A maka do despacho de Paulo Kassoma - Justino Pinto de Andrade

A maka do despacho de Paulo Kassoma - Justino Pinto de Andrade

 

1. Estoirou a polémica a propósito do Despacho do Presidente da Assem­bleia Nacional, António Paulo Kas­soma, no qual determina a suspen­são temporária da realização de qualquer acção de controlo e fiscalização das acti­vidades do Executivo. Diz ainda o mesmo Despacho que a suspensão vigorará até à aprovação e entrada em vigor do instru­mento legal que vai regular o exercício da actividade fiscalizadora. 
 
2. As razões invocadas pelo Presidente da Assembleia Nacional para tão drástica decisão é aquilo a que chamou “a necessi­dade de conformar a acção fiscalizadora do Poder Legislativo relativamente à actividade do Poder Executivo, visto que está em cur­so a elaboração de um instrumento legal que estabelecerá o quadro normativo para o exercício de modo eficaz e eficiente da acção fiscalizadora do Assembleia Nacional”. 
 
3. O Presidente da Assembleia Nacional estribou o seu Despacho em competências que diz serem-lhe conferidas pela alínea g) do artigo 36º da Lei 5/10 de 6 de Abril, denominada “Lei Orgânica do Funciona­mento e do Processo Legislativo da As­sembleia Nacional”. 
 
4. Li a Lei a que o Presidente da Assem­bleia Nacional se refere, muito em especial o artigo referido. Nesse artigo “Competên­cia genérica”, enquadrado na Subsecção II (Competência do Presidente) do Capítulo I (Presidente e Mesa) do Título IV (Orga­nização de Assembleia Nacional) da Lei Orgânica, enumeram-se algumas das suas competências, entre as quais a de “propor a suspensão do funcionamento efectivo da Assembleia Nacional”. 
 
5. É aí que começa o que julgo ser o pri­meiro equívoco. Na realidade, compete ao Presidente da Assembleia Nacional apenas “propor” a suspensão, e não “determinar”, como ele fez. 
 
6. Quer dizer que o Deputado António Paulo Kassoma, nas vestes de Presidente da Assembleia Nacional, só tem capaci­dade jurídica para “propor” aos restan­tes Deputados, que o funcionamento da Assembleia Nacional seja efectivamente suspenso. Não se trata, pois, da suspensão de determinadas competências da Assem­bleia Nacional, mas, sim, da suspensão do Órgão Legislativo. Tão-pouco se discrimi­na as condições para que tal se verifique. 
 
7. Que eu saiba, ninguém propõe algo a si próprio. O Presidente da Assembleia Nacional deveria, sim, encaminhar uma “proposta” ao Plenário da Assembleia, que decidiria por meio de uma “Resolução”, e não por “Despacho”. O “Despacho” é ins­trumento de decisão de carácter unipes­soal, ao contrário da “Resolução” que, no caso, exprimiria a decisão do colectivo. 
 
8. De qualquer forma, é bom transcrever o conteúdo do artigo 162.º da Constituição, para termos perfeita noção da importância da matéria em causa. Para não nos limitar­mos à análise de questões processuais. Diz, pois, o artigo 162.º da Constituição que compete à Assembleia Nacional, no domí­nio do controlo e da fiscalização: 
 
a) velar pela aplicação da Constituição e pela boa execução das leis; 
b) receber e analisar a Conta Geral do Estado e de outras instituições públicas que a lei obrigar, podendo as mesmas ser acompanhadas do relatório e parecer do Tribunal de Contas, assim como de todos os elementos que se reputem necessários à sua análise, nos termos da lei; 
c) analisar e discutir a aplicação da de­claração do estado de guerra, do estado de sítio ou do estado de emergência; 
d) autorizar o Executivo a contrair e a conceder empréstimos, bem como a re­alizar outras operações de crédito que não sejam de dívida flutuante, definindo as respectivas condições gerais, e fixar o limite máximo dos avales a conceder em cada ano ao Executivo, no quadro da apro­vação do Orçamento Geral do Estado; 
e) analisar, para efeitos de recusa de ra­tificação ou alteração, os decretos legisla­tivos presidenciais aprovados no exercício de competência legislativa autorizada. 
 
9. Um Jurista, que também é Deputado, ouvido por uma estação emissora de Lu­anda, colocou o problema em termos de uma suposta hierarquia entre os órgãos do Poder. Desvalorizou mesmo o papel fisca­lizador dos Deputados face aos Ministros, dizendo que uns não seriam superiores aos outros. Eu penso que o Jurista/Depu­tado não terá percebido bem o que está em causa, muito menos em discussão. 
 
