Murro na mesa de JES estilhaça a loiça toda

Murro na mesa de JES  estilhaça a loiça toda

Bum!!! Foi assim, como um verdadeiro murro na mesa, o efeito das declarações do Presi­dente da República, José Eduardo dos Santos, sobre a crise na Costa do Marfim, proferidas durante a cerimónia da apresentação de cumprimentos de fim de ano do corpo diplomático acreditado em Angola. 

 

As suas declarações desagra­daram a todo o mundo, na ver­dadeira acepção da palavra. Mas, os mais chocados terão sido cer­tamente os diferentes Chefes de Estado africanos e de outros con­tinentes que já tinham condena­do decididamente Laurent Gbag­bo, depois deste ter-se recusado a aceitar os resultados eleitorais do escrutínio de Novembro de 2010, reconhecido pelos observadores internacionais no terreno e pelas próprias Nações Unidas, como tendo sido ganho por Alassane Ouattara. Os países da Comuni­dades de Países da África Ociden­tal (CEDEAO, sigla em francês) chegaram mesmo a ameaçar o uso da força para apear Gbagbo do poder. Ouattara, entretanto, mantém-se cercado no Golf Ho­tel, quartel-general das Forças das Nações Unidas que o protegem. 
 
Tanto no continente negro como fora, intelectuais, académi­cos, pólos especialistas em rela­ções internacionais e certamente nas várias chancelarias mundiais, a pergunta a responder será dos porquês que levaram o estadista angolano – que até é conhecido pela sua economia de palavras que raiam a sisudez – a alongar-se tanto na exposição de uma posi­ção a todos os títulos ingrata. In­grata porque quase toda a gente acha que Gbagbo deve mesmo entregar o poder a Ouattara; in­grata porque os estados vizinhos da Costa do Marfim foram os primeiros a reconhecer a vitória deste; mas, mais ingrata ainda porque a posição angolana colide frontalmente com a das Nações Unidas, ao seu mais alto nível.
 
E ingratíssima porque o Presidente dos Santos expõe-se e expõe na arena internacional uma das suas poucas vulnerabilidades políti­cas: o facto de, apesar de ser um dos Chefes de Estado mais pode­rosos de África, por uma razão ou por outra ainda nunca ter sido inequivocamente sancionado pelo voto popular no seu já muito longo consulado. 
 
Que razões – de Estado e/ou pessoais – levariam Eduardo dos Santos a expor-se até este ponto, e tão ao longe da discrição que lhe é habitual? 
A primeira motivação – pes­soal com laivos de Estado – pode ter a ver com a tendência para a «vingança de chinês» que carac­teriza o presidente angolano. É que, enquanto Alassana Ouattara como Primeiro Ministro de Hou­phuêt-Boigny dava todo e mais algum apoio à guerrilha da UNI­TA, Laurent Gbagbo como Presi­dente da República desmantelou os lobbies que a então rebelião armada angolana possuía naquele país.
 
Laurent Gbagbo não só reti­rou o apoio político, diplomático e logístico-militar ao Galo Ne­gro, como abriu completamente as portas às operações da secreta angolana, ao ponto de a Costa do Marfim deixar de ser porto segu­ro aos homens de Jonas Savimbi. Antes pelo contrário, corriam mesmo o risco de serem raptados e trazidos à força para Luanda. 
 
Laurent Gbagbo não terá feito isso sem nada em troca. Alguma coisa José Eduardo dos Santos ter-lhe-á prometido. E esta pode ser a altura em que aquele cobrou os favores que lhe eram devidos pelo estadista angolano. 
 
Boas graças 
 
Poucos países em África estão em melhor posição que Angola para iniciar uma pressão contrá­ria que possibilite a Gbagbo ao menos um acordo de partilha de poder. Possuidora de um exército numeroso, disciplinado e aguerri­do, Angola goza das boas graças da comunidade internacional por ter acabado com o seu conflito interno sem fazer os países doa­dores abrirem mais os cordões à bolsa. Sendo um país de riquezas naturais até dizer chega, é dona de um percurso político que corre o risco de fazer escola, caso seja replicado em mais um ou dois pa­íses. O partido no poder e o seu presidente não receiam pressões internas que possam condicio­nar os seus posicionamentos na política externa, nem receiam as eleições que se avizinham, pois a sua vitória não está em questão, tão forte é o domínio que detêm sobre as várias forças do país. 
 
Dali que a mensagem de Edu­ardo dos Santos tenha sido enten­dida como um «vejam lá; se vocês atacarem a Costa do Marfim, eu posso mandar a minha tropa lá». Ora, uma coisa é marchar contra os mal-pagos soldados de Gba­gbo. Outra é fazê-lo contra um dos mais aguerridos exércitos do continente, apoiado num manan­cial de riquezas que poucos paí­ses têm. Isso sem contar com os «fregueses» de Angola que, num ápice, vêm ao corrupio dizer ao «irmão mais velho» que afinal ele tem razão… 
 
Outra razão de Estado pode ter a ver com a escola de resolução de conflitos que Angola ambicio­na impor em África. Para o bem ou para o mal, Angola resolveu o seu conflito sozinha, depois de anos a dançar a música da co­munidade internacional. Mal ou bem, desarmou e desmobilizou as tropas rebeldes, enquadrou-as na sociedade, e iniciou um processo de recuperação económica con­siderado pelos organismos espe­cializados como dos mais altos do Mundo nos últimos anos. Man­tém a estabilidade política sem banhos de sangue nem tensões étnicas ou religiosas. A elite go­vernante mantém-se no poder e a oposição desenvolve o seu papel com maiores ou menores dificul­dades. Angola quererá vender – e já o tem feito – a sua receita aos outros países africanos que certa­mente estudam o «caso Angola» para ver até que ponto pode ser enquadrado nos seus «cantões». 
 
