'Vitoria numa eventual guerra na Costa do Marfim não passa de ilusão' - Filomeno Manaças

'Vitoria numa eventual guerra na Costa do Marfim não passa de ilusão' - Filomeno Manaças

1. A posição adoptada por Angola para a crise pós eleitoral na Costa do Marfim, de rejeição de uma intervenção militar e procura de uma solução negociada que privilegie o diálogo, está a fazer caminho e transformou, na semana que termina, Luanda numa capital de intensa actividade diplomática. Por cá passaram o Presidente do Benin e emissário da CEDEAO (Comunidade de Desenvolvimento da África Ocidental), Thomas Yayi Boni, o representante do Secretário-Geral da ONU na região ocidental de África, Sai Djinnit, e o Primeiro-Ministro queniano, na qualidade de mediador da União Africana para a crise política naquele país. Todos eles concordaram com os pontos de vista defendidos pelo Presidente angolano e que, em tese, defende que devem ser os africanos a encontrar uma saída para o problema e que a solução deve ser pacífica e negociada.

 

A vinda a Luanda dessas personalidades atesta a justeza dos argumentos avançados pela diplomacia angolana e quem, mesmo entre nós, torceu o nariz e considerou estranho o posicionamento de Angola, está a ser obrigado a rever o raciocínio apressado feito em relação à situação na Costa do Marfim, face à evidência dos factos trazidos a público.
 
Os angolanos viveram longos anos de conflito armado e sabem o que isso representa em termos de retrocesso para o país em todos os sentidos, do ponto de vista humano e material. A ilusão de uma vitória numa eventual guerra na Costa do Marfim não passa disso mesmo. Acreditar na oferta de uma conferência de doadores para reconstruir o país também é outra ilusão. Não há conferência de doadores que compense os estragos de uma guerra, até porque os países saem sempre dela mais fragilizados. Saem as pessoas e sai o próprio Estado. A experiência mostra que uma guerra tem data para começar e não tem prazo para terminar. A guerra do Iraque começou, as forças norte-americanas e britânicas retiraram-se do território iraquiano, mas o cortejo de destruições e mortes prossegue.
 
Ao tomar a posição de apoiar uma solução pacífica e negociada, Angola lançou uma ponte para a resolução do conflito na Costa do Marfim com a visão de futuro de que África nada ganha para o seu desenvolvimento se os seus países caírem no círculo vicioso da violência cíclica. Há vários processos que os países africanos têm de levar a cabo ao mesmo tempo que não se compadecem com atitudes musculadas.
 
Os processos de criação e formação de riquezas, de consolidação dos Estados e das suas instituições, de formação e consolidação das nações, e o próprio processo de implantação da democracia pluralista requerem que os actores políticos se coloquem de acordo sobre questões básicas, sobre questões que têm a ver com a construção de uma plataforma política comum, ou, se quisermos, sobre questões nacionais que devem ser consideradas sagradas e que as divergências de ordem política não devem nunca pôr em causa.
 
Os políticos costa-marfinenses precisam com urgência de se entender neste capítulo, porque África quer contar com eles e com o seu país como parte do conjunto de Estados com estabilidade política e rumo ao progresso, capaz de mostrar ao mundo que detém a chave do seu próprio destino.
 
2. Não ousaria voltar a falar da violência doméstica neste espaço, depois de tê-lo feito na semana antepassada, não fosse a ministra Genoveva Lino ter afirmado que os crimes resultantes desse fenómeno suplantam os praticados na via pública. Um dado adicional que revela a preocupação em se legislar sobre a matéria e corrobora a afirmação do Procurador-Geral da República de que a violência doméstica, nas suas várias formas, é uma tragédia para as famílias e para o Estado.
 
Toda a abordagem à volta do fenómeno está longe de ser um exercício de dramatização. É uma questão que toca ao Estado assegurar que os direitos de personalidade sejam respeitados mesmo a partir do seio familiar e a violência doméstica é um atentado a esse princípio. Dito de outro modo, e não sendo “matérias concorrentes”, é tão importante falar deste assunto como do combate necessário ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, particularmente por parte dos jovens, que também é causa de muitos actos de violência.
 
Quer a abordagem de um como de outro assunto se encaixa perfeitamente no desígnio que é a criação de uma nova mentalidade, de uma sociedade que prima por valores de respeito pelo ser humano. Também aqui se pode falar do combate à pobreza, conceito que não se resume à criação de condições materiais e sociais para garantir ao cidadão qualidade de vida. A pobreza também hoje se pode aferir pelo estado mental e pela ausência de capital humano. Na hora da reconstrução, é importante trabalhar em todas as frentes.
 
 
Fonte: Jornal de Angola
 
 
 

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