'Só os malfeitores estão descontentes com a evacuação do Roque Santeiro', Segundo o administrador municipal do Sambizanga

José Tavares escusou-se a dizer já o que será feito do espaço do encerrado mercado, prometendo
fazê-lo apenas na próxima semana, depois de terminado o processo de transferência. Tal como ele,
outras figuras do executivo luandense recusaram-se igualmente a «abrir o jogo».
Fonte: Semanario Angolense
O administrador municipal do Sambizanga, José Tavares, o homem do Governo Provincial de Luanda mais directamente ligado ao processo de encerramento do mercado Roque Santeiro, disse, nesta quinta-feira, em conversa com o Semanário Angolense, que os vendedores e outros que se têm manifestado contra a transferência para o Panguila serão pessoas ligadas a actividades ilícitas, que vêem assim o seus negócios em perigo.
«Os descontentes são certamente pessoas que comercializavam produtos roubados do Porto de Luanda, ou vendedores que fugiam ao fisco, que se vêem assim sem margem de manobras para as suas actividades ilícitas», disse José Tavares, indiferente às reclamações de vários visados pela transferência do mercado, como se tem visto nas televisões ou ouvido em programas radiofónicos.
Os protestos têm sido veementes, mas o administrador municipal do Sambizanga insiste em como tudo tem estado a correr quase às mil maravilhas.
O edil havia garantido na quinta-feira que até no dia seguinte o processo de transferência estaria já terminado, uma vez que a aderência ao processo por parte dos vendedores cadastrados teria ultrapassado as próprias expectativas das autoridades.
Segundo ele, dos cerca de oito mil e trezentos feirantes cadastrados, mais de 90 por cento haviam sido já «acomodados» no Panguila na quinta-feira, contando concluir o processo na sexta, se bem que o encerramento oficial do considerado maior mercado a céu aberto de África se faria apenas no domingo, tal como estava previsto desde então.
Interrogado sobre um alegado défice de mais de 10 mil lugares que se registaria entre o total efectivo de feirantes do Roque Santeiro, cerca de 20 mil, segundo dados informais, e dos lugares disponíveis no Panguila, um pouco mais de oito mil, José Tavares desconsiderou a questão, ao garantir que as autoridades do mercado tinham apenas cadastrados muito menos de metade do número empolado.
O administrador municipal do Sambizanga disse também que, na eventualidade de haver algum desacerto, o pessoal que não coubesse no Panguila seria colocado em outros mercados da cidade, de acordo com o local de residência dos candidatos. «Muitos mercados municipais estão às moscas, porque muitos vendedores, mesmo tendo lá bancadas, preferem vender na rua. O mercado do São Paulo é um bom exemplo disso», disse José Tavares.
Em relação aos acessos ao Panguila, que serão a principal razão da onda de descontentamento popular face à mudança, edil disse que a partir de sexta-feira o governo central haveria de pôr já mãos à obra para resolver o problema, pelo que se esbaterá o mais rapidamente possível este quesito, que tem sido esgrimido como o argumento de base para se criticar a alegada precipitação do governo quanto ao início do encerramento do Roque Santeiro.
O administrador municipal do Sambizanga fez questão de desmentir uma notícia que fazia alusão a um acidente de viação fatal supostamente ocorrido na quarta-feira, no qual, segundo as nossas fontes, teria morrido uma vendedora do Roque Santeiro quando regressava do Panguila, onde fora levar algumas das suas «imbambas» retiradas do mercado da Boavista, numa das várias levas a que seria obrigada a fazer. O acidente teria envolvido o Hiace da candonga em que se fazia transportar e do qual haviam também resultado vários feridos. «Isto é mentira», disse categoricamente o edil.

Tal como ele, algumas outras figuras do executivo luandense recusaram-se também em falar abertamente do assunto, escudados nos mais variados pretextos.
Tal foi o caso de Hélder José, director do Instituto de Gestão Urbano do Governo Provincial de Luanda, assim uma figura da direcção provincial da Comunicação Social, que nos remeteu para o ministério do Urbanismo e Habitação, onde não conseguimos chegar á fala com quem quer que fosse. Uma das alternativas apontadas por Hélder José, o administrador José Tavares, ficou-se pela promessa de vir a fazê-lo apenas na próxima semana, tal como já o dissemos acima.
No entanto, o Semanário Angolense já fez questão de trazer alguma luz sobre o assunto em várias ocasiões. Já em Fevereiro de 2005, numa matéria sobre uma eventual «requalificação» do Bairro Operário e do Sambizanga, o jornalista Severino Carlos, citando fontes seguras, dizia o seguinte: «Como já é do domínio público, o mercado Roque Santeiro vai desaparecer já dentro em breve. Naquele espaço surgirá um lote de habitações de dois pisos que servirá para acolher, definitiva ou transitoriamente, muitas famílias que forem desalojadas no próprio Sambizanga ou no Bairro Operário».
E acrescentava: É também naquela frente marítima que se está a pensar erguer várias torres de habitação de luxo, assim como de escritórios. Um ou dois hotéis podem nascer ali. A filosofia, ao que apurou o nosso jornal, é fazer com que não haja nenhum ‘apartheid’ e (que) comunidades de baixa renda possam coabitar com as de alto rendimento».
Dizia ainda que, mais abaixo, ao longo da linha-férrea, se previa a instalação de uma área de comércio de produtos de bens perecíveis ao lado de zonas projectadas para o efeito, organizadas com água e tudo.
Com ligeiras diferenças, a mesma coisa voltou a ser dita por este jornal em ocasiões mais recente.
Isto sugere uma pergunta: há alguma dose de verdade no que já dizíamos então ou a história acabará por ser outra, bem diferente? A resposta nos será dada nos próximos dias, tal como prometeu o administrador municipal do Sambizanga. Aguardemos.
Comentario
Esses gajos sao anti-angolanos.
Sousa monteiro | 05-09-2010
A arrogancia tipica dos dirigentes do mpla-crioulos.