A história (ou estória?) de uma exoneração anunciada

A história (ou estória?)  de uma exoneração anunciada

 

Quando, ali pelos mea­dos do ano passado, o então Deputado Mello Xavier procurou Ro­berto Leal Monteiro «Ngongo», para convencê-lo a ir raptar de S. Tomé e Príncipe o seu antigo Director-Geral, a quem acusava de ter-lhe roubado umas boas dezenas de milhares de dólares, nenhum dos dois adivinhava que estariam a preparar para o então Ministro do Interior uma exo­neração que, pelo seu ineditis­mo, apenas seria comparada à de Flávio Fernandes (já falecido) do cargo de Governador de Malanje. 

 
Todas as fontes contactadas por este jornal são unânimes em afirmar que não compreendem o que se teria passado na cabeça de Ngongo, nem que motivações o teriam levado a orientar operati­vos da DNIC a ir raptar um cida­dão, que sequer é angolano, num país estrangeiro. 
«Ele meteu-se numa área, e da forma como o fez, que é da com­petência exclusiva do Presidente da República, as Relações Inter­nacionais, para além do facto de que operações deste género sejam, em princípio, uma atribuição dos SIE, com autorização expressa ‘lá de cima’, após análise das envol­ventes de cada caso», diz uma fon­te que preferiu o anonimato. 
 
 
Barraca  
 
 
«Nem mesmo no tempo do chefe Miala, quando se faziam esse tipo de operações com os quadros da UNITA no exterior, alguma vez isso se fez sem essa autorização. Isso tinha mesmo que dar barraca, como deu», acrescenta a fonte.
 
A história (ou estória, se prefe­rirem) conta-se em poucas pala­vras. O cidadão português Jorge Oliveira era um dos homens de confiança do empresário e en­tão Deputado Mello Xavier, ten­do chegado a ser um dos seus Directores Gerais. Contratado para «facilitar» um negócio de 24 milhões de dólares na compra de uma frota de camiões Kamaz para a Polícia, falhou nesse desi­derato, o que terá desagradado a Ngongo, que entretanto arquivou a falha no seu íntimo. 
 
A ocasião para «ajustar as con­tas» surgiu quando Jorge Oliveira e Mello Xavier desentenderam-se ao ponto de este acusar aquele de lhe ter ficado com algo como cem mil dólares. Mello Xavier moveu um processo-crime contra Jorge Oliveira e este, temeroso pela sua segurança – afinal o jeito trucu­lento do ex-deputado é por de­mais conhecido, ainda mais para quem privou com ele – fugiu para S. Tomé e Príncipe. 
Mello Xavier é que não esteve com meias medidas. Socorrendo-se da amizade que os une, vai dali e convence Leal Monteiro «Ngon­go» a ir buscar o homem, mesmo em S. Tomé e Príncipe. O minis­tro orienta a DNIC a realizar a operação. Operativos angolanos desta instituição vão a S. Tomé, localizam o homem e conseguem trazê-lo ao país, driblando tudo e todos, incluindo as autoridades migratórias são-tomenses, fac­to que foi noticiado em primeira mão pelo nosso confrade Folha 8. 
 
 
Prisão ilegal  
 
Desde então, Jorge Oliveira encontra-se preso na cadeia de Viana ao que parece sem qual­quer tipo de culpa formada. Es­cusado é dizer que as autoridades são-tomenses ficaram danadas de furiosas e alguns lobbies de advo­gados portugueses começaram a mover-se, pugnando pela liberta­ção de Jorge Oliveira. 
 
O que nem Ngongo nem Mello Xavier contavam é que esta sua «operaçãozinha secreta», bem ao estilo de James Bond, poria em perigo a operação de charme que o Presidente José Eduardo dos Santos precisaria de fazer junto do Primeiro-Ministro são-tomense Patrice Trovoada. É que o MPLA apoiou a campanha elei­toral do MLSTP com quem tem laços históricos que datam da luta anti-colonial, e este partido perdeu as eleições.
 
Patrice Tro­voada, o novo Primeiro-Ministro de S. Tomé e Príncipe, não gostou da brincadeira e vai daí querer lesar as pretensões da SONAN­GOL de participar na exploração do petróleo daquele arquipélago. Quase que disse isso em plena imprensa.
 
 
Pachos quentes 
 
 
Ora, José Eduardo dos Santos atentou a isso e usou a influência que tem junto de Leopoldo Tro­voada, pai do Primeiro-Ministro e directamente dependente de si enquanto Secretário Executivo dos Países do Golfo da Guiné que ele coordena. Fruto desta influ­ência, Patrice Trovoada fez um recuo e veio a Angola fazer as pa­zes, chegando ao ponto de alargar os prazos de apresentação de pro­postas de exploração petrolífera para permitir a participação da SONANGOL. 
 
Mas, Patrice Trovoada trazia na bagagem algo com que JES não contava e que o deixou extre­mamente embaraçado. Terá dito na cara do presidente angolano o que os operativos da DNIC fi­zeram o que, nas Relações In­ternacionais, é uma autêntica invasão a um outro Estado, com peso suficiente para iniciar uma guerra. Sem contar o facto que as autoridades são-tomenses foram humilhadas perante os portugue­ses, na medida que passou a men­sagem de que são incapazes de proteger os cidadãos estrangeiros que vivem legalmente dentro das suas fronteiras, como é obrigação de qualquer Estado. 
 