Ensaio 
 
Assim, o gesto de JES pode ser um ensaio para ver até que ponto Angola pode não mudar, mas sim influenciar a agenda e os dossiers quentes do continente (um fac­tor a ter em linha de conta para um país que aspira um assento permanente no Conselho de Se­gurança das Nações Unidas em representação de África). Ou An­gola consegue que a comunidade internacional reveja a sua posição em relação a Laurent Gbagbo e fica com o ónus disso, ou não con­segue nada e fica tudo na mesma. Não perde nada importante e terá cumprido a promessa de ajudar o «amigo Gbagbo». 
Outra questão – subjacente no próprio discurso de JES – tem a ver com a imposição dos dogmas da democracia liberal que o Oci­dente vem impondo aos outros países do Mundo. Esses dogmas prescrevem que a legitimidade para governar só vem do voto po­pular, sancionando mandatos por tempo determinado. Todos sabe­mos que não é assim que as coisas se processam na cabeça dos afri­canos, para quem a legitimidade é gerantocrácica (tem a ver com a idade, o tal conceito do mais-ve­lho) e por tempo indeterminado (mais ou menos enquanto tiver lucidez para governar). 
 
Irreverentes como são, e um pouco ingenuamente devido à sua ausência nos grandes debates da intelectualidade africana por não estarem nem no espaço anglófo­no nem francófono, os angolanos podem sentir-se tentados a desafiar estes dogmas impos­tos pelo Ocidente, em troca de algo «mais intramuros». Ali­ás, a referência a «soluções de fora» do discurso de JES pare­ce apontar para essa direcção. Mas será que os africanos têm já estruturado um modelo al­ternativo à democracia libe­ral? E se já tiverem feito esse trabalho de casa – duvido que o tenham –, terão coragem e coerência para defender o seu paradigma? Não me parece. 
 
O artigo do Prof. Wilcott que o SA traz nesta edição prova em parte como os pró­prios africanos estão perdidos quanto a um paradigma que se coadune com as suas idios­sincrasias e à necessidade de assumirem uma identidade própria. 
 
Sejam quais forem as ra­zões que os terão levado a isso, a verdade é que Angola e Dos Santos compraram um «bilo» com a União Africana, a União Europeia, a Organi­zação das Nações Unidas e a CEDEAO. Estes foram tão longe nas suas condenações e sanções que o melhor que An­gola pode esperar é um recuo que permita a Gbagbo escapar com a sua liberdade intacta – até isso está em risco, senão mesmo a própria vida. 
Não parece que Angola consiga mesmo um «Gurn» tipo do Quénia ou do Zim­babwé. As super-potências não deixarão certamente que o desrespeito aos resultados eleitorais virem moda em África, pois isso desafiaria os fundamentos sobre os quais estão assentes enquanto Esta­dos.
Coelho da cartola 
 
Mas não seria a primeira vez que Eduardo dos Santos tira um coelho da cartola. Tudo, entretanto, passará na sua presença ou não na cimei­ra convocada para debater o assunto no mesmo dia que o leitor tem este exemplar nas mãos. Hoje, Quinta-feira, dia em que a redacção fecha, não havia sinais que JES se fizes­se presente. O facto de ser Manuel Augusto a preparar a cimeira indica o envio de Ge­orge Chicoty a representá-lo. Caso assim seja, será porque o próprio JES acha que já alcan­çou tudo o que poderia even­tualmente obter neste imbró­glio, que seria o abandono da opção militar e a partida para a via negocial, e não quer per­der mais tempo com isso. 
 
O que ninguém dirá é que não tentou «safar» o «amigo Gbagbo». Amigos assim quem não quer ter?
 
 
Fonte: SA
 
 

Comentario

Hino nacional da Angola

Minu | 26-02-2011

Hino da Angola
O Pátria (ANGOLA), nunca mais esqueceremos
Os heróis do quatro de Fevereio.
O Pátria, nós saudamos os teus filhos
Tombados pela nossa Independência.
Honramos o passado e a nossa História,( HONRA? Ainda. Os mortos sao banalizados e os poucos sobreviventes de 4 de fevereiro nem casa teem banalizados e jogados a sua sorte. Como?....
Construindo no Trabalho o Homem novo,(como? Se não ha, escolas nem hospitais, eles dirigentes, PR, ministros... ficam doentes dor de dente sao tratados fora, na espanha, inglaterra, suiça.... e os filhos deles estudam nos melhores colegios ca e fora? Estes sao Angolanos e NÓS nao somos...?
Angola, avante!
Revolução, pelo Poder Popular! ( ainda singular, um so candidato JES 30 anos Presidente)
Pátria Unida, Liberdade,
Um só povo, uma só Nação!
Angola, avante!
Revolução!
Pátria Unida, Liberdade,( Liberdade, tambem longe de ser verdade, manifestações civis pacificas sao banadas com as armas de fogo, jornalista, politico que fala a verdade é assassinado
Um só povo, uma só Nação!
É chegada a hora pra o ANGOLANO reclamar a Independencia Total e a paz verdadeira. Boa letra e boa inspiração longe da realidade dos ANGOLANOS. Cantem, leem e analize o nosso belo hino nacional e A vitoria ainda não é ainda certa

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