Líder da UNITA fala dos 35 anos de independência nacional

Líder da UNITA fala dos 35 anos de independência nacional

 

“Os erros que a história registou nos últimos 35

anos resultaram do sentimento hegemónico e da

ganância”, afirma Samakuva

 

 

A primeira reflexão que eu gostaria de fazer é sobre a conquista da nacionalidade angolana. Luta pela conquista e afirmação da nacionalidade angolana iniciou há séculos, protagonizada por Reis, Professores, Camponeses, Intelectuais e por milhares de nacionalistas resistentes.

 

A luta pela independência nacional foi uma das dimensões dessa luta maior pela nacionalidade angolana. Foi uma luta multiforme, que envolveu vários actores com destaque para os três movimentos de libertação a FNLA, o MPLA e a UNITA, dirigidos, respectivamente pelo cidadão Holden Roberto, António Agostinho Neto e Jonas Malheiro Savimbi.

Todos eles reconhecidos pelo país descolonizador como iguais legítimos representantes do povo angolano. E esses dirigentes nacionalistas subscreveram os acordos do Alvor, em Portugal, em 1975. E esses acordos estabeleceram a obrigação de se realizarem eleições gerais para uma Assembleia Constituinte, em Outubro de 1975 e estabeleceram também a data da independência de Angola em 11 de Novembro de 1975, que, segundo os referidos acordos, devia ser solenemente proclamada pelo presidente da república portuguesa, enquanto representante do país descolonizador. Infelizmente, nem as eleições foram realizadas, nem a independência foi proclamada pelo presidente da república portuguesa, na presença dos legítimos representantes do povo angolano que subscreveram os acordo no Alvor.

 

Angola nasceu assim como país independente, mas os seus filhos não foram todos reconhecidos como cidadãos iguais no Estado-nação proclamado pelo Dr. Agostinho Neto. Alguns deles, refiro-me a alguns dos angolanos, afirmaram-se como únicos e legítimos representantes de todo o povo angolano e com direito exclusivo de dirigir o estado e a sociedade angolana.

 

Esse desejo forte de hegemonia, afinal, esteve sempre na génese de alguns angolanos e foi o que levou Angola a nascer sob o signo de Partido Único ou Partido-Estado que não reconhece o direito de todos à igualdade. Foi também esse desejo hegemónico que aliado ao sentimento de superioridade cultural levou alguns angolanos a concertar com certas forças estrangeiras a exclusão dos outros angolanos, para conquistar o poder pela força das armas e proclamar, sem mandato de todo o povo, a República Popular de Angola.

 

Esta, na minha maneira de ver, foi a raiz do conflito que não ter permitido por longos anos a partilha igual do usufruto e dos benefícios da nacionalidade angolana.

 

Olhando, entretanto, para a história constatamos que em determinada altura, o presidente António agostinho Neto terá percebido a real dimensão deste desastre nacional, terá percebido também que o caminho de hegemonia de uma classe social e de uma facção politica não promovia a paz, nem a unidade nacional.

 

Fez, então diligências para a paz, para a inclusão, tanto com a FNLA como com a UNITA. Os contactos com a FNLA não pareceram genuínos, porque verificou apenas a cooptação e acomodação de alguns dos seus dirigentes, enquanto o povo que a FNLA representava continuou excluído dos benefícios da cidadania e da independência. Os contactos com o Dr. Savimbi pareciam estar bem encaminhados, mas de repente Angola e o mundo foram surpreendidos com a morte do Dr. Agostinho Neto, em Setembro de 1979.

 

A partir daí revitalizou-se o sentimento hegemónico, aumentou a opressão e acentuou-se a exclusão. Em consequência disso, agudizou-se também a expressão militar do conflito politico.

 

A segunda reflexão que eu gostaria de fazer é que também a partir de um determinado momento deixou de haver Angola no coração, para se criar o hábito de guardar Angola nos bolsos.

 

O tempo revelou que o alinhamento com ideias socialistas foi apenas táctico e não ideológico. No espaço de pouco mais de uma década, as mesmas pessoas foram marxistas-leninistas, liberais, socialistas e capitalistas.