10. Não faz qualquer sentido estabe­lecer-se uma hierarquia entre membros do Governo e membros do Parlamento, já porque as duas estruturas não podem ser vistas na vertical. Elas devem, sim, ser vistas na horizontal. Ou seja, ambas são instituições do Poder com funções e com­petências distintas. 
 
11. Porém, se quisermos analisá-las na perspectiva das suas legitimidades, assim, já será possível dizer que a legitimidade política dos Deputados é, sim, superior à dos Ministros, pois os Deputados são elei­tos em sufrágio universal e directo (mesmo que por Lista Partidária), enquanto que os Ministros são feitos por vontade de alguém que os escolhe, por critérios próprios e que não passam pelo crivo do eleitorado. 
 
12. O controlo e a fiscalização por par­te da Assembleia Nacional não podem ser questionados. É dos mecanismos cada vez mais usados para o aperfeiçoamento da de­mocracia representativa. A sua importân­cia tem sido até reconhecida por figuras de elevada hierarquia no Estado Angolano. 
 
13. Por exemplo, em Setembro de 2009, João Lourenço, Vice-Presidente do Par­lamento angolano, na sessão de encerra­mento do Ano Legislativo, terá dito que era necessário os Deputados estarem aten­tos ao seu papel de fiscalizador da acção do Governo, pois isso contribuiria para o alcance dos objectivos do Programa do Governo aprovados pelo povo no acto elei­toral do ano de 2008. 
 
14. No dia 09 de Fevereiro de 2010, ao dis­cursar na qualidade de novo líder do Parla­mento angolano, António Paulo Kassoma garantiu que a Assembleia Nacional iria con­tinuar a desempenhar o seu papel fiscalizador da actividade governativa e que os programas e acções do Plano Nacional e a execução do Orçamento Geral do Estado estariam no cen­tro das atenções do Parlamento. 
 
15. Mais ou menos na mesma ocasião, a 19 de Fevereiro de 2010, o jurista e pro­fessor universitário, Carlos Teixeira, então director do Centro de Pesquisa em Polí­ticas Públicas e Governação Local, numa palestra proferida no âmbito do denomi­nado «Jango de Desenvolvimento», orga­nizado pelo PNUD, referiu a extrema im­portância do reforço do papel fiscalizador e de controlo do Parlamento para assegu­rar que a nova Constituição atinja os ob­jectivos preconizados. 
 
16. Carlos Teixeira referiu, ainda, que a nova Constituição consagrou aquilo a que chamou de «poder executivo singular», contrariamente ao «poder executivo co­lectivo» que vinha claramente estabeleci­do na anterior Lei Constitucional. E disse mais: A nova Constituição reforçou os po­deres do Presidente da República por meio do surgimento dos Decretos Legislativos Presidenciais Provisórios. 
 
17. O papel fiscalizador do Parlamento – enquanto poder autónomo e indepen­dente, e expressão das diversas correntes de opinião do país – é um imperativo da democracia representativa e uma expres­são do seu amadurecimento democrá­tico. Para o efeito, os Parlamentos dis­põem de um conjunto de instrumentos como, por exemplo, as Comissões Par­lamentares de Inquérito, os Pedidos de Informação, e outros. 
 
18. Depois desse lapso jurídico, estou ansioso por ver o conteúdo do instru­mento legal que irá ser produzido para conformar a acção fiscalizadora do Poder Legislativo relativamente à actividade do Poder Executivo, como prometeu Antó­nio Paulo Kassoma. Espero que venha re­forçar o Estado de Direito Democrático e ajudar a combater a corrupção e a falta de transparência. 
 
 
 
 
Fonte: SA

 

Comentario

Bandidos!

Ponderacao | 21-09-2010

O meu medo esta mais alem.

Se o povo angolano nao tira Estes bandidos do MPLA do poder, eu tenho medo que os outros paises africanos irao tiralos.

Isto seria uma invasao a Angola , pois se reflitirmos o MPLA tem em marcha uma politica de expancao comunista silenciosa, actos que ja se pode sentir no norte sul e no lest de Africa.

Pois, os opressados nao sao penas o povo
angolano, no Zimbabwe , rdc , no brasaville, mocambique, guinne bissau, ruanda, Togo, costa do marfim, gabao. So para mencionar Estes que Sao os mais visiveis e que eh do nosso conhecimento.

Alias, o MPLA ja esta engajado num conflito
indirecto com o ruanda no congo democratico, e Togo nunca teve boas relacoes com o MPLA.

So para re-lembrar que o MPLA esta a condenar injustamente os activistas tchokwes nas lundas, pois e preciso fazer lembrar que o imperio Lunda e extensivo e cobre 4 paises que Sao o baixo Congo , Angola, Zambia, e o Norte de mocambique.


O MPLA antes de pensar em reprecao violenta contra os tchokwe, o mesma vai ter que ponderar muito, mais muito mesmo.

Esta é a melhor hora de caír fora

Orfeu | 21-09-2010

Esta claro que a linha governativa de JES não tem como foco principal a resolução dos agudos problemas que afligem este povo. Esta politica de endeusamento da sua personalidade ja tera sido arquitectada ha muito por parte de seus bajuladores e com claro beneplacito de JES. Eduardo dos Santos sempre defendeu de a especificidade de Angola faz com que a forma de governar este pais tenha de ser unica e diferente quando confrontado com questões de politica governativa adequada para o nosso pais sendo o mesmo produtor de petroleo e se verificarem, niveis de pobreza inadmissiveis, no tão somente primeiro produtor de petroleo em Africa, mas deixa-me dizer que nosso chefe de estado até agora não tem sabido fazer leitura daquilo que é a verdadeira essencia deste povo, não tem sabido acompanhar a (d)evolução deste povo a todos os seus niveis, preferindo investir na politica de mediatização da sua personalidade e seu entourage. Estamos perante uma situação em que o jogo chega no seu climax e que alguma decisão tera de ser tomada antes que tudo se despolete e assistamos a incontrolaveis convulsões sociais.
Tenho Dito!!!!

minha proposta..

mickey mouse | 20-09-2010

Em vez de aumentarem o preco do combustivel,porque nao deixam de pagar os deputados se eles so estam na AN para enfeitar?os cofres do estado Angolano pouparia uma fortuna...

taticas nazistas e colonialistas

minie mouse | 20-09-2010

de todas as revoluçoes do mundo so as revoluçoes africanas saíram um fiasco. exemplos: zimbabwe, rdc, angola, etcs. as revoluçoes sao feitas ou devem ser feitas para substituir um sistema anarquico ou ineficiente por outro que sirva o país e o seu povo. em certa medida considero a revoluçao cubana um grande sucesso, tal como foi a americana, a francesa, a inglesa, entre outras. a revoluçao do mpla apenas substituiu um grupo de colonos por outros, as praticas sao as mesmas(de exploraçao, exclusao, persseguiçao, assassinatos torturas)enquanto uma elite usa e abusa dos recursos para beneficiar apenas uma minoria. isso significa que as sementes para uma nova revoluçao(uma que finalmente implante os designios mais profundos do povo) estao a ser plantadas...

kwanza-sul - sumbe

ex-pioneiro da opa de 1988-1991 | 20-09-2010

mas sera que em angola nao existe nenhum homem...mulher(que nao seja vadia) ou alguma organizacao capaz de travar o mpla???ate quando deixaremos um grupo destes assambarcar assim o nosso país? como é que jose eduardo dos santos assumiu as redeas do país em 79???quem o elegeu??? foi o povo???quem??em que circunstancias??quem lhe vai substituir?o nandó? o filomeno dos santos? o kassoma(duvido??) estamos entregues a bicharada???alguem me responde???

É o nosso fim!

WangaWuabu | 20-09-2010

Esses camaradas stão possuidos, não ouvem o povo, não falam para o povo, não querem ser fiscalizados, desrespeitam as leis que eles próprios criaram...é muito azar pro povo angolano........é demais!

Novo comentário

Reflexão da semana

2011 o ano pré-eleitoral em Angola - Carlos Lopes

O ano de 2011, tem a particularidade de dar-nos uma capicua (11-11-11), ou seja, na comemoração de mais um aniversário da independência de Angola.   O cidadão Angolano residente na capital e que vive no limiar da pobreza, vai continuar a ser deslocado para a periferia, onde estão os novos guetos criados pelo Executivo, enquanto assiste ao erguer de grandes...
<< 1 | 2 | 3 | 4 | 5 >>

 

www.a-patria.com      O portal de noticias de Angola

 

 

Clique no botão Play para tocar o Ipod!

As músicas tocarão automaticamente!



 

Publicite no nosso Site!