Ira do Chefe
 
 
O que terá deixado o PR mais furibundo terá sido o facto de não somente isso ter sido feito nas suas costas – é sabido e con­sabido que JES detesta isso – mas por na sua óptica os motivos não justificarem tamanho risco. À parte o facto de o então Ministro do Interior ter «extravazado» os­tensivamente as suas competên­cias.
 
O Chefe de Estado mandou investigar o assunto, mesmo na ausência de Ngongo, que apenas chegou a Luanda na manhã des­ta segunda-feira, e, apurados os factos, fez o inédito: mandou sair um comunicado, curiosamente ao domingo à noite, dizendo que exoneraria o homem e explican­do os motivos.
 
A TPA teve que ler o comunicado no telejornal das 02H30, nada menos que três vezes, numa altura em que Ngon­go se encontrava no aeroporto da Portela, pronto para embarcar para Luanda. Uma fonte que via­jou com ele no mesmo voo jura que o então ministro do Interior de nada sabia, tendo sido «cum­primentado» com a notícia já no aeroporto 4 de Fevereiro… 
 
 
Só embaraços 
 
 
Outros sectores que ficam em­baraçados no meio dessa história são os Serviços de Migração e Estrangeiros e os órgãos de Jus­tiça, nomeadamente a PGR e os Tribunais, eles próprios também driblados pela «traquinice» de Ngongo e Mello Xavier. Como é que o cidadão português entrou no país? Como é possível estar tanto tempo preso sem julgamen­to? Terá sido ouvido por algum procurador? Se sim, como é que este não detectou as graves falhas no processo? Se não foi ouvido, estamos perante uma prisão ile­gal. Quantas mais temos neste país?
 
Se um cidadão proemi­nente como Jorge Oliveira, que é estrangeiro ainda por cima, é tratado assim, o que será com os milhares de pobres cidadãos, muitos deles sem voz? Como fica a nossa imagem em relação aos outros países, especialmente com Portugal? Se Jorge Oliveira fosse americano, por esta altura está­vamos «paiados»! Como fica isso? 
 
São perguntas que indicam que seria a todos os títulos útil pressionar quem de direito para responder. A Assembleia Nacio­nal – se é que já começou nova­mente a «fiscalizar» o Executivo – deveria ou constituir uma Co­missão Parlamentar de Inquéri­to (CPI) ou interpelar o ex-mi­nistro do Interior para explicar ao país sobre o que se passou afinal. De uma coisa estamos todos certos: Estamos num país onde as «ordens do Chefe» va­lem mais que todas a leis juntas, Constituição incluída. 
 
Fonte: SA
 

 

Comentario

Caso Ngongo e Melo Xavier...

sunga muxima | 06-10-2010

Estamos no país das bananas e os grandes e pequenos macacos andam á solta!...mesmo um cego, sabe que o ex-ministro Ngongo foi induzido ao erro pelo seu compadre Melo Xavier, em troca de dinheiro. O objectivo era prender o tuga e espreme-lo até fazer a devolução da massa e, posteriormente fariam a tal divisão, só que eles não contavam com a repercução da aventura, porque s.tomé embora uma ilha mas existe democrácia, e as coisas funcionam lá embora sendo um país pobre aparentemente. O ex-ministro Ngongo, não está habituado a fazer trafulhiçes constantes, ele meteu-se em cuecas largas, mesmo nas suas entrevistas parecia mas uma marionete do que um verdadeiro ministro do interior, nada estava mal, tudo pra ele estava bem, tudo seria resolvido brevemente, e pelos vistos resolveram-lhe todos os problemas que ele não conseguiu sanar. velhos insistem em não tomar conta dos seus netos e educa-los, preferem promover a devassidão moral.

S.Tome arquepelago de Angola

Maxinde | 04-10-2010

Bem feito para os nossos irmao do arquepelago do aroz eles tanto mendigo que cupula do regime ja chega confundir que eles sao propreidade ou alvo para demostraçao de força os tugas serao o proximos a serem expizalhados a dioba (fome) e tanta que ja estao lentamente a perderem o orgulho que sempre lhe caracterizo no passado poriso os meus sinseros bem feito graxistas.

porque dee todo dinheiro dos Angolanos nos tugas

mayombe | 03-10-2010

ninguem respeitam O jes ninguem tem medo do jes eles sabem bem que O jes tem medo de perder O seu poder se ele näo fazer O que eles presizam é por isso os Angolanos devem lavantar contra esses Assassinos do Mpla para recuperar O nosso pais.

Palhaçada

Jurema | 03-10-2010

Não me venham dizer que o "Edu" nao sabia de nada. Sabia sim senhora, como sempre está a dar-se de "santo'.

eles nao sao burros

mickey mouse | 03-10-2010

os dirigentes do mempela sao arrogantes mas nao sao burros,eles fizeram isso com esse individuo porque sabem que ele e "so" tuga,se fosse com um americano nem lhes pasaria pela cabeca fazer uma piada dessas!!se fosse com um yankie a esta hora me nao so estaria ngongo e mello xavier em guantanamo mas tambem ja teriamos uma divisao de "marines" a perguntar aonde e que vive o zedu,esses politicos mwangoles brincam mas brincam bem...

Luanda

kinzinho | 03-10-2010

Zédu é muito chefe ate os tugas lhe temem e lhe respeitam hehe.

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