De trabalhadores passaram rapidamente para patrões;
De defensores da terra do povo para expropriadores da terra do povo;
De protectores das classes mais exploradas para opressores das classes exploradas;
De proletários passaram para latifundiários, sem títulos legítimos e accionistas sem capitais próprios;

Ao invés de terem Angola no coração passaram a ter Angola nos bolsos;

 

Este é o país que temos.

 

Não é, certamente o país que Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi tinham em mente quando assinaram os acordos de Alvor com o governo português.

 

Mesmo perante as divergências ideológicas de então, o patriotismo que os levou a lutar por Angola nunca lhes permitiu roubar Angola. Não há registos de facto de que algum deles tenha acumulado fortunas para si ou para os seus filhos. Todos eles defendiam que o crescimento económico traduz-se na redução das desigualdades e na erradicação da pobreza e não no aprofundamento do foço entre o ricos e pobres.

 

Prezados companheiros,

 

Se olharmos para a história nós teremos muita coisa a dizer e vão nos acusar uns aos outros. Quando num dia como este dissemos devíamos reflectir profundamente sobre o nosso futuro.

 

A tocha da paz só pode ser sustentada pelo regime democrático. Não uma democracia tutelada e incompleta, mas uma democracia vibrante, comprometida com a competição real que não faz planos supérfluos para atentar contra a vida dos opositores políticos, nem utiliza os serviços de segurança do Estado para atentar contra o Estado Democrático de direito e seus fundamentos.

 

As reflexões sobre o país que buscamos, têm de assentar em verdades históricas que importa analisar com profundidade para entendermos os fenómenos políticos de hoje e perspectivarmos o futuro.

 

O que eu gostaria de dizer aqui e agora é que para este futuro nós somos os actores. Nós somos os construtores da nacionalidade angolana, da independência e da democracia. Somos nós mesmos os construtores do nosso futuro, os construtores do país que buscamos.

 

Os erros que a história registou nos últimos 35 anos resultaram de questões bem identificadas das quais o sentimento hegemónico e a ganância são apenas alguns exemplos.

 

Os sucessos dos próximos 35 anos serão o resultado da nossa visão, da nossa coragem e da nossa determinação para agir.

 

Temos de consolidar o que funciona bem e mudar o que precisa de ser mudado. O futuro, costumámos dizer, pertence-nos, mas para que isso se torne realidade temos de estar prontos para enfrentarmos os sacrifícios necessários, para garantir que os angolanos, sobretudo os mais sofridos, não tenham só independência mas tenham também a democracia e a cidadania económica.

 

É neste quadro que a III reunião da Comissão Política realizada há pouco mais de um mês recomendou o secretário provincial de Luanda a tomar medidas no sentido de assegurar o enquadramento, potenciação e pleno aproveitamento dos membros da Comissão Política no quadro das actividades politicas dos órgãos deliberativos e executivos da província.

 

Além de enquadrar os primeiros, Luanda deverá conquistar cada vez mais novos valores, transformá-los em quadros políticos e estimular a sua participação activa na materialização do programa do partido. As estruturas do partido em Luanda, têm de dar passos concretos para responder a demanda da sociedade e ocupar o espaço político que a sociedade pretende que a UNITA ocupe. Temos por isso de aperfeiçoar permanentemente a organização e adaptarmos a mensagem aos anseios e aspirações do eleitorado. Temos de preparar as estratégias que o futuro ameaçado de Angola recomenda.

 

É com propósito de materializar as orientações da Comissão Política que o Senhor Secretário provincial de Luanda convocou esta reunião de militantes. Ele será presidente da reunião e de toda as actividades que a UNITA levará acabo aqui na província de Luanda.

 

A partir de hoje todos os dirigentes residentes em Luanda deverão estar enquadrados nas estruturas de base e colocar-se à disposição do Secretariado provincial, para o desenvolvimento da actividade política multiforme na capital.

 

A construção do país que buscamos impõe-nos novos desafios. Impõe-nos estes desafios. Para vence-los precisamos de todos uma nova cultura, uma nova atitude e novas estratégias.

 

Desejo a todos bom trabalho e muito obrigado pela vossa atenção.

 

 

 

Fonte: UNITA

 

 

 

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