Opinião: Paradigmas E Status Quo Em Angola (1975 -2010) - Constantino Zeferino

Opinião: Paradigmas E Status Quo Em Angola (1975 -2010) - Constantino Zeferino

 Luanda - Creio que, pela sua amplitude, este tema não se esgota num simples artigo de opinião. Na verdade, uma reflexão acerca dos “Paradigmas e do Status quo em Angola” ultrapassa os estreitos parâmetros de uma crónica, entra, inclusivamente, em campos como a investigação científica para o desenvolvimento, ou nas opções dos sucessivos governos do MPLA para o período em análise.

 
É claro que, de um modo ou do outro, afigura-se oportuno tratar esta matéria dentro do valor simbólico que representa para a actualidade. Isto porque se vislumbra no horizonte uma catástrofe social que ao desvalorizar a educação irá condena, irremediavelmente, todo o desenvolvimento económico e social do país, comprometendo assim o futuro do país.
 
 
Parafraseando Max Scheler, citado por SANTOS, José Domingos Cassanji (2009) “Numa história de mais de dez mil anos nós estamos na primeira época em que o homem se tornou para si mesmo universal e radicalmente problemático; o homem não sabe quem ele é dá-se conta de não sabê-lo cada vez mais”.
 
 
Assim, os líderes deste povo, devem ser capazes de olhar para si mesmos, identificar as suas fraquezas, trabalhar no sentido de corrigi-las, e melhor o seu desempenho.
 
 
Com efeito, muitos dos actuais problemas de desenvolvimento social, económico e político da sociedade angolana têm sido referidos como sendo “legados do colonialismo português”. A remissão dos factores de explicação dos constrangimentos da sociedade angolana para o período da colonização, tem servido sobremaneira para desresponsabilizar as elites angolanas e/ou minimizar o seu papel no surgimento e/ou na agudização de muitas das situações de pobreza e de instabilidade política que se seguiu à conquista da independência nacional.
 
 
Outrossim, a verificação empírica de que o modo de colonização portuguesa no litoral e hinterland, não foi uniforme nem simultâneo, tem sido uma das condições de pertinência das análises que exploram as rupturas e as continuidades dos modelos históricos de colonização em Angola.
 
 
Debruçarmo-nos sobre os legados do colonialismo em Angola, pressupõe antes levantar seguintes questões: Que tipos de rupturas e/ou continuidades históricas é possível encontrar nas formas de articulação das actuais elites do poder com a problemática das identidades étnicas, raciais, regionais, religiosas e políticas do país?
 
 
Até que ponto a “herança colonial” pode ou não explicar alguns dos problemas de gestão política, económica e social que vêem assolando este país desde a independência? Que segmentos sociais concretos são elementos do colonialismo português que a “descolonização” não erradicou ou não poderia ter erradicado?
 
 
Estes, são fenómenos de múltiplas causalidades e difíceis de estabelecer, sem correr o risco de cair em lógicas lineares, que não conseguem apreender a complexidade de semelhantes processos.
 
 
Na verdade, lidar analiticamente com as consequências da colonização na actualidade significa avaliar processos históricos, políticos, económicos e sociais e culturais de extrema complexidade. Por outro lado, a (re) construção da angolanidade uma categoria, cuja história remonta à década de 60 do século XX. Foi a partir dessa época que a actividade literária dos angolanos de todos os quadrantes impôs a intervenção de um discurso crítico e legitimador, reivindicando a independência nacional para todos.
 
 
Com efeito, a volta do tema da angolanidade, já em 1960, se lamentava o risco da assimilação e da desreferênciação dos intelectuais angolanos que “perturbados pelo processo de coisificação, se esqueceram por muito tempo que existia a civilização africana. Aceitaram a ideia de “coisas sem importância” para as culturas negras (…) não se voltaram para o lado mais importante da questão: para as tradições dos seus povos, para as suas línguas que não sabiam e/ou não sabem falar, para a filosofia, para a religião.”[1]
 
 
Em Angola, ainda hoje, infelizmente, insiste-se muito na prática da inviabilização dos saberes africanos e/ou da sabedoria perene dos povos autóctones do país. A psicologia, a lógica, a linguagem, a metafísica dos povos de Angola não são tidas pelas elites no período pós-independência.
 
 
Nesta perspectiva, nos parece ser mister dizer que uma sociedade não se avalia pelo seu valor geográfico, mas sobretudo pelos saberes e pelo seu capital humano oral ou gráfico desde as origens até à eternidade. Doutro modo, qual seria o significado da palavra independência nacional para os angolanos? Qual é o nosso destino?
 
 
Infelizmente, Angola de hoje, mergulhou numa crise de valores sem paralelo. Precisamos de examinar a história e estabelecer para Angola um paradigma de desenvolvimento estratégico que permita responder aos seguintes propósitos: “Porque estamos na situação presente?”; “Como atingiremos os objectivos primários da independência nacional?”; “Qual é a nossa visão e filosofia básica de vida”?». É igualmente importante e urgente que as elites angolanas se debrucem e se faça uma avaliação sobre a cultural, o ambiente, as necessidades internas e externas das comunidades e definir parcerias e alianças estratégicas que não hipotequem Angola, único nosso património comum.
 
 
O insucesso de Angola deve-se em grande parte aos modelos de desenvolvimento social em vigor desde 1975. O País carece:
·        De uma elite e/ou de uma liderança que denota profunda convicção, entrega e dedicação total à causa maior de todos os angolanos.
·        De uma liderança dinâmica e comprometida com a cultura e o modus vivendi das populações
·        De uma elite disposta a pagar o preço que for pela realização dos valores da Democracia.
·        De uma liderança sensível que tem um coração de servo, e lidera não para seu próprio beneficio, mas para o enriquecimento e bem-estar dos liderados
·        De uma liderança voltada para as pessoas, que procura fazer outros líderes, trazendo à tona todo o seu potencial e transformando-o em força dinâmica.
 
 
 Enfim, a sociedade angolana precisa de líderes de carácter, mas infelizmente a nossa sociedade corrupta não tem produzido líderes íntegros.
 
 
A mudança de paradigmas e a inovação sistemática, contínua, capaz de congregar sinergias e libertar o “velho” não são ameaça, mas uma oportunidade para fazer o que é certo e manter o rumo da sociedade para o trilho certo. Pensar em termos de “nós” em vez de “eu”, é uma prática e modo de saber fazer, saber estar e saber ser que dignifica e edifica e fortalece a liderança, honra o país e a História Gloriosa de Angola. Por isso,S sempre vale a pena tentar a alternância e a mudança de paradigmas.
 
 
Parafraseando WOODBERRY[2], George E. (1994, p.325), “A derrota não é o pior dos fracassos. Não ter tentado constitui o verdadeiro fracasso”.
 
Em síntese, podemos concluir que parte dos problemas com que Angola e a sociedade enfrentam têm como causa principal, os paradigmas de desenvolvimento que têm sido impostos e estes são a justificação do actual estado de coisas (status quo)!
  
                             
Fontes de pesquisa:
[1] Cf. Sá, Ana Lopes de (2003); “A (re)construção da Angolanidade em UANHENGA  XITU”.
[2] In Revista, Leadership Training Ministry or Goldore Consulting Inc. Linden, Alberta, Canada, 1994.
 

Comentario

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Porque prefiro a Unita? | 01-09-2010

Prefiro a unita por ser o unico partido que realmente valoriza a angolanidade e africanidade.Com o mpla estamos vendidos, ate nem terra temos mais.Ser negro debaixo do governo do mpla é duro,salvem-nos unitas.
Meu voto é vosso.

grande texto sim senhor!

joao paulo | 27-08-2010

Estou muito agradecido por ter encontrado e lido esse magnifico texto do nosso compatriota zeferino,no meio de tanta asneira que ja li esse texto sente se como uma brisa de ar fresco num dia de verao,em Angola realmente estamos a atravessar uma crise de identidade inesplicavel,podemos da a desculpa dos 500 anos de colonialismo mas isso nao explica o nosso mau gosto de nos agarrar a todo tipo de porcaria que vem de fora,de queremos imitar as atitudes dos gangsters americanos(ate velhos imitam isso!)e brasileirisses das novelas de baixo gosto...bem,eu tambem imito algumas coisas dessas mas prontos....

viva os autoctenes angolanos.

Mwana pwo | 26-08-2010

esse artigo so entendera e tocará na alma dos verdadeiros povos autoctenes angolanos.mestre zeferino continua a educar-nos para formatarmos as nossas mentalidades, voces sao intelectuais precisamos de ideologos como voces para formarem a mente da nova geraçao que anda perdida no complexo de inferioridade e na rejeiçao dos seus valores culturais e da sua propia raça.

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