está em alguns dos comentários acima, que inclusive têm ainda uma componente muitíssimo grave, e que tem sido também um instrumento manipulado pelo Governo, - a IGNORÂNCIA!!!

De Madrid

Rui C. | 02-09-2010

Sinceramente confesso que estou surpreendido por esta materia que nem parece daquele tao estimado articulista que sempre nos habituou a textos bem elaborados e interessantes.Querer nos levar de volta ao colonialismo ou bajular o tempo colonial e apenas para rebater os tempos do socialismo em angola(que ja la vao decadas)considero erro inadmissivel para uma pessoa do calibre do articuslista.
Angola esta com muitos problemas sim mas vivemos melhor que no tempo colonial hoje pelo menos temos uma patria, um hino e uma bandeira.

Exma sonia Varela

Kicozudo | 02-09-2010

Hoje "Preto" negro continuo a ser destratado por uma elite na minha propria terra, passa um dia no Kicolo, "poeira dos hiace's". Passa um dia em Talatona "pessoas de pele clara, estrangeiros carros de luxo, relva, arvores" e bem viver.
Hj temos muito mais problemas e a que possibilidades te referes?
Quem sente saudades do tempo do colono é aquele que não sabia o que é colera, ebola, paludismo, poeira e lixo e conhece dos dois lados da moeda "gente madura" sabe o que uma bessangana, carnaval ilha de luanda no seu melhor, viviamos no BO, Sambizanga Marçal e o Sr. Anibal era o dono da Cantina.
Quem tem mais que %90 no paralemento (fraude eleitoral) e muda a constituição a seu belo prazer, quer acabar com a oposição. por isso ja não haverá eleições presidenciais. Tem o poder financeiro logo compra os jornais, tem as TV´s todas TPA1 e 2 e Zimbo as radios somente de bairro. Qual oposição para ser precionada.??? Vives aqui em Angola?

Re:Exma sonia Varela

Sonia varela | 02-09-2010

Vivo em Luanda sim e digo o bairro: cassenda.Tudo o que dizes é realidade mas acabas de cometer um erro na tua analise, o que tem os de pele clara e estrangeiros a ver com os nossos problemas?O nosso presidente é negro e assim sao os mais ricos de angola e a maioria dos dirigentes angolanos...

Re:Re:Exma sonia Varela

kikolo | 02-09-2010

a verdade deve ser dita...o mpla esta a contribuir "para a reconstrucao do colonialismo" em angola.....

Exma Sonia Varela

Kicozudo | 02-09-2010

Em 1982 fui chamada para cumprir o Serviço Militar Obrigatório, onde permaneci durante 9 anos sem a possibilidade de estudar ou trabalhar sendo isto o que dignifica o homem. Hoje somos milhares nestas condições. E esta tua expressão "seja como for" é de quem quer tapar o sol com a peneira. A realidade esta a vista. Para hoje os nossos carrascus estarem bem, sangue jorrou, mães choraram. Que GUERRA qual GUERRA, ha a guerra que enriqueceu algums e matou muitos, hj vez Marina do Gen. Fulano, Avião, Condominio, Fazenda, Frota de Luxo, Casa do Mussulo, Portugal, Africa do Sul, Namibia, Brasil, EUA uma pessoa pod er isso tudo quando ha noticias de que aqui no Bengo esta a morrer gente de fome.

Re:Exma Sonia Varela

Sonia Varela | 02-09-2010

Ate nos EUA morre gente de fome mas nem por isso os intelectuais de lá preferem a volta do colonialismo ingles contra quem lutaram.

.....

Tony | 01-09-2010

Jose Maria huambo concordo que nos anos 80 pouco ou quase nada se fez...mas que tal nos focarmos no tempo actual?Nos 80's nao se fez nada...mas e agora?
Assim perdes credibilidade...